O documentário Encarcerados é baseado em um famoso livro do Dráuzio Varella, produzido pela Globo Filmes, SP Cine, Gullane e pelo canal Globo News. Dirigido por Claudia Calabi, Fernando Grostein Andrade, Pedro Bial. Foi filmado em 8 penitenciárias de São Paulo, com o ponto de vista dos agentes penitenciários e suas experiências. O documentário tem entrevistas com agentes reais, que estão em atividade, com os aposentados, famílias dos agentes, os diretores do filme e diretores de presídios.
Encarcerados deu origem ao filme e a série Carcereiros da TV Globo, mas esta produção se trata de um documentário. Vemos uma abordagem mais realista e menos ficcional de um tabu da sociedade, sobretudo pelo infelizmente aumento da violência e a discussão sobre o lugar do criminoso.
O sistema prisional anda cada vez mais sucateado, mas será que soluções fáceis como a pena de morte ou o “bandido bom, bandido morto” realmente funcionam? Aliás, existe uma solução fácil para a violência? Ou seria um investimento a longo prazo, como muitos países adotaram?
Uma coisa inteligente que o documentário faz é em não apontar o dedo e não colocar culpados na berlinda. Ele mostra o sistema como ele é com depoimentos de quem realmente está ali no olho do furacão. Os agentes penitenciários, que conhecem como ninguém o funcionamento de uma prisão, têm propriedade para argumentar qualquer discurso vazio ou de ódio e tratam o tema com empatia.
Além de enxergar um ponto de vista diferente, o documentário é importante para que o espectador conheça por dentro uma realidade diferente do que está acostumado
Sem contar que ele funciona como registro histórico. Além de mostrar o dia a dia do sistema carcerário, Encarcerados ainda apresenta eventos históricos que incendiaram a mídia e até hoje são lembrados. Evento como o massacre do Carandiru em outubro de 1992 e a primeira grande rebelião do PCC em 200. E por falar no Primeiro Comando da Capital, o documentário também relembrou quando o grupo ordenou o toque de recolher na maior cidade do país em 2006.
Aliás, foi justamente após o massacre de 1992 que houve o sentimento de vingança e a criação do PCC por parte dos presos.
O assunto é polêmico e fica impossível resumir ou dar uma solução em um único texto. Justamente por causa disso não há um desfecho definido e este é um problema longe do final.
Por um lado, não dá para tratar um criminoso com formalidade, por outro lado, a ideia do “bandido bom é bandido morto” gerou um dos maiores grupos criminosos do país. É um debate que deve ser tratado com cuidado, eficiência, menos emoção e mais razão.
Encarcerados é um excelente documentário que vai tirar muitos da zona de conforto. Muito bem realizado, produzido e se chegar ao grande público, promete incendiar o debate sobre o sistema carcerário.
E o melhor: de forma imparcial e respeitosa, como todos os debates deveriam ser.
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