O filme Depois a Louca Sou Eu é baseado no livro homônimo da Tati Bernardi e conta a história de Dani (Débora Falabella), uma escritora brilhante, mas que não consegue controlar seus medos e sua ansiedade. As coisas começam a melhorar quando ela procura ajuda e também quando se envolve com o excêntrico Gilberto (Gustavo Vaz), um psicanalista que também tem as suas manias.
A pandemia da COVID-19 provocou crises gigantescas na vida, economia e também na saúde mental das pessoas. Milhões entraram em crise de ansiedade, identidade e o famoso “surtar na quarentena” infelizmente se tornou real.
Isso não foi causado exclusivamente devido à pandemia, mas o vírus só afetou o que já estava ruim. Os motivos para que muitos sofram de ansiedade são muitos, como a pressão por resultados, pela perfeição ou por produção.
E é justamente isso que fala a comédia brasileira Depois a Louca Sou Eu.
Quem dirige o filme é a Júlia Rezende (De Pernas Pro Ar 3, Meu Passado me Condena) e aqui faz uma direção competente de seus atores (principalmente a protagonista), da condução da história e da adaptação.
Livro e filme foram feitos antes da pandemia, a pandemia só acentuou os conceitos abordados. Temas como medo da solidão, medo das pessoas, ansiedade, síndrome do pânico e a pressão pela aceitação.
Aliás, o fato de o filme se passar majoritariamente em São Paulo também foi um acerto justamente para mostrar o quanto uma pessoa pode ser menor em uma metrópole de grandes proporções e que não pode parar.
O filme contém vários flashbacks para mostrar sua infância e adolescência turbulentos da Dani. Intercalando com a vida adulta para mostrar o porquê dessa ou daquela característica, como a aversão às multidões, viagens e de trânsito, onde ela surta só de ver um engarrafamento. A surtada imaginária dela no escritório do médico é simplesmente hilária.
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Apesar do filme ter uma trama complexa e que poderia dar gatilho em muita gente, a autora do livro e a diretora do filme optaram por uma história mais leve. Embora Depois a Louca Sou Eu tenha mais coragem em abordar temas mais profundos do que muitos filmes “sérios”. Mostrando como um momento, uma frustração pode mudar a vida de muita gente e como um rivotril pode mudar o dia da pessoa para o bem e para o mal.
E mesmo sendo um filme simples em sua essência, Depois a Louca Sou Eu possui muitos méritos técnicos, muito fruto da produtora Mariza Leão. Por exemplo, a montagem que vai do ritmo rápido até a ilustrações em CGI (a cena do remédio se dissolvendo é uma clara referência a Réquiem Para Um Sonho) e as diferenças entre as cores verde, quando a protagonista está mais à vontade e vermelho, nos momentos de crise. Essa diferença de cores também é visível no pôster.
Débora Falabella e Gustavo Vaz têm uma boa química, funcionam juntos e desconstroem muitos clichês de relacionamentos, já que ela não é a mocinha em perigo nem é o estereótipo da mulher moderna, presente em muitas comédias brasileiras (incluindo o próprio De Pernas Pro Ar, na qual Júlia Rezende dirigiu o 3º filme). É uma mulher inteligente, porém insegura e com a sensação que o mundo suga toda a sua energia.
Já o personagem Gilberto não é o perfil do macho alfa: é um homem que assume suas fraquezas, chora, se emociona e sempre está ao lado de sua Dani. Não será difícil encontrar quem “shipe” o casal.
Depois a Louca Sou Eu é uma comédia brasileira acima da média justamente porque tem mais profundidade e embora funcione também como entretenimento, faz com que muitos se identifiquem com as personagens e possam se envolver.
E isso faz muita diferença.
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