Conhecer o pessoal da KaBuM Orange foi um tipo “legendary kill” pra mim. Foram mais de 6 meses trocando emails com o time para conseguir uma horinha. Abordei eles em junho do ano passado, logo após a vitória da etapa paulista da CBLOL 2014, mas entrei na longa lista de prioridades do time. O foco (lógico) era o treinamento intensivo para o Mundial do ano passado.
Finalmente na 3a. Semana de CBLOL 2015, após vencerem a Dexterity o time conversou comigo nos estúdios da Riot Games onde as partidas acontecem. Aproveitei para conhecer melhor os jogadores, principalmente entender um pouquinho mais de como é ser atual campeão brasileiro e toda responsabilidade de ganhar a vida jogando.
1. Perguntar sobre o jogo que terminou agora vai ser mais do mesmo, vamos começar com uma pergunta nada a ver? Se o teletransporte existisse, para onde cada um gostaria de ir neste momento?
Todos – CASA!!!
LEP – Como o tempo de férias não foi tão longo, o que todos sentem mais falta é da família e de casa.
Eryon – A gente aprendeu a dar valor a família estando longe.
2. Numa situação ideal de tempo e espaço, hoje vocês estariam entre cursinho e faculdade, ou numa balada, talvez. Qual de vocês pode se dizer que “converte” mais com as meninas? Rola muito assédio por parte das fãs, ou das conhecidas “Maria Elo”?
Digolera – O LEP! As meninas ficam mais atrás dele.
LEP – Eu! (sorriso maroto nos lábios). São muitas mensagens!
3. A rotina que estão levando é bem puxada, é a tal ‘vida de gamer’ , algum de vocês imaginava que chegariam neste estágio de fazer parte da atual equipe campeã brasileira?
Dans – Eu imaginava e acho que é exatamente como pensei. Pois sempre foquei em jogar bem e hoje, jogo pensando nisso, em ser o melhor. Eu gosto de pensar que ‘fiz por onde’ e consegui realizar meu sonho e o resultado hoje, é tudo que conquistei.
LEP – Eu imaginava sim algo assim, mas na vida real a cobrança é muito maior.
4. Como é o apoio da família para cada um de vocês hoje?
LEP – Minha família, achava que era loucura e que era impossível sobreviver como jogador. Meu pai queria aprender e entender mais sobre o jogo, ele até tentou jogar! Mas minha mãe era muito contra e queria um futuro mais seguro. Já minha irmã achava que era coisa de louco!
Dans – Minha família sempre foi tranquila, o único ponto que pegou foi que eu trabalhava com meu pai em seu negócio e seguindo esta carreira, acabou não tendo quem ajudasse ele.
Tinowns – Não tive grandes problemas pois meu irmão jogava o extinto Age of Empires. Isso facilitou muito para mim.
Digolera – Ah, meus pais não aprovavam. Eles associavam ser jogador a um futuro incerto e por isso não concordavam muito.
Eryon – Minha família sempre me apóia. Minha mãe ficou receosa pois quando eu terminei a faculdade, ela queria que eu seguisse a vida acadêmica . Como surgiu uma oportunidade para jogar, decidi que este era meu sonho e eu queria viver este sonho. Assim me dediquei a treinar mais. Neste período minha mãe me apoiou bastante e meu pai incentivou.
(“Marcinho” Eryon é formado em Biologia)
Conhecendo o time
5. LEP, você acha que o capitão sofre pressão de forma diferente dos demais, tipo, todo mundo acha que você vai fazer um paranauê e os outros jogadores vão resolver os pontos que estiverem desalinhados numa partida, ou o título de capitão é mais devido ao tempo que você tem de time e a afinade natural com cada um para dar toques e sugerir jogadas?
LEP – É mais a segunda opção, eu acho que como sou o mais velho, conheço melhor cada um e ja sei como é a forma de jogar, assim eu acabei ficando com o título pelo tempo, mas para mim, todos tem o mesmo peso, porque sou muito amigo de todo mundo.
6. Tinowns, como é ser o mais novo do time? Te azucrinam muito ou geralmente esquecem que você é o mais novo? Você acha que isso é um diferencial e quando você ficar mais velho vai mudar, tipo vai perder a agilidade?
Tinowns – Sou o mais zoado em qualquer situação, prova disso é que eu que sempre fico com a pior cama no hotel e ninguém nunca deixa eu andar no carro no banco da frente. (risos)
Eryon – Quando você fica mais velho a maturidade te ajuda em algumas decisões. Isso é, a mentalidade que muda, pois aí você se dedica menos e joga menos, pois tem menos vontade de jogar.
Digolera Eu acredito que uma pessoa de 40 anos muda seu objetivo de vida e tem pensamentos mais focados na família o que tira a dedicação e vontade para jogar tanto quando um bom jogador precisa.
7. Eryon, já que falamos do mais novo, tem o lance do mais velho. Você acha que isso te dá um status de “irmão mais velho” ou vocês acabam tão focados na razão de estarem juntos como um time que não rola isso? Falando mais um pouco, você acha que jogar não tem nada a ver com a idade?
Eryon – Eu acho que hoje jogo melhor por ser mais velho, basicamente porque eu foco mais no meu treinamento. Quando eu era novo eu jogava nos tempos vagos, pois tinha a faculdade e trabalhos, mas depois que foquei completamente nisso, melhorei muito minha agilidade e também aumentou a maturidade. Procuro não me ver como irmão mais velho, mas por eu ser mais velho e talvez porque eu tenha mais tempo de vida acabo sempre opinando e ajudando os outros jogadores no geral.
8. Dans, como é a vida numa game house? Você tem que colocar o nome no danone na geladeira ou os caras são “parça” e deixam você dar o último tiro no barão.. ops.. deixam sempre a última porção de sorvete pra você?
Dans – (risos) Não adianta por o nome no danone, mas não rola briga, o que é de um é de todos. A gente acaba se entendendo muito e não rola nenhum problema com isso. A parte engraçada é porque a única coisa que você tem que por o nome mesmo é basicamente sunga e cueca. Meia a gente já desistiu! Todo mundo brinca que se colocar o nome fica mais divertido.
Tinowns – Verdade! Meia é um problema. Sempre que vou visitar minha mãe ela manda uns 10 pares de meias para mim.
Dans – Como todo mundo é tranquilo, é muito díficil a gente discutir por causa disso. Todos acabam se divertindo pois isso é pouca coisa perto do desafio e da missão que temos como jogadores.
9. Digolera, você tem algum ritual antes de jogos como o de hoje?
LEP – Nossa.. Justo para ele você vai perguntar isso? É o mais sistemático dentro do time!
Digolera – Rituais não, mas reconheço que sou o cara mais fresco que tem! Para você ter uma idéia, tinha uma época que eu tinha as medidas desenhadas no mouse pad. Gosto de tudo no lugar. Para cadeiras, eu tenho o jeito de medir todas as distâncias. Acho que tique eu só tenho aquele de quando acordo ter que tomar um café, senão meu dia não começou.
LEP – Ele é o único que chega no estúdio e antes da partida fica ajustando a cadeira… Hoje ele ficou bravo porque mexeram num dos braços da cadeira.
10. Bit1, tenho conversado com diversos jogadores e como em qualquer profissão, a gente sabe que uma hora o jogador se cansa da rotina e busca novos desafios. Como é esta transição de jogador pra manager? Você ainda tem momentos em que se imagina jogando no time?
Bit1 – Na verdade, nos últimos tempos como jogador eu já tinha perdido bastante a motivação e também tive motivos pessoais que colaboraram para esta mudança. A KaBuM já tinha me oferecido o posto para eu trabalhar na área de e-esportes. Juntou o meu momento com a proposta e tomei a decisão, pois achei a oportunidade certa que casou com meu sonho. Hoje em dia eu tento me afastar mais até da funcão de treinador e tento ficar mais com a parte administrativa. Convivo e opino em diversas coisas ainda relacionadas a estratégia do jogo, mas com o tempo vou me afastar para assumir outras responsabilidades.
CBLOL
11. Como está sendo este campeonato comparado ao anterior? Dá para dividir em pontos positivos e negativos?
Bit1- No geral nós vemos mais pontos positivos. Como o novo formato de Liga que dá muita visibilidade para o e-sport, atrai mais público e faz com que o interesse dos patrocinadores cresça. Em comparação ao ano passado, que praticamente resolveu tudo em 3 dias, que foram as etapas em Florianópolis, São Paulo e a final no Rio de Janeiro, estamos achando muito melhor este ano, pois temos 7 semanas e muito mais jogos para mostrar nosso trabalho. Um ponto negativo para nós é não ter platéia no estúdio.
Digolera – Eu sinto muita falta do púlico. Sinto falta da vibração e acho que nós jogamos muito melhor com a presença da platéia, mas reconheço que os jogos presenciais estão muito melhores. Nos preparamos mais.
12. E qual a opinião de vocês de não poderem jogar em torneios de outros eventos como a X5 Mega Arena (XMA) este ano?
Dans – Entendemos o motivo das regras. Não podemos jogar mas podemos estar presente no evento, nos estandes dos patrocinadores. Ainda mais com relação a XMA que era um torneio legal de disputar, mas estaremos presentes no evento!
Bit1 – Passamos da fase de disputar somente torneios no Brasil. E isso é geral entre os times, não somos somente nós que estamos olhando para fora. Todos treinamos visando resultados internacionais e é importante focar nisso.
13. O fato de vocês terem passado o fim do ano mais focados nos jogos do Mundial, afastou vocês um pouco das estratégias tupiniquins? Existe aí uma explicação para este jejum da KaBuM Orange nestes dois primeiros jogos da CBLOL2015?
Dans – No começo sim, quando voltamos do Mundial estávamos um pouco perdidos, fuso horário, outras culturas, mas agora passou bastante tempo, voltamos a treinar com todo mundo e ja nos adaptamos. Hoje já tivemos um resultado melhor e ainda temos vários jogos para mostrar isso!
14. Para todos os times, os treinos tem sido intensivos. A rotina de vocês por ter integrantes novos é a mesma ou focam mais tempo estudando a estratégia dos outros times, buscando soluções antes do jogo em si? Dá pra contar como é a formula de integração?
LEP – É dividido, a gente treina muito, mas paramos para assistir aos replays das nossas partidas e analisar ou discutir outras formas de jogo. Também paramos para ver jogos de chineses e coreanos, aí assistimos para aprender novas jogadas e ter novas idéias do que fazer em jogo. Só jogar não tem sentido.
15. O Lep comentou em vídeo da CBLOL 2015 que na partida com a Keyd, faltou “criar mais jogadas”. Na opinião de vocês, criar jogadas depende mais de treinamento, conhecer o parceiro e ter uma sintonia para contar com ele pra qualquer movimento ou está mais relacionado a criatividade mesmo de ter uma “luz” e antever um movimento que vai levar a equipe pra cima?
LEP – Os dois. Você tem que ter a criatividade para fazer brotar a oportunidade. E ter oportunidades é raro, principalmente quando você está jogando com outro time bom. Tem que ter muita criatividade, treinamos muitas jogadas, mas precisamos ter o momento certo de encaixá-las na partida.
Eryon – O treino expande os horizontes. Se você treinou aquilo, aquele tipo de situação, você vai entender melhor o que está acontecendo para colocar em prática alguma reação ou aproveitar algum movimento. Num campeonato as jogadas são só reflexo de muito treino.
16. No caso de vocês, com seu coach banido sem poder ficar na cabine, isso pode ser visto como uma desvantagem neste momento?
Bit1– Eu tenho acompanhado o time e tudo que falo na cabine eles já passaram. Tenho uma visão geral e sinalizo coisas que tem que reagir na hora. Algumas jogadas tem que ser improvisadas. Nós temos um plano de jogo, com vários cenários desenhados, a única coisa que faço é repassar com eles.
17. E as regras desta CBLOL onde as equipes são penalizadas e perdem pontos com a troca indiscriminada de jogadores durante o campeonato? Isso é bom ou ruim para vocês?
LEP – Achei boa a regra. Uns anos atrás do nada a equipe mudava inteira. Era horrível pois gerava um problema enorme para a organização. Posso citar a CnB que perdeu toda a identidade por esta questão de troca de jogadores, num campeonato a equipe desmontou inteira. Isso foi muito ruim para os patrocinadores que já estavam e para conquistar novos pois passam dois meses e o time acaba. Prender o jogador na equipe durante o campeonato é importante, pois participar do campeonato é importante e todo mundo vai se esforçar. Com a nova regra, se o cara é substituído ele não tem oportunidade de resolver, treinar mais, melhorar. Ele vai estar fora do campeonato e para o jogador isso também é ruim. Isso vai ajudar os times pequenos a buscarem se entender.
Bit1 – No Brasil a regra é falha pois os times não tem muitos reservas. Lá fora, vários times tem muitos jogadores reservas o que ajuda no caso de algum problema. Aqui só pode inscrever um reserva e isso acaba limitando o time a fazer ajustes para melhorar a equipe.
A conversa estava ótima, mas os meninos estavam cansados e minha hora tinha acabado. Como foi um “primeiro encontro” deixei para a próxima mais perguntas, mas adorei conhecer melhor os jogadores da KaBuM Orange.
O sempre sorridente Tinowns, o intrépido Digolera com seu ar sonhador, o compenetrado Eryon que transpira sabedoria, o super capitão LEP com seu ar tranquilo e o Dans que transpira autoconfiança. Todos acompanhados do Bit1, que unanimemente foi apontado como a “mãe” do time. Obrigado!
Um “SALVE” do Novo Nerd para a Kabum, Hyper X, Nvidia, SteelSeries, Philips, EVGA e X5 Computadores.
Twitter do Bit1 , Dans, LEP, Digolera e Tinowns para quem quiser mandar mensagens.
Agradecimento especial a Riot Games pela autorização para fazermos a entrevista nos estúdios.
Facebook da KaBuM Orange pra ficar por dentro e torcer. #GoOrange #GoKaBuM
Fotos: Branca Galdino