eesh Chaganty é muito conhecido por seus curtas, no entanto, podemos afirmar que ele surpreendeu em seu primeiro longa. O filme Buscando… (no original, Searching…) não é apenas uma porta de entrada para grandes produções, como também promete ser um dos melhores dramas de 2018.
É preciso admitir que o elenco escolhido para o filme não é muito animador, o diretor apostou em atores novos e sem muita experiência com esse tipo de atuação, como o protagonista John Cho (conhecido por seus papéis em filmes adolescentes e Sulu, de Star Trek) e a atriz Debra Messing (a nossa eterna Grace de Will & Grace). Devo confessar também, que nunca imaginei os dois juntos em um filme, ainda mais nesse tipo de drama que me faz sair com lágrima nos olhos. Parabéns ao diretor Aneesh!
Buscando… conta a história de um pai atrás de sua filha desaparecida, ok… até aí nenhuma novidade. Mas o jeito que ela é contada é algo que faz nossos olhos saltarem. As primeiras cenas do filme mostram a tela de um antigo computador, e pela a webcam conhecemos a família Cho. Logo em seguida temos uma sequência com a evolução de todos, desde a família até equipamentos tecnológicos como o velho windows XP, MacAir e iphone. Uma sequência que nos faz rir e chorar com vitórias e tragédia mostradas. Tudo do ponto de vista daquilo que foi registrado na internet.
Quando Margot (Michelle La) desaparece, seu pai, John Cho (David Kim), tenta desesperadamente entender o que aconteceu e o onde sua filha está. Depois de esgotar suas opções off-line, e por não confiar muito no trabalho da polícia local, ele acessa o computador dela, encontrando rastros e pistas em todos os seus perfis sociais e históricos de navegação. Descobre, o quanto não conhecia sua filha realmente, mostrando para todos o quanto a vida on-line e off-line de uma pessoa podem ser diferentes!
Buscando… não é apenas um filme de um pai procurando sua filha, ele nos faz pensar como nos relacionamos on-line com as pessoas, quem são nossos amigos e o que realmente significa o número de amizades que temos em nossos perfis sociais. Quanto uma vida feliz mostrada no Facebook e Instagram podem ser falsas?
Mais uma visão do filme por Fabiana Zau
Dizem que só o amor de pai e mãe pode ser considerado de fato incondicional. E ao ser usado esse adjetivo para caracterizar tal relação, muitas vezes é atribuído uma certa falta de limites e um “fechar de olhos” ao comportamento dos pais perante seus filhos. Afinal, amar incondicionalmente intrinsecamente está relacionado a uma total disposição de eternamente estar apto a apagar e perdoar o erro do ser amado, independente da gravidade destes. Não é? Ou não?
É exatamente essa discussão que o longa “Buscando” dirigido por Aneesh Chaganty e distribuído pela Sony Pictures pretende levantar. Existe uma fronteira entre querer proteger a cria a qualquer custo e não deixar que isso contamine a própria moral? É possível “julgar” moral, caráter e ética quando se trata da vida e futuro de um filho? Até onde vai o bom senso social que todos nós como cidadãos precisamos ter para conviver bem em sociedade e, aquilo, ou melhor, a única coisa que está acima disso tudo; o amor paternal e maternal?
Quando a situação envolve laços de amor e afeto tão profundos e incompreensíveis para quem não os tem, então, existe um acordo onisciente de que há permissão para qualquer atitude mesmo que essa vá contra o que é tipo como correto diante da lei? Ou para tudo tem que ser imposto um limite até mesmo, se tal imposição significar entregar um filho à própria sorte?
David Kim (John Cho) é um pai viúvo que ainda não superou a morte de sua esposa devido ao câncer e se vê sozinho e despreparado para assumir a função de pai sem o apoio de sua mulher. Sua filha, Margot (Michelle La), é uma adolescente de 16 anos que sofre em silêncio pela perda da mãe que era muito próxima de si e por isso, lida com o luto de forma reclusa e fechada, tendo seu tio (irmão do pai) e a internet como únicas companhias.
Sua relação com seu pai estremece muito depois da partida da mãe, pois ambos não conseguem se abrir um com o outro sobre o que estão sentindo, de forma que nada é mais como antes. Aquela família perfeita e unida que é apresentada ao público no começo do filme deixa de existir. Cria-se um buraco impenetrável entre pai e filha que interfere na intimidade entre os dois.
Me chamou muita atenção o motivo por trás da garota ter abandonado as aulas de piano que tanto adorava quando a mãe ainda era viva. O pai estava tão preocupado em cumprir suas responsabilidades paternais e ao mesmo lidar com sua dor, que não enxergava que a filha também estava sofrendo pelo mesmo motivo que ele. Só com o tio que ela conseguiu dizer que o motivo dela odiar as aulas de piano era porque a fazia lembrar da mãe.
Todo esse afastamento culmina no enredo do filme que é o desaparecimento de Margot, após ela tentar se comunicar várias vezes com o pai, em vão. O que fica a dúvida; se ela queria realmente fugir, porque então tentou entrar em contato com ele? Esse é principal fator que leva David a pensar que se trata na verdade de um sequestro e não de uma fuga voluntária.
Para ajudá-lo nessa missão de resgatar a filha ou ao menos entender o que aconteceu com ela, ele conta com o auxílio da detetive Rosemary Vick (Debra Messing), uma mulher aparentemente competente, habilidosa e disposta a fazer o que estiver ao alcance para trazer Margot de volta. Afinal, existe algo que une ela e David. Algo que pode ser sua salvação como também sua desgraça; Rosemary também tem filho e justamente por isso, compreende a dor que ele está sentindo como pai. Fator este, que faz com que ela conquiste logo a confiança de David, pois só um pai ou uma mãe seriam capazes de lutar com tanto afinco para recuperar o filho de outro. Motivo pelo qual fica claro que não teria pessoa melhor para ser designada para o caso do que ela. Ou pelo menos, é o que parecia numa primeira análise.
Buscando é o tipo de filme que te prende do começo ao fim. Cheio de reviravoltas, os chamados “plot twist”, quando a gente pensa que já decifrou todo o enredo e sabe exatamente o que se passou com Margot, o filme te joga mais um balde de água fria e perdemos mais uma vez o fio da meada para recuperarmos e o perdermos mais outras vezes até o final do longa. Realmente, se tem uma coisa que fica clara do início ao fim, é que o roteiro de previsível não tem nada. Muito pelo contrário.
O ritmo da narrativa é bem acelerado (como um bom thriller deve ser), sempre apresentando novas pistas e nos confundindo ainda mais sobre a personalidade da garota, daqueles à sua volta e de como será o desfecho de tudo isso.
Além da questão pais e filhos, a internet também é outro tema que o filme se propõe a discutir. No mundo conectado que vivemos as relações acabam se tornando extremamente superficiais e as pessoas se transformam em personas que têm como objetivo apenas transmitir imagens falsas de si mesmas, onde o jovem por geralmente ser mais inseguro e suscetível a tudo isso, se torna o principal alvo dessa era digital.
É interessante como a internet está presente em todos os momentos do filme. Desde de seu início ao fazer uma retrospectiva da vida familiar dos Kim— do nascimento e trajetória de vida da filha até o falecimento da esposa através de arquivos salvos no computador, redes sociais e vídeos no youtube—, passando pela comunicação principal entre os personagens que se dá em grande parte virtualmente e até mesmo, na investigação que permeia todo o longa, onde os fatos são descobertos em sua maioria por meio de pesquisas e “stalkeamentos” nas mídias sociais.
O que leva a crer que “Buscando” é um filme feito sob medida para os tempos atuais.