Elvis: biografia tradicional e ousada na medida certa

Elvis é uma cinebiografia do rei do rock, Elvis Presley. Dirigida, escrita e produzida por Baz Luhrmann (Moulin Rouge, Romeu e Julieta), o filme conta detalhes importantes da carreira do cantor, interpretado por Austin Butler (excelente no papel!) como o início da carreira lá nos anos 1950, as polêmicas de seu “rebolado” e a resistência da ala mais conservadora, a sua ligação e influência com a comunidade negra em tempos de segregação racial, a amizade com outro artista gigante, o B. B. King, a convivência de altos e baixos com seu empresário Tom Parker (Tom Hanks, em um papel diferente na carreira), o auge nos anos 1960, a decadência nos anos 1970 e sua infelizmente morte em 1977.

O filme faz um excelente trabalho de trazer e atualizar para o público o fenômeno que foi o Elvis no seu auge e porque é influente até hoje. Também porque é o artista solo que mais vendeu discos na história e também que muitos acreditam até hoje que “Elvis não morreu” – e muitos acreditam tê-lo visto em Esqueceram de Mim em 1990.

Mas outro grande acerto do roteiro é que ele não se prende no óbvio, pois seria muito cômodo para a produção em abordar apenas o que o público já sabe sobre o Elvis, mas o filme também foca na relação entre ele e seu empresário Tom Parker – que é o narrador da história – seus pontos de vista e porque Parker é visto até hoje como um vilão na vida do astro, mas o filme acerta em não apontar o dedo, em tratar a relação de forma imparcial, mas sem passar pano para o que Parker fez, que foi sugar o sucesso de Presley até a alma para sustentar seu vício em jogo de Las Vegas.

E para quem gosta de um bom contexto histórico, o filme não se limita apenas na vida do artista – o que foi um dos muitos erros do filme do Queen – já que a trama aborda o turbilhão nos EUA durante das décadas de 1950, 60 e 70, sobretudo com a questão racial (isso inclui a amizade com B. B. King), a Guerra do Vietnã, a ascensão do Rock N’ Roll, o movimento hippie, a revolução sexual do período, que em parte foi causada pelo próprio Elvis e a resistência às mudanças da ala conservadora do país.

Ou seja, quem viveu a época vai se sentir representado pela nostalgia e para quem não viveu, este filme é uma boa porta de entrada para correr atrás dos fatos e para entender o mito em cima de um os artistas mais importantes da história.

E como um legítimo filme de Baz Luhrmann, o longa tem um grande apuro técnico, um ritmo de videoclipe alucinante, uma montagem frenética e cartunesca, que muitos podem amar ou odiar, mas essa escolha pode dar muito certo (Moulin Rouge, Romeu + Julieta, série The Get Down) ou muito errado (Austrália, O Grande Gatsby).

Segundo o próprio Baz, há um corte de 4 horas do filme. Ainda é cedo para saber se esse corte será disponibilizado para o público. Vai depender da aceitação dos espectadores e do sucesso ou não do longa. Elvis custou 85 milhões de dólares, que é um valor abaixo dos grandiosos filmes de super-heróis, mas não se trata de uma franquia, embora a Warner esteja fazendo um trabalho interessante de divulgação, focando no astro e no coração dos fãs.

Além da já citada montagem, o filme tem um figurino de época muito caprichado, um trabalho sonoro muito apurado, sem confundir o espectador, mas valorizando o contexto musical, uma maquiagem primorosa – em especial de Tom Hanks – além de um Design de Produção digno de Oscar, com muitos dos cenários concebidos em CGI, mas que são muito bem feitos.

E o que dizer do elenco? O maior nome do elenco é o grande Tom Hanks, que faz um papel diferente do que estamos acostumados, mas não menos interessante: é um empresário com uma boa lábia, poder de convencimento e que explorou demais o Elvis, mas não é retratado como um vilão unidimensional, e sim, como um homem fruto do seu meio e caráter.

Aliás, as gravações do longa foram adiadas logo do início da pandemia da COVID-19, quando Tom e sua esposa, Rita Wilson, testaram positivo e alertaram o mundo sobre o perigo que estava por vir.

Ironicamente, este não é o primeiro filme em que Tom “conversa” com Elvis Presley: como não lembrar da icônica cena em Forrest Gump em que o protagonista “ensina” o rebolado ao Rei do Rock.

Há uma ótima atuação da atriz Australiana Olivia DeJonge como a Priscilla Presley, então esposa de Elvis e que juntos tiveram a filha Lisa Marie. É uma personagem com grande peso para a trama, sobretudo pelo contraponto do relacionamento sério de um cantor assediado pelas fãs, mostrando tudo o que ela aguentou na época com o ciúmes e crises do marido. É uma personagem muito tridimensional, o mérito é do roteiro, mas também da atriz.

E o grande destaque mesmo é a excelente atuação de Austin Butler, que faz um excelente trabalho com os trejeitos, o perfil psicológico e o respeito com uma figura conhecida, sem contar o ótimo trabalho de maquiagem. O estúdio acertou em colocar um ator com menos glamour, embora atores veteranos como Ansel Elgort e Miles Telles também fizeram teste para o papel.

Austin estava tão nervoso em interpretar Elvis que chegou a telefonar para Rami Malek (que fez o Freddie Mercury nos cinemas e venceu Oscar pelo papel) pedindo dicas para interpretar alguém tão icônico.

Não é de se estranhar que a Warner possa fazer campanha para Austin de Melhor Ator, Hanks para Coadjuvante e para as categorias técnicas. É um grande feito dos cinemas, uma grande obra de um grande artista, com a marca do diretor, mas com muito respeito ao legado.

Elvis é uma boa porta de entrada para conhecer um dos maiores artistas da história e para entender o contexto da época, muito bem dirigido, com atuações magníficas, é daqueles filmes que dão gosto de ver e rever. Não é exagero dizer que é um candidato a clássico no futuro.

Isso só o tempo dirá.

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Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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