“Se não for muito inoportuno, eu gostaria de pedir para que cada mulher, atriz, produtora, diretora se levante. Meryl, se você fizer isso, todas farão”, disse Frances McDormand, ganhadora da estatueta de melhor atriz. E assim Meryl Streep se levantou, junto as outras mulheres indicadas às categorias do 90* Oscars. Apenas onze moças.
Quem já ouviu falar sobre Alice Guy e Lois Weber? Mulheres que marcaram a história do cinema. A primeira, “apenas” dirigiu o primeiro filme falado. A segunda, produziu o primeiro filme colorido. E elas foram esquecidas.
Cinema é sobre representação. O olhar crítico da sociedade em relação a algum tema, por mais fantasiosa que seja a realidade criada dentro dele. Cinema deveria ser sobre representação. Aí vem as controvérsias: por mais que façam filmes sobre mulheres e com protagonistas femininos (vide Mulher Maravilha), a indústria cinematográfica anda em uma espiral constante. Uma hora, volta de novo.
Antes, produziam-se filmes para atingir o público alvo consumidor, os homens. Hoje em dia, segundo dados da Motion Pictures Association of America, mais da metade do público é feminino, sendo ele 51% nas bilheterias dos Estados Unidos. E, afinal, onde estão os filmes dirigidos, produzidos e estrelados por nós, mulheres?
Esses filmes existem. Eles estão nos sonhos e nos papéis de toda garotinha que cresce vendo a Marvel lançar o seu próximo filme de super-herói – masculino. E são essas garotas que se perguntam “por que eu não posso salvar o mundo também?”. Elas salvam, em seus pensamentos. Mas ninguém as incentiva para continuar produzindo.
Os filmes morrem ainda nos rascunhos.
É um fato que a sociedade continua machista. Por isso movimentos como o feminismo são necessários para lutar com a gente. Por nós, mulheres. E, se lutarmos juntas, os filmes vão sair dos cadernos e tomar vida.
“Olhem à volta, olhem, senhoras e senhores. Todas nós temos histórias para contar e projetos que precisamos que sejam financiados. Gostaria de pedir a todas as pessoas da indústria que falassem connosco. Não nas festas que hoje se seguem, mas que daqui a uns dias nos telefonassem e nos recebessem nos vossos escritórios, ou nos nossos, como preferirem, para falarmos sobre esses projetos”, completou Frances McDormand, em seu discurso.
Em uma pesquisa feita pelo site Polygraph, foram analisados 2 mil filmes Hollywoodianos. Entre eles, 307 contam com 90% ou mais das falas sendo masculinas. Em outros 1206 o espaço para os homens predomina, variando entre 60% e 90%. A igualdade ocorre em apenas 314. As mulheres têm mais falas em apenas 173 filmes.
A pesquisa, também, mostra que ainda existem mais homens trabalhando na indústria cinematográfica. Um dos grandes motivos é a rentabilidade dos filmes dirigidos e escritos por alguém do sexo masculino. Ser homem faz mais sucesso?
NÃO. Sempre quando um papel é liderado por uma mulher forte, há repercussão mundial. E é essa repercussão que não pode acabar no dia seguinte. Quanto mais falarmos e assistirmos mulheres no cinema, em casa, na televisão, no Youtube ou na Netflix, mais a indústria vai perceber que temos o nosso lugar.
Nós cansamos de ser as namoradinhas que suprem necessidades masculinas. Seremos super-heroínas, gângsters, donas de empresas, chefes, executivas, jornalistas, médicas, esportistas, cantoras. Seremos o que quiser. Seremos mulheres.
Apenas 11 mulheres foram indicadas pela academia em 2018. Entre elas, a quinta diretora indicada na história do Oscar, Greta Gerwig, não levou o prêmio para casa.