Cidade de Deus é um filme brasileiro lançado em agosto de 2002, foi um fenômeno de crítica, apontado até hoje como um dos filmes mais influentes e importantes do século, tendo mais de 90% de aprovação. Foi um sucesso de público, levando mais de 2,5 milhões de brasileiros ao cinema e com o custo de 3 milhões de reais, faturou mais de 30 dólares nas bilheterias mundiais, também foi muito bem no home vídeo (na época, as locadoras ainda existiam), nas exibições na TV (quando passou na Tela Quente em 2006, deu quase 40 pontos no Ibope) e no streaming é um sucesso até hoje.
É dos filmes brasileiros mais premiados, com 4 merecidas indicações ao Oscar 2004, nas categorias de Melhor Direção para Fernando Meirelles, Roteiro Adaptado para Bráulio Mantovani e o filme é baseado no romance de Paulo Lins. Também foi indicado a Fotografia para César Charlone e Montagem para o grande Daniel Rezende – hoje um ótimo diretor de cinema, dirigiu, por exemplo, Bingo e os últimos filmes da Turma da Mônica.
O filme é co-dirigido pela Kátia Lund, que teve um trabalho importantíssimo na direção de elenco. Vale lembrar que a maior parte não era ator de fato, eram moradores da Cidade de Deus e a preparadora de elenco, Fátima Toledo, fez um excelente trabalho em transformar pessoas comuns em personagens icônicos.
O longa conta a sua história desde os anos 1960 na Cidade de Deus, sua transformação em uma favela e o surgimento do crime organizado. É importante dizer que as áreas mais afastadas dos grandes centros já eram discriminadas nesta época, o poder público isola, fica longe dessas áreas, os moradores se uniram, formam uma comunidade, o crime se aproveita da ausência de Estado, fortalecem o tráfico, é um cenário que temos até hoje na maior parte do Brasil e infelizmente está longe de acabar (muitos não querem que acabe e se beneficiam com isso).
Aqui no filme temos o ponto de vista dos nossos dois protagonistas: Buscapé, que tem o sonho de ser fotógrafo, é muito inteligente e quer andar na linha; e o Dadinho, que desde criança pega gosto pelo crime, pela violência e logo se torna o traficante mais temido da Cidade de Deus, adotando o nome de Zé Pequeno.
Cidade de Deus é dos filmes que mais envelheceu bem e que permanece atual. Felizmente e infelizmente.
O ponto positivo de se manter atual está na sua técnica, pois sua fotografia e montagem são referência até hoje, com um belíssimo contraste de cores de uma comunidade, uma câmera poderosa, que já impressiona na cena de abertura, além de uma montagem de fazer inveja a qualquer blockbuster hollywoodiano, até hoje é referência, muitos se inspiram, mas jamais é superada, seja pelos cortes rápidos, o ritmo frenético e as transições eficientes de uma época a outra.
Mas infelizmente Cidade de Deus permanece atual pela sua temática, pois quem mora em uma comunidade fica cada vez à margem da sociedade, a desigualdade, que já era grande em 2002, só aumentou em 2022, a fome é uma realidade para milhões de brasileiros, a violência foi outro ponto que só aumentou em duas décadas e o poder público se aproveita da fragilidade de muitos.
E no caso deste filme, como não lembrar de cenas clássicas, como a famosa frase do Zé Pequeno, a já citada cena de abertura da galinha, o assalto no motel, as narrações em off do Buscapé, sua ascensão como fotógrafo, as cenas na balada, onde vemos os méritos de fotografia e montagem, além das maravilhosas coreografias, as cenas na praia, que acabam funcionando como alívio cômico, além do tiroteio final.
O elenco de Cidade de Deus é primoroso, com destaque para Alexandre Rodrigues como Buscapé, Leandro Firmino como Zé Pequeno, Douglas Silva como Dadinho, alguns veteranos como Seu Jorge, Matheus Nachtergaele e a estreia das maravilhosas Roberta Rodrigues e Alice Braga, que estão com carreira até hoje e fazendo muito sucesso.
Cidade de Deus é um marco do cinema mundial. Goste ou não, é um filme que mudou paradigmas, formou cineastas, é referência, dá muito orgulho para nós, brasileiros e para muitos é o melhor filme brasileiro realizado até hoje.
Cidade de Deus é uma obra prima e é cinema de primeira!
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