A comédia Dois + Dois é baseada em um filme homônimo da Argentina, com a direção Marcelo Saback, roteirista de De Pernas Pro Ar 1, 2. Na trama, o casal Diogo (Marcelo Serrado) e Emília (Carol Castro) descobre que um casal de amigos Ricardo (Marcelo Laham) e Bettina (Roberta Rodrigues) mantém um relacionamento aberto no que eles chamam de “intercâmbio de casais”. Estes conseguem convencer seus amigos, até então monogâmicos, a irem por este lado e apimentarem a relação. Mas as coisas não acontecem como esperado e pode trazer consequências para todos os envolvidos.
Muitos torcem o nariz para as comédias brasileiras e é um direito de cada um não gostar. Mas elas já são um gênero consolidado há anos e o fato de levarem milhões aos cinemas é algo louvável.
Outros dizem que as comédias são “todas iguais” e que o gênero não se reinventa, mas esse argumento chega a ser injusto. Dentro do mesmo gênero existem os subgêneros e os realizadores podem aproveitar o humor para dissertar por diversos temas. Tais como a questão familiar (Minha Mãe é Uma Peça, Fala Sério Mãe), a sexual (De Pernas Pro Ar). Até mesmo o ponto de vista feminino sobre relacionamentos (Minha Vida em Marte, Loucas Para Casar).
E nada impede os roteiristas de irem para assuntos mais delicados ou os ditos “tabus” como o relacionamento aberto e o poliamor, que é o caso da comédia Dois + Dois.
A proposta do filme é excelente: mostrar de forma natural e humana um assunto tão controverso, em um país conservador como o Brasil,sob um ponto de vista cômico e com empatia para todos os gêneros. Os primeiros momentos do filme convencem o espectador de que está vendo uma obra diferente, mas não é preciso ir longe para perceber os problemas.
O filme se vende como moderno e descolado, mas é conservador em suas entrelinhas. Por diversos momentos ficou a impressão de que ele parou no tempo com estereótipos da casa de swing, dos personagens afetados, as piadas de duplo sentido e ainda as lições morais em seu péssimo desfecho.
E quem conhece o mínimo sobre sexo a três (ou a quatro, que é a proposta aqui) sabe que a outra pessoa deve ser uma desconhecida, não com amigos de décadas e ainda sendo sócios no trabalho como médicos.
Gossip Girl já nos ensinou isso há mais de uma década.
Não bastasse tudo isso, o filme derrapa em dois tópicos importantes e fundamentais para a proposta da história: nenhum dos casais têm química, nem mesmo Carol Castro e Marcelo Serrado. E a falta de sintonia em um filme de relacionamentos derruba qualquer envolvimento do público.
Outro problema é a falta de desenvolvimento dos coadjuvantes. A filha adolescente do casal principal e a empregada doméstica, que apenas estão lá, mas o público mal nota a presença quase nula dessas personagens.
Houve uma boa intenção dos envolvidos em mexer com um assunto delicado para muitos. E, embora Saback seja um roteirista competente, perdeu a mão na direção e apresentou uma obra esquecível e descartável.
A comédia Dois + Dois tem uma boa proposta, que merece ser discutida de forma aberta e sem preconceitos. Mas se depender deste filme aqui, o assunto ainda vai ficar obscuro para muitos.
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