Deserto Particular é um filme brasileiro, lançado em 2021, representante do nosso país a uma vaga para Filme Internacional no Oscar 2022, é dirigido, produzido e escrito por Aly Muritiba (Henrique dos Santos também assina o roteiro) e conta a história de Daniel (Antônio Saboia), um policial de Curitiba que após cometer um erro que custa a sua carreira de credibilidade, decide viajar até o interior da Bahia, pois ele mantém conversas online com Sara (Pedro Fasanaro, excelente no papel). Daniel começa a ficar obcecado pela moça, perguntando a todos os moradores sobre ela e quando a encontra, descobre que ela é transgênero (seu nome de batismo é Robson) e que terá que lutar contra o conservadorismo para manter este relacionamento.
A estrutura do filme é muito interessante, pois não temos exatamente os tradicionais 3 atos que compõe um filme, mais 2 atos gigantes de 1 hora cada, sendo o primeiro focado em Daniel e o segundo focado em Sara. Lembra muito os episódios da série The Affair, na qual os episódios são divididos em dois, apresentando um ponto de vista de dois personagens diferentes.
A história de Daniel é excelente, mostrando um homem até então viciado em adrenalina, mas quando perde o emprego, sente que faltou algo e vai atrás da única coisa que o mantém vivo.
Mas a trama de Sara é muito mais interessante, rica em camadas e com assuntos a serem explorados. Além da atuação fenomenal de Pedro Fasanaro, vemos aqui uma moça transgênero, que luta por espaço, contra o preconceito da comunidade local e até da família, pois é constantemente chamada de Robson e sua briga é, sobretudo, por respeito, mas não demora muito para uma química entre ela e Daniel, o público torce, acredita no romance dos dois, mas está longe de ser um casal típico da “família tradicional”, pelo contrário, é um sentimento genuíno e maduro.
O filme pode ser apreciado pela maior parte das culturas ao redor do globo, sobretudo pelo tema proposto, o que pode ser um diferencial na campanha para o Oscar, mas também é um orgulho para os brasileiros assistirem, pois mostra um país desconhecido para a maioria das pessoas e, durante a viagem de Daniel, pode sim ser chamado de road movie, mostrando um país continental, extenso, mas com muita cultura desconhecida.
A montagem dos dois atos é primorosa e não confunde o espectador, assim como sua excelente fotografia de Luís Armando Arteaga, com o uso de cores quentes, em tons alaranjados, para uma ideia de calor no sertão nordestino, que já seriam qualidades por si só se estivéssemos falando de um blockbuster hollywoodiano, mas que fica melhor ainda se lembrarmos que este é um filme de baixo orçamento em um país que praticamente despreza sua cultura. Não é exagero dizer que este é um filme de guerrilha.
Isso sem contar a parte musical: além da maravilhosa trilha incidental de Felipe Ayres, o filme não tem vergonha de ser eclético (ou brega para alguns), pois o filme apresenta uma mistura de Pisadinha, Forró Universitário e até Bonnie Tyler com Total Eclipse of The Heart, que toca mais de uma vez em momentos pontuais. E a mistura é simplesmente arrebatadora, pois além fazer sentido para o drama das personagens, também mostra que o Brasil pode e deve ser um país de vários gostos musicais.
Deserto Particular é dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos, apresenta um trabalho espetacular de todos, é um grito pela liberdade, contra qualquer tipo de preconceito e que nos dá orgulho como nascidos no Brasil e como seres humanos.
Posts Relacionados:
Um Match Surpresa mistura o romance com o espírito natalino
Noite Passada em Soho é bom, mas tinha potencial para ser épico
8 Presidentes 1 Juramento – documentário definitivo para entender a Nova República
Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais: