Encarcerados: Seja bem vindo a Furnace

Sob o céu fica o inferno, garotos, e, sob o inferno, Furnace. Espero que desfrutem da permanência aqui. (pág 66).

É necessária a leitura de poucas páginas até que Alex seja pego, acusado de assassinar seu melhor amigo, Toby. Aos 14 anos ele é um jovem infrator, que há dois anos vem invadindo casas e cometendo furtos. Ou era nisso que as pessoas acreditavam, até que os guardas de Furnace – penitenciária de segurança máxima para jovens como Alex -, por motivos desconhecidos, armaram para ele e fizeram com que fosse responsabilizado e condenado a permanecer na prisão pelo resto de seus dias, por um crime que não cometeu.

Construída há quilômetros abaixo da terra, a Penitenciária de Furnace foi projetada, após o fatídico dia  em que as gangues saíram às ruas matando por diversão, para aprisionar menores de idade acusados de assassinato. Sua construção representa as consequências causadas pelos acontecimentos daquele dia, e uma sociedade que não mais se responsabiliza, ou perdoa, os atos de suas crianças. Um lugar, que esconde segredos e criaturas inimagináveis, aonde são colocadas e deixadas para morrer, e de onde dizem ser impossível escapar.

Encarcerados

Em curtos capítulo – que mal executados poderiam ter prejudicado o decorrer da narrativa, dando a impressão de interrompê-la de forma abrupta -, a história de Alex Sawyer é contada a partir do dia em que foi incriminado e cresce gradativamente. Ela apresenta aos poucos a vida do protagonista e os eventos que o levaram a ser encarcerado, o que cria uma tensão que suga o leitor para dentro da trama e faz com que ele se aproxime mais da narrativa, transforme os acontecimentos e sentimentos despertados durante a leitura, em algo mais pessoal.

Como exemplo disso, presente a todo momento no desenvolver do livro, está a questão da presença de ar na prisão. Desde o início, por conta de sua localização e das precauções tomadas para a prevenção de fugas, os prisioneiros sofrem com sua rarefação , o que torna difícil respirar normalmente, em um primeiro momento. A sensação de asfixia e o desespero recorrente de se estar cercado por toneladas de terra, por todos os lados, alcança o leitor através de cada palavra, linha e página.

Acompanha-se a angustia de não se saber nada sobre aquele lugar: quem são os guardas; os mascarados; o diretor; aquelas criaturas que se parecem com cães, mas possuem o dobro de seus tamanhos e músculos expostos por todo o corpo; o que acontece com os prisioneiros que são tirados durante a noite de suas celas, e outros horrores que podem estar a espreita entre as paredes daquele lugar. Mas acima de tudo, a desesperança que cresce a cada minuto e a cada pensamento sombrio.

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 […]. Não cometam o erro de trazer o coração aqui para baixo; não há lugar para ele em Furnace. (pág 79).

Furnace quebra as pessoas, tortura física e psicologicamente seus prisioneiros, até descaracterizá-los. Rouba deles a esperança, a alegria e a vontade de viver, fazendo com que aceitem o destino que lhes foi imposto e acreditem merecê-lo. E no entanto, são esses aspectos que tornam cada ínfimo vislumbre de esperança, algo especial.

“Encarcerados” é uma obra ficcional cheia de suspense e terror, com uma grande crítica social. Um livro forte, onde se faz necessária a reflexão e que precisa ser lido cuidadosamente, durante uma fase em que a pessoa se sinta bem, mas recomendável a todos que apreciam uma boa leitura. A história, intrigante e furiosa, mostra do que o homem é capaz quando amedrontado, e o que pode vir a acontecer com uma sociedade que tenta extinguir uma doença sem antes tratar de seus sintomas.

 

ENCARCERADOS – FUGA DE FURNACE (VOL.1)

AUTOR Alexander Gordon Smith

TRADUTOR Magda Lopes

EDITORA Benvirá

ANO 2012

PREÇO 20 a 30 reais.

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Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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