Fale comigo: Um bem-vindo refresco para o seu gênero

A irreverência da A24 e a nova abordagem do Subgênero

Pôster Fale Comigo

A A24 já alcunha a fama de surpreender o espectador com seus filmes irreverentes e fora da caixinha. E não é diferente com Fale Comigo. O mais novo lançamento da produtora é também o primeiro longa dos irmãos Danny Philippou e Michael Philippou, conhecidos pelo canal do Youtube RackaRacka. E que ventos bons esses estreantes trazem.

Falar com os mortos não é uma premissa nova e certamente não é tão empolgante desde 1999, com O Sexto Sentido. E calma que isso não é desmerecer excelentes obras que vieram depois. Mas o que o roteiro de Danny Philippou faz com o subgênero subverte nossas expectativas e entrega excelentes 94 min com poucos clichês e muita sensação de a qualquer momento, algo vai dar muito errado.

Fale Comigo subverte expectativas ao lidar com o sobrenatural

Em Fale Comigo, acompanhamos um grupo de amigos que encontram uma estranha mão embalsamada, de um suposto vidente, que permite que eles invoquem espíritos. E o engraçado é que, quando esperamos que os protagonistas vão se sentir amedrontados por conta desse contato com a morte, acontece exatamente o oposto. Foi então que senti que o filme tinha mais a mostrar que um simples clichê.

Grupo de amigos filmando algo

Para os que procuram jump scares gratuitos e pouco producentes em relação à trama, vai encontrar um crescendo de tensão e horror pelo que está oculto nas sombras, e que nem sempre quer ser visto. Definitivamente vai encontrar resistência entre aqueles que estão atrás de um terror escapista, que provoque gritos sequenciados de risadinhas. Mas serão os espectadores de olhar atento que se beneficiarão com os diálogos ágeis, o subtexto e o terror do desconhecido.

Fale Comigo constrói tensão, horror e nos faz refletir sobre saúde mental e o Desconhecido

O longa começa com um acontecimento chocante. Mas ao invés das pessoas ligarem para a polícia, pegam seus celulares para gravar o ocorrido. Quase como uma metáfora para a forma como tendemos a minimizar, ou menosprezar, um problema quando ele é filtrado pela lente de uma câmera. É a geração de memes, independente da gravidade da situação.

E já dentro dessa minimização da importância, a trend da moda se torna justamente conjurar espíritos nas festas locais. Mia, vivida pela também estreante Sophie Wilde, está às vésperas do aniversário de morte da mãe. E, em um misto de querer uma distração, se enturmar e chamar atenção de um antigo crush e atual namorado da melhor amiga, ela decide participar do ritual e tirar a prova de que a trend se trata, ou não, de uma farsa.

Fale Comigo: Mia de mãos dadas com a mão embalsamada

A Dualidade entre a curiosidade e a ignorância

No filme, traçamos um paralelo claro entre o uso de drogas, principalmente entre os jovens, e o efeito que o toque naquela mão embalsamada causa em cada um deles. Independente dos motivos que levem alguém a usá-la, seja luto, depressão, ansiedade ou apenas para ser aceito em determinado grupo, uma hora a vida cobra o preço. Seja com sua sanidade, ou a própria morte. Nesse caso, o conhecimento é uma droga. Quanto mais se prova dele, mais se quer. Mais se busca pelo momento em que ele irá saciar. Mas nem todas as coisas devem ser conhecidas ou saciadas. E de vez em quando, a ignorância pode mesmo ser uma benção.

O processo de luto é um peso que se comporta de diferentes formas em cada indivíduo. Para Mia, ainda havia uma história não resolvida, um mistério envolvendo a partida prematura de sua mãe e ainda uma relação conturbada com o pai. Ao gostar da experiência oferecida pelo sobrenatural, Mia finalmente consegue se distrair daquele fardo. E é aqui o ponto de virada. Porque, diferentemente do grupo de jovens, a protagonista tem uma relação não resolvida e não amistosa com a morte. Qualquer bom entendedor, sabe que isso é a receita para o caos. Afinal, foi também desde 1999 que falar com os mortos não termina bem.

Mia de mãos dadas com a mão

A Jornada da Fragilidade Humana e o Desconhecido

A Saúde Mental vem sendo utilizada no terror como uma grande alegoria, já há um bom tempo. E aqui temos uma protagonista fragilizada com o luto, em processo de depressão e tendo que enfrentar os próprios demônios. O que é real e o que é apenas fruto do seu subconsciente, criando narrativas para que a queda não seja tão dura? E é aqui que o filme tem seu ponto alto. Daqui em diante, pouco do que você prever se concretizará. Os rumos que as sequências de acontecimentos tomam é chocante, e possuem uma pitada, na medida certa, de gore.

Fale Comigo se destaca por sua exploração perspicaz do sobrenatural como uma alegoria para a fragilidade humana. Ele desafia as expectativas do gênero de terror, surpreendendo os espectadores com pontos de virada fortes e momentos de tensão. Fale Comigo certamente estará na minha lista de melhores do ano. Vale muito o ingresso.

Fale Comigo está em cartaz somente nos cinemas

Posts Relacionados:

Besouro Azul: Uma Jornada Carismática e Confortavelmente Familiar

Gran Turismo faz bom uso dos clichês do cinema e dos games

Megatubarão 2: ação cômica com potencial desperdiçado

Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais:

Instagram YouTube Facebook

Nerd: Tamyris Farias

Designer e produtora de conteúdo apaixonada por cinema e cultura pop. Amante de terror e ficção científica, seja em jogos, séries ou filmes. Mas também não recuso um dorama bem meloso.

Share This Post On