Lembro-me das minhas tardes no começo do século. Naquela época não havia internet banda larga, apenas conexão discada e eu podia usar apenas duas horas por dia, era o combinado com os meus pais. Não havia realmente nada muito interessante para se ver na internet, apenas sites muito primitivos, usar um pouco o ICQ, entrar no saudoso bate-papo do Uol. Conteúdo feito exclusivamente para a internet era fantasia, não existia.
Sempre fui um grande fã de quadrinhos, comecei – como todo mundo – lendo turma da Mônica e migrei para os quadrinhos da DC e da Marvel (ainda que nunca tenha abandonado a turminha). Como toda a criança do começo da década de 90 eu era vidrado em tokusatsus e meu show favorito sempre foi os Changeman. Um pouco mais tarde apareceram os Power Rangers e eu fiquei completamente maluco, virei imediatamente fã e comprei bonecos, jogos de videogame… Sempre gostei da dinâmica dos Super Sentai. Ainda na década de 90 explodiu por aqui a febre dos Cavaleiros do Zodíaco que depois foram seguidos por outros animes e a febre amarela se instalou entre os jovens. Eu – obviamente – não fui exceção, sempre me encantei pela cultura japonesa.
Naquelas minhas tardes na internet, nas minhas preciosas duas horas diárias de conexão, eu gastava boa parte delas pesquisando sobre animes e cultura japonesa. Um dia, sem querer, trombei num site que me pegou imediatamente. Encontrei os Combo Rangers e foi amor a primeira vista! Nossa, gastei horas e horas e devorei todas as HQs que já estavam no site, a saudosa fase “bolinha” e a fase Z, que estava no seu começo quando comecei. Daí pra frente sempre acompanhei de perto tudo que o incrível Fábio Yabu escreveu sobre Fox, Kiko, Ken, Lisa, Tati, Luke, Maya, Tio Combo, Papai Noel, Fabi, Pum e outros fantásticos personagens do Yabuverso. Passei pelos desenhos animados especiais para comemorar o começo da fase Revolution, pelas revistas em quadrinhos especiais que “encalharam”, do final abrupto e sem conclusão das web-comics… Passei pela revista em quadrinhos, tanto na fase JBC quanto na fase Panini e inclusive considero o Desejo do Último uma das melhores HQs nacionais de todos os tempos. Presenciei a tristeza que foi ver os melhores heróis nacionais deixarem de ser publicados, irem para o limbo, passarem uma longa temporada na Zona Fantasma.
Qual não foi minha surpresa então, ao gravar um episódio do podcast Cego em Tiroteio (que anda em hiato, mas voltará) sobre o livro Branca dos Mortos, do Yabu, com a presença do próprio e ouvir de sua boca que ele tinha planos para os Combo Rangers! E logo depois apareceu o crowding funding no Catarse e eu apoiei com todo o prazer do mundo! E esperei ansiosamente pela minha edição. Acabei lendo a versão digital, que chegou antes no meu email e depois reli a partir da versão física! Que emoção ver meus heróis de volta e ver meu nome no final da edição, como apoiador da iniciativa!
O melhor de tudo é que a iniciativa foi bem sucedida. O álbum lançado, “Combo Rangers – Somos Heróis” é uma carga potente de nostalgia, mas não é só isso, a história é bem conduzida, dando um interessante reboot no universo antes criado por Yabu. Os desenhos de Michel Borges são bem bonitos e repletos de gags visuais que combinam bem com o clima dos Combo Rangers. O humor continua igual, meio bobo, meio Chaves, mas funcionando como paródia do universo dos Super Sentai e da cultura pop em geral. Mas o mais importante é que o espírito das personagens continua o mesmo e continua sendo o destaque, mesmo com esse “recomeço” continuo enxergando meus velhos conhecidos. Valeu a pena ajudar e mesmo que o preço do gibi seja um pouquinho alto (39,90) eu recomendo a compra para aqueles que são nostálgicos com aquela época singela da internet pré-banda larga, que sempre foram fãs dos personagens. E também para quem quer conhecer uma HQ nacional de heróis, bem diferente do que se vê por aí.