Existe um lema no mundo da química que diz que “nada se cria, nada se copia, porém tudo se transforma”, e isso pode ser aplicado em diversas formas, situações ou até pessoas.
E no mundo do cinema não é diferente: muitos dizem que todas as histórias já foram contadas e o que temos hoje são adaptações ou atualizações.
Tudo isso explica muito o sucesso e impacto que um clássico como Cinderela ainda provoca: é uma das animações mais lucrativas, clássicas e influentes da Disney. Mesmo quem não tenha visto este filme clássico já conhece sua história e já foi apresentado a ela, de forma direta ou indireta, não apenas pelas inúmeras adaptações, remakes e reimaginações da história, como o próprio live action de 2015 estrelado pela Lily James, ou mesmo algumas versões para a TV.
Sem contar que essa conhecida história da menina que é humilhada pela madrasta e suas filhas inspira a muitos de forma diferente: Rocky Balboa, por exemplo, é claramente inspirado em Cinderela, mas adaptado para o masculino.
E podemos usar essa trama da Gata Borralheira (como ficou conhecida aqui no Brasil) para outras situações de pessoas humilhadas pela História, como a escravidão, machismo, LGBTfobia, xenofobia ou qualquer tipo de preconceito. Ou seja, independentemente do gênero, não é difícil se identificar com a história de Cinderela, que se tornou universal.
Ok, em 7 décadas, o mundo mudou muito: a maioria das mulheres não espera mais pelo príncipe encantado e conquistou sua independência, mas o próprio filme ajudou na questão feminista e a moldar o mundo até chegar aos dias de hoje, como o amor superando tudo, a crítica contra a arrogância, a conscientização do respeito ao próximo e uma protagonista feminina nos anos 1950 foi sim uma aposta ousada do Walt Disney.
Aliás, falando nele, este filme ajudou a salvar a Disney do buraco, porque após os sucessos de Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Dumbo (1941) e Bambi (1942), o estúdio entrou em um hiato de produções originais, sobretudo pelos efeitos da guerra e com filmes que fracassaram, mas Cinderela, em 1950, mudaria isso para sempre.
Você pode falar mal, achar datado ou dizer que é “filme de menina”, mas Cinderela é um filme que deve ser respeitado: sem o sucesso deste filme, não teríamos clássicos como Mogli, Alice e Peter Pan, e a retomada nos anos 1980/90 com outros clássicos como A Pequena Sereia, O Rei Leão, A Bela e a Fera, além de muita coisa que molda a cultura pop de hoje: MCU, Pixar, além da própria Disney como potência.
E tem mais: por mais que existam as adaptações de acordo com cada época, praticamente todas as princesas da Disney posteriores à Cinderela se inspiraram nela, como Ariel, Pocahontas, Bela, Rapunzel e até as mais recentes como Moana, Elza e Anna.
E se temos filme lançado há pouco tempo que fica datado e o CGI envelhece mal, o mesmo não se pode dizer de Cinderela: o 2D ainda está muito bonito, com a tecnologia da época, uso magnífico das cores, além da movimentação e design dos personagens. E vale lembrar que tudo isso foi feito nos anos 1950 (na verdade, no final dos anos 1940), quando a animação estava ainda engatinhando, é algo mágico.
Seja pelas diversas referências que ganha até hoje, pela trama ou cenas clássicas, Cinderela é um filme obrigatório para qualquer cinéfilo, fã de uma boa história, de uma fábula ou para quem quer simplesmente conhecer essa história que jamais envelhece, independentemente da época, local, origem ou ideologia.
De quantos filmes podemos dizer o mesmo?