Divertida Mente 2 é, definitivamente, aquele tipo de filme que você não sabe que precisa, até assisti-lo. Com estreia marcada para o dia 20 de junho, o mais novo longa da Disney/Pixar consegue criar uma identificação tanto com o público mais jovem, quanto com os adultos. Sim, já é uma marca registrada, mas ainda me impressiona toda vez. E como fazem isso de forma magistral.
Mantendo a sensibilidade e a profundidade emocional do primeiro filme, Divertida Mente 2 consegue nos encantar, além de entregar uma experiência que diverte os pequenos enquanto arranca dolorosas lágrimas dos maiores. O senso de representatividade aqui é tamanho que me peguei, em vários momentos, recordando situações tão semelhantes que chega a assustar. Digo que é impossível não se conectar com o longa. Assim como é inevitável revisitar certas decisões tomadas no passado, seja ele recente ou não.
Divertida Mente 2 é uma jornada pelos desafios da adolescência
Divertida Mente 2 continua a acompanhar Riley, que agora tem 13 anos, navegando pelos desafios e mudanças da adolescência. Enquanto ela se depara com essas novas situações, suas emoções, que já conhecemos do primeiro longa, são confrontadas com novos sentimentos. A chegada da Ansiedade, Vergonha, Inveja, Tédio e Nostalgia traz mais complexidade para a mente de Riley, mostrando como as emoções evoluem e se entrelaçam conforme crescemos.
O cerne da trama é bem simples. Riley está prestes a ir para o ensino médio e almeja entrar para o time de hockey do colégio. Por seu bom desempenho no último jogo, ela é convidada para um final de semana de treinos e testes que poderá ser seu ingresso para o time. Lá ela terá que lidar com o desconforto de não conhecer ninguém, a ânsia de querer se enturmar e ainda ter de provar ser merecedora da vaga. Sabemos o quão apocalíptico isso pode ser. E esse é justamente o motivo de fazer tanto sentido para qualquer idade: nunca deixa de ser.
A irremediável avalanche emocional que é entrar na puberdade, estar diante de um ídolo, prestes a perder amizades e ainda se cobrar ser perfeita o bastante para estar acima de outras concorrentes, é mais que suficiente para que novas emoções floresçam. Não só isso, como também resolvam tomar conta da central de comando emocional. Afinal, como controlar algo que não sabemos o que é? Esses novos sentimentos são tão fortes que são capazes de fazer Riley reavaliar sua essência e suas crenças. A fazendo duvidar de suas convicções e a forçando a encontrar o seu novo “eu” em meio a tantas mudanças.
Emoções à flor da pele
O que mais me encanta em Divertida Mente 2 é que, assim como no primeiro longa, o roteiro toma o cuidado de não demonizar nenhuma emoção. Todas agem visando a proteção de Riley. Mesmo as péssimas decisões não são fruto de uma atitude vilanesca, e sim de um descontrole ou excesso de autopreservação. Algo que pode resultar em consequências, tanto no plano físico como mental, não tão legais. Seja para outros ou para si mesmo. Mas se formos entrar por esses meandros, melhor se acomodar em um divã.
A chegada da puberdade de Riley soa como um grande, brilhante e barulhento alarme. Um sinal de que a partir daquele ponto, as coisas só vão ficar mais complicadas e difíceis de entender. Imagine um grande grupo de pessoas tentando decidir, por senso comum, onde vão comer. Muitas ânsias, dores, gostos e desejos confinados em um só lugar, competindo para ver quem vai dar a sugestão vencedora. É uma metáfora pífia, mas serve para entender a mente da Riley diante do novo.
As novas emoções de Divertida Mente 2
Divertida Mente 2 traz, em seus novos personagens, um diálogo direto com o público. A Ansiedade, que chega de mala e cuia (literalmente), já sugere uma promessa (ou ameaça) de que veio para ficar. A imagem é emblemática. Afinal, quem nunca exagerou na hora de fazer as malas, já antecipando prováveis situações e cenários, que atire a primeira pedra. A Ansiedade, por si só, não é uma vilã. Mas pode vir a se tornar se ela assumir o controle, como é o caso no longa. Já que é esse sofrimento por antecipação que transforma um sentimento de proteção em um dos piores problemas de nossa geração.
Junto com a Ansiedade, também chega a Inveja, que acaba não sendo palco principal e desponta mais como um sentimento de comparação constante com os outros, do que como algo doentio. A Vergonha, se mostra como uma consequência direta da nova direção, já que é ela que Riley sente quando as coisas dão errado após alguma atitude impulsiva, tomada por conta da ansiedade. As duas são responsáveis pelo constante sentimento de insegurança e inadequação dos jovens.
O Tédio, uma personificação fidedigna do espírito desdenhoso do adolescente, consegue ser tanto insuportável quanto hilário. Principalmente pelo ar blasé de quem não consegue ficar longe do celular ou se importar com algo. Mas, sem sombra de dúvidas, quem ganhou meu coração foi a Nostalgia. Uma senhorinha fofa, com aparições pontuais, que representa a saudade dos tempos mais simples da infância.
Divertida Mente 2 é sobre lidar com as emoções
Divertida Mente 2 divide bem o espaço entre as personagens novas e as antigas. As velhas conhecidas Alegria, Tristeza, Nojinho, Medo e Raiva agora precisavam lutar para entender o que está acontecendo e como devem coexistir com os novos inquilinos, que chegam após uma grande reforma na central de controle. Afinal, uma mudança precisa ser feita para comandos mais complexos. O funcionamento dessa nova mesa, sem manual de instruções, é na base da tentativa e erro, até que seja possível compreender seu funcionamento.
E é ao tentar lidar com os novos dilemas utilizando antigas armas que o quinteto original se vê expulso da sala de comando. Relegados ao fundo da mente. Reprimidas, como várias experiências frustrantes e desconfortáveis de Riley. E esse é um toque de requinte e detalhismo do roteiro que é de se admirar. Afinal, revisitar suas mágoas, compreender e aprender a lidar com seus sentimentos e entender que todas as experiências ruins ajudam a formar o seu caráter, seu senso de si, são importantes para a principal consequência da vida: crescer.
O roteiro, assinado por Meg LeFauve e Dave Holstein, é competente em abordar temas profundos com naturalidade. Autoestima, emoções reprimidas e traumas ganham cores e contornos acessíveis, que garantem a resposta emocional de quem assiste. E se tem algo que os fãs das animações da Disney/Pixar já estão cansados de saber, é que nada é exibido na tela de forma gratuita. Tudo é cuidadosamente pensado para provocar reações e promover reflexões. Desde as cores escolhidas para cada personagem, à forma como eles são apresentados. Cada cena com uma sacada melhor que a outra.
Mudanças são assustadoras, mas necessárias
Divertida Mente 2 desenha para o espectador o quanto as mudanças podem ser assustadoras, ainda que sejam parte inevitável do crescimento. É uma daquelas obras que consegue tocar o coração de todos os públicos, com uma mensagem simples, mas que carrega tanto consigo. Uma sessão de terapia de 1 hora e meia que faz rir, refletir e chorar, enquanto explora a essência humana de uma maneira que é ao mesmo tempo divertida e excepcionalmente significativa.
Divertida Mente 2 estreia dia 20 de Junho, somente nos cinemas.
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