Curral é um filme brasileiro, dirigido e escrito por Marcelo Brennand, distribuído pela Pandora Filmes e embora tenha começado a ser filmado em 2018, só está estreando nos cinemas brasileiros em 2021.
A trama se passa na cidade de Gravatá, no estado do Pernambuco. O local é carente, a população sofre com o descaso do poder público, mas, principalmente, pela escassez de água, que acaba virando objeto de troca de votos no período eleitoral.
Neste cenário, conhecemos o Chico (Thomás Aquino), com o apelido de Caixa, já que mora perto de uma região chamada Caixa D’ Água. Chico está sem dinheiro, sem perspectivas para o futuro e deve para muitos, mas tem uma nova chance profissional quando seu amigo de infância Joel (Rodrigo Garcia), um advogado bem-sucedido, revela que vai se candidatar às eleições para vereador do município e chama o Chico para trabalhar na campanha eleitoral, que logo se torna atração da cidade, justamente porque Joel se mostra um rosto diferente na chamada “nova política”.
O filme é bastante focado no período eleitoral e no jogo de interesses. Não importa qual seja a ideologia, todos prometem mudanças e que em sua gestão será diferente, todos se empenham exaustivamente com a campanha política e em atrair votos, mas é raro quando um candidato retorna ao local que o elegeu.
Este fenômeno ocorre em quase todo o país, principalmente em áreas mais periféricas, como é mostrado no filme, que denuncia as campanhas superfaturadas, a manipulação dos resultados e a compra de votos, que, no passado era chamada de Voto de Cabresto, mas que hoje em dia pode ser vista como compras de cesta básica, promessa de cargos de confiança e até suborno com dinheiro vivo.
Seguindo este raciocínio, até o título do filme é irônico, já que a palavra Curral pode significar o local onde a trama se passa, mas também uma analogia dos famosos Currais Eleitorais.
O personagem Joel é um grande símbolo desta manipulação: um rosto jovem, atraente, com boa oratória e a tentativa de se desassociar do que é velho ou atrasado. Aliás, ele mal se denomina como um político, mas sim, de um advogado que quer fazer o certo.
Porém, ele não pensa duas vezes antes de se aliar ao atual prefeito de Gravatá, o impopular Vitorino (José Dumont) e quanto mais fica próximo deste político veterano, mais longe do povo ou do seu então amigo Joel fica.
É um personagem tridimensional, assustadoramente próximo do real e muito bem interpretado por Rodrigo Garcia.
Porém, o melhor personagem em Curral é o Chico, vivido por Thomás Aquino, que já havia mostrado o seu talento em Bacurau ou na série da Amazon Prime Video, Manhãs de Setembro, mas que aqui é o protagonista de fato.
Seu Chico é um homem desesperado, que tem muitos amigos, conhecidos, mas com muita pressão sobre seus ombros, seja na própria campanha com Joel, ou em sua vida pessoal com seu filho e a relação estranha com Mariana (Carla Salle), mas não vai demorar muito para descobrir que seu “amigo” apenas o usa para benefício próprio.
Curral não é um filme fácil, mas não chega a dar gatilho, mostra um Brasil real, onde muitos vão se identificar, mostra os interesses políticos de forma cínica, até irônica e porque não, vemos aqui a ascensão e formação de um tirano?
Pois como Nicolau Maquiavel disse em sua obra-prima O Príncipe, ‘os fins justificam os meios’.
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