Continuação da excelente Tempo Esgotado, Soldado Invernal foi o empurrão final para a recuperação de prestígio e qualidade de uma das personagens mais relevantes da história dos quadrinhos.
[ATENÇÃO, O TEXTO ABAIXO TRAZ ALGUNS SPOILERS, LEIA POR SUA CONTA E RISCO]
A trama dá continuação ao aparecimento misterioso de uma personagem que parece ser o antigo parceiro do Capitão, Bucky, que havia morrido ainda na segunda guerra mundial. Na época da publicação houveram críticas pesadas em cima da decisão de trazer Bucky de volta a vida, a morte dele era muito importante para a construção da personalidade de Steve Rogers e um side-kick adolescente da década de 40 parecia uma péssima escolha de personagem para se trazer a vida. Parecia.
A verdade é que o autor, Ed Brubaker, calou todos os críticos e conseguiu, ao mesmo tempo, trazer a personagem de volta sem relativizar a importância de sua morte para a formação do Capitão e transformar Bucky num personagem interessantíssimo e um favorito pessoal dos fãs (tanto que quando o Capitão “morreu” ao final de Guerra Civil, Bucky assumiu o manto e continuou como Capitão mesmo com a volta de Steve Rogers).
O retorno de Bucky causa uma avalanche emocional no Capitas que serve para pavimentar a nova fase da personagem como alguém com problemas, mas ainda assim um herói. E a maior prova disso é a diferença brutal do comportamento do Capitão e de Sharon Carter diante da descoberta de que Bucky não tinha mais controle sobre si mesmo. O Capitão procura o caminho da reconciliação, fugindo do caminho violento pregado por sua amiga.
Outro destaque da HQ é a ideia do “Soldado Invernal” como um humano programado para cumprir missões assassinas e colocado em êxtase para esperar a próxima missão. A ideia tem um clima muito coerente com lendas da guerra fria e dá à história uma aparência de livros de espionagem ao estilo de John Le Carré e Frederick Forsyth. Um detalhe ignorado por quase todo mundo é que a ideia já havia aparecido em um arco da década de 90 do Capitão. O problema é que o arco em questão foi o malfadado “Heróis Renascem“, uma HQ mediana se muito, piorada pelos tenebrosos desenhos de Rob Liefeld… sim, o Capeitão surgiu aqui (na metade do caminho os desenhos passaram por brasileiro e mais competente Joe Bennett). Neste arco roteirizado por Jeph Loeb, o próprio Rob Liefeld e posteriormente por James Robinson, a ideia do soldado colocado em êxtase entre missões foi aplicada no próprio Capitão, substituindo o congelamento acidental como origem de seu sumiço pós-segunda guerra. Era uma excelente ideia pessimamente aproveitada.
Recomendo fortemente a leitura de Tempo Esgotado e Soldado Invernal antes de irem ver ao filme no cinema, ou mesmo após terem visto. Garanto que não se arrependerão!