Não é novidade que os jogos eletrônicos vêm movimentando milhões – tanto em pessoas como em dinheiro. Esse movimento todo vem como mero entretenimento (as famosas streams acumulam milhares de espetadores com jogos como LoL, Dota 2 e Fortnite), bem como transmissões e torneios competitivos.
Os eSports são uma realidade hoje em dia, e muito concreta. Atualmente, o cenário está em amplo crescimento, tanto em renda como em número de pessoas, que assistem e consomem essa mídia, muito por conta, é claro, do mobile. Por conta disso, iniciou-se uma discussão para incluir os jogos eletrônicos como uma modalidade esportiva olímpica, haja vista que a popularidade do evento vem caindo a cada edição “Temos de avaliar a possibilidade porque não podemos dizer que não nos diz respeito ou que não tem nada a ver com as Olimpíadas […] Os jovens se interessam pelos e-sports e coisas do gênero…” disse Tony Estanguet, do comitê de candidaturas de Paris, país onde será sediada a olimpíada de 2024.
Essas palavras foram ditas à imprensa após Estanguet e sua comissão se encontrar com o COI (Comitê Olímpico Internacional) para discutir a situação. Tudo parecia correr bem até a declaração do presidente do COI, Thomas Bach, semanas atrás (ative as legendas):
Em suma, o presidente do COI disse que a violência contida nesses jogos são contraditórios aos valores que pregam as Olimpíadas, “Não podemos ter no programa olímpico um jogo que promova violência ou discriminação […] Os chamados jogos assassinos. Eles, do nosso ponto de vista, são contraditórios aos valores olímpicos e, portanto, não podem ser aceitos.”. Neste momento, você deve estar se perguntando “ok, mas, os esportes mais de contato das Olimpíadas, como boxe, taekwondo e esgrima não são modalidades de combate com a essência da violência?”, e sim, você está extremamente certo, mas Bach, tem uma resposta na ponta da língua pra você, otário: “É claro que todo esporte de combate tem suas origens em uma luta real entre as pessoas. Mas o esporte é a expressão civilizada sobre isso. Se você tem ‘egames’ para matar alguém, isso não pode ser alinhado com nossos valores olímpicos”.
Violentos demais
A declaração de Bach faz algum sentido, se formos pensar de uma maneira rasa. Claro, que os eSports (os mais relevantes atualmente) se usam de ferramentas violentas, mas, se analisarmos, algumas modalidades dos jogos olímpicos também. O que precisa ser analisado é o objetivo final. Nos MOBAS, o objetivo central não é apenas “matar” os outros jogadores, essa é apenas uma das maneiras de cumprir com seu objetivo – destruir a base inimiga – e vencer o jogo. Nos FPS, em grande parte, é algo parecido. Claro que neutralizar a equipe inimiga também é uma das maneiras de conseguir a vitória, mas, existem outros modos – desarmar uma bomba, conquistar um ponto, resgatar um refém, escoltar uma carga e etc. Além disso, temos outros jogos despontando no cenário com um viés bem pouco (ou nenhum) de violência, como Hearthstone ou Gwent, que são jogos de cartas e estratégia. A questão ainda não é a violência, e sim, o velho discurso do preconceito. Hoje o cenário dos games é um dos que mais cresce, e os eSports são um dos pilares, agregando fãs de todos os tipos. Os meios mais tradicionais ainda não sabem lidar com todo esse crescimento e por conta disso, do medo, tentam podar a todo custo esse crescimento. Mas a pergunta que fica, os games realmente precisam entrar para o clubinho dos jogos olímpicos? Ou os jogos olímpicos que precisam dos games? Fica aí o questionamento.