Diário de um Campuseiro: como foi participar de 10 CPBRs

Lembro que, aos meu 21 anos de idade, recebi um artigo via e-mail. Aquele texto simples e pequeno falava de um pequeno evento que aconteceria pela primeira vez no Brasil. Já tinha ouvido falar desse evento na faculdade, mais especificamente nas tardes que passava treinando com meus colegas de equipe para a Maratona de Computação (um tipo de olimpíadas baseada em algoritmos).

Me senti empolgado com a ideia desse evento, no qual o objetivo era participar de desafios, estudar, trocar experiências e achar “nerds“. Entendam que, nessa época, não era legal ser nerd ou qualquer subcontexto que hoje os descolados e moderninhos usam. Era um pequeno isolamento entre a pessoa e seu modem.

O nome do evento era Campus Party. Pesquisei na internet e entrei em alguns sites para ler a respeito. Naquela época não existia Facebook, tínhamos o Orkut, MIRC e ICQ. O ano era 2008 e foi nesse ano que fui na minha primeira CAMPUS PARTY.

Reuni alguns amigos e conversamos muito a respeito: dúvidas de como o evento seria, se seríamos roubados e frases como “é muito bom para ser verdade”. Mas, depois de muita conversa, decidimos ir.

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A primeira data do evento foi de 11 a 17 de fevereiro de 2008, dentro do Parque do Ibirapuera, na Bienal. Um evento tímido, de publicos que não sabiam conversar entre si: de um lado, empresarios, politicos e todo aquela bla bla bla que imprensa adora mostrar na TV, do outro, os deslocados, pessoas acostumadas com o anonimato e sempre protegidas pelo o brilho do monitor.

20170207_050535Acho que descrever a abertura da #CPBR1 (essa hashtag não existe oficialmente) é um desafio, estávamos cheio de expectativas e receios. Tivemos a apresentação de uma escola de samba (até hoje tenha claro na minha mente a cara dos meus amigos assustados e algumas pessoas rindo sem entender). Foi uma Campus inesquecível, e foi nela que tive a oportunidade de participar de um dos maiores desafios computacionais da minha vida (naquela época era desafio, e não hackathon): O desafio da CAIXA sobre Grid Computacional. Tenho até hoje o folder guardado para me lembrar saudosamente de como foi.

Em 2009, recebi um email da organização me convidado para a nova edição, que aconteceria entre 19-25 de janeiro no centro de exposições Imigrantes, e realmente fiquei surpreso. Não esperava que tivesse outra edição, fiquei animado e fui novamente. Dessa vez, achei um pouco engraçado e assustador como a mídia e as empresas trataram os “nerds” do evento, chamando todos de gênios e dizendo que lá era o lugar onde as empresas contratariam as pessoas que resolvessem todos os problemas de TI deles. Nessa época não existia a ideia do empreendedor do futuro, e sim o conceito “contrate um nerd para chamar de seu“.

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As empresas estavam tanto querendo contratar esses jovens gênios que tinha desafio para tudo, todos mostrando problemas para serem resolvidos e com ótimos prêmios. Foi nesse ano que ganhei um MacBook no desafio da Porto Seguro e tive, pela a primeira vez na vida, contato com um apple.

O desespero das empresas em contratar pessoas no evento era tão grande que elas disputavam cadastri de currículos. Eu acho que dessa vez a Abril ganhou, por que ela levou as 3 coelhinhas da Playboy na época, e quem cadastrasse o currículo para trabalhar lá tirava um foto. Eu tirei foto duas vezes 😛

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2010 foi um ano especial, foi meu aniversario no evento. Entendam que faço aniversário no dia 28 de janeiro, sempre próximo do evento, mas dificilmente durante. Na #CPBR3, os planetas se alinharam pela a primeira vez. Quando recebi o e-mail com as datas, fiquei extremamente ansioso. Pela a terceira vez estaria presente no evento, ansioso por desafios, conhecimento e rever amizades feitas.

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Infelizmente, nesse ano tive meu primeiro grande choque: as empresas estavam focando em sorteios e contratar pessoas, os famosos desafios sumiram. Isso significiu que todos os problemas das empresas no Brasil foram resolvidos ou elas gostaram das soluções feitas nos últimos dois anos. Até hoje eu acredito na segunda opção, mas nessa campus conheci uma visão do mundo diferente, socializei, conversei com inúmeras pessoas, participei do QUIZ da PadTEC e ganhei muitos brindes (grande parte pen-drives) e a cada dia esperava ansioso pelo o Jornal de Debates, algo que sinto falta até hoje.

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Em 2011 tivemos a #CPBR polêmica, uma das mais inesquecíveis. Mais uma vez no Expo Imigrantes e nas datas de 17-23 de janeiro. Na #CPBR4 tivemos a criação da famosa Campus B, provavelmente porque os blogueiros e marketeiros digitais (o termos Social Midia ainda não era tão usado) descobriram o evento. Mas, bem diferente do que é hoje, a Campus B era uma vaquinha onde alguém pegava umas bebidas no mercado e deixava o som do carro ligado no estacionamento.

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Tivemos uma dança erótica e polêmica feita pela a Mayanna Rodrigues de madrugada. Segue o video:

O Famoso apagão do evento, que a mídia e os campuseiros não perdoaram.

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E foi nesse ano que tive pela a primeira vez a sensação de unidade entre os campuseiros. O Banco do Brasil distribui roupão de banho para todos, e claro que todo mundo resolveu ficar a semana toda de roupão. Eu gostei tanto da ideia que fui até receber o primeiro do desafio da TOTVs no palco principal de roupão 😀

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Em 2012, confesso que ja estava algo natural se programar para o evento, era algo automático apenas confirmar com os amigos que comprei o ingresso. Já sabíamos como ir, o que levar, com quem falar e qual seria nosso ponto de encontro. A #CPBR5 não teve grandes acontecimentos, pelo menos nenhum que me marcou.

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A coisa mais interessante e que foi bem divertido veio do SEBRAE: ele distribui pijamas para todos no evento, e nas madrugadas fazíamos flashmobs, todos vestidos de pijamas.

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Tenho muito orgulho da #CPBR6. Entre os dias 28-3 fevereiro, foi organizado o primeiro flashmob não-oficial de Just Dance.

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Hoje é muito comum vocês verem durante madrugada do evento vários Just Dance espalhados, mas em 2013 não tínhamos tantas opções. Eu e meu amigos organizamos uma comunidade chamada AnimeStick e todas as noites organizamos vários campeonatos de jogos. Um dos videos do youtube que temos orgulho até hoje:

Confesso que 2014 foi um ano incrível, a #CPBR7 estava completa, pronta para entrar na geração Makers. Dos dias 27-02 de fevereiro tivemos ótimos conteúdos, com áreas bem criativas a respeito desse novo conceito. Tenho a lembrança de que esse foi o ano que eu conheci várias pessoas e tive o prazer de rever vários veteranos que estavam sem aparecer há algum tempo.

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Foi o primeiro hackathon que o desafio era algo bem mais que um simples código, o desafio era fazer um produto “vivo”… me senti um verdadeiro professor pardal.

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Aleé dos grandes hackathon estarem de volta, tivemos um flashmob bem criativo com o famoso episódio do desenho do Pica-Pau descendo as cachoeiras.

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Em 2015, estava ansioso para conhecer um grande herói da minha infância… o Beakman!

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#CPBR8 aconteceu no período de 3-8 de fevereiro. Confesso que, pela a primeira vez, tivemos uma #CPBR repleta de nostalgia. Com muitos hackathon repetidos e poucos “sobreviventes”, veteranos.

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Grande parte das pessoas dedicavam seu tempo a poucas palestras e workshops (dessa vez, tiveram muitos “pagos”). A maior “novidade” era a brincadeira do “pombo campuseiro”. Com muitos drones e pombos no ar, o evento teve como grande diferencial um grande show de encerramento.

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2016 foi um ano negro para muitas pessoas, infelizmente a #CPBR9 não ficou de fora.

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Além de perderem seu principal patrocinador, muitas coisas no evento se perderam, inclusive grande parte da confiança do poucos veteranos. Muitos me falaram que aquela seria a última Campus deles.

Tivemos uma organização perdida e autoritária, uma conexão de internet ruim e poucas atrações. Foi a primeira vez que muitas pessoas ficaram sem o que fazer no evento, tivemos a prova viva da famosa frase “Quem faz a campus são os campuseiros”.

Apesar de tudo, mais um vez os planetas se alinharam e pude comemorar meu aniversário dentro da Campus Party. Apesar de perdermos um grande parceiro (a vivo realmente fez muita falta), tivemos a primeira participação do Outback, e eles deram um show em vários momentos durante o evento, tratando a todos muito bem. #valeuOutback

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Depois de 10 anos conhecendo pessoas, participando de grandes experiência e algumas vezes sendo desafiado, confesso que essa décima edição foi algo complicado.

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Gostaria de começar tirando uma dúvida que muitos me questionaram: por que dessa vez estava palestrando no evento?

Eu sempre gostei de ir como campuseiro, ter a liberdade de participar dos desafios e poder estar onde a “galera” estava, sem muitas responsabilidades. Mas esse ano, por problemas financeiros, a única maneira de eu participar do evento era dessa maneira.

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O número 10 é algo que gerou muita expectativa para esse evento. Como o ano anterior foi ruim, devemos admitir que muitas pessoas perderam um pouco da fé. Confesso que a melhor não foi essa, mas não sei se conseguiria me sentir bem não comparecendo a algo que fez parte da minha vida durante anos.

A minha opinião sobre esse ano é que tivemos a experiência de uma #CPBR resumida. Teve um pouco de tudo. Tudo aconteceu, mas nada completo ou excepcional.

Conheci muitas pessoas novas e incríveis esse ano e espero muito ter essa oportunidade nas próximas. Essa #CPBR10 não foi épica como muitos gostariam, mas tudo que uma Campus Party deveria ter, teve.

 

Nerd: Richard Brochini

Richard Brochini, 31 anos, trabalha há 13 anos com desenvolvimento de projetos para TI. Cientista maluco, dronemaker e gamer :D Para entrar em contato: http://richard.brochini.com/

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