Cazuza: Boas Novas é poesia urgente em forma de documentário | CRÍTICA

A vida de Cazuza nunca foi morna. E Cazuza: Boas Novas, dirigido por Nilo Romero, também não é.

O documentário mergulha nos dois últimos anos de vida do artista, entre 1987 e 1989 — um período marcado não apenas pela doença, mas por uma explosão criativa que se recusava a aceitar o fim.

Mais sobre viver do que sobre morrer

Sim, o diagnóstico de AIDS está presente, tratado com a seriedade necessária. Mas o que realmente pulsa é a vontade insana de viver até o último fio de voz. Nesse curto intervalo, Cazuza lançou três álbuns, fez mais de 40 apresentações do icônico show O Tempo Não Para e seguiu dizendo ao mundo tudo o que sentia, pensava e provocava — do seu jeito: direto, poético, furioso.

Cazuza: Boas Novas é um presente para quem já ama Cazuza, e uma porta escancarada para quem ainda não entendeu o tamanho dele. O filme vai além do artista rebelde e provocador. É também sobre o homem: o filho, o amigo, o amante — alguém frágil e forte ao mesmo tempo.

Imagens raras, depoimentos sinceros

O filme apresenta imagens de bastidores nunca antes vistas, vídeos caseiros e registros emocionantes, costurados com depoimentos de quem esteve por perto: Frejat, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Lucinha Araújo (sua mãe), entre outros.

Tem também momentos que se tornaram lenda — como a cena dele cuspindo na bandeira do Brasil no Canecão, gesto que até hoje divide opiniões, mas que, para ele, era puro grito de inconformismo.

A montagem, assinada por Jordana Berg, é delicada e poderosa. A gente vai da risada ao nó na garganta em minutos. E a presença de Cazuza é constante: nos palcos, nos estúdios, em entrevistas, lúcido e debochado, apaixonado pela vida, mesmo quando ela já escorria pelos dedos.

Uma carta de amor sem filtro

Nilo Romero, músico, amigo e diretor musical do último show de Cazuza, sabia o que queria contar — e contou. Sem glamourizar o sofrimento, mas também sem esconder as dores, os excessos, as escolhas. É como ouvir um disco com as faixas fora da ordem, mas que, no fim, faz completo sentido.

Esse também é o primeiro longa lançado pela Curta Cine-Distribuidora, já mostrando a que veio: dar luz a histórias que merecem ser vividas (de novo) na tela grande. Produzido por 5e60 Filmes e Kajá Filmes, com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual, Boas Novas é mais do que um filme — é um gesto de preservação da cultura brasileira.

Cazuza virou poesia

No fim, Cazuza: Boas Novas não é só um documentário. É um reencontro. Um lembrete de que Cazuza não foi embora — ele apenas virou poesia. Uma poesia bruta, sincera, urgente. Daquelas que, mesmo décadas depois, ainda nos sacodem por dentro.

Prepare-se para se emocionar, rir, pensar e sair do cinema com vontade de viver com mais intensidade. Porque, como ele mesmo dizia:
“O tempo não para.”
E esse filme, felizmente, também não deixa a gente esquecer.

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Nerd: Simone Paula

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