No dia 23 de novembro estreou nos cinemas do Brasil o filme Boneco de Neve, inspirado no livro homônimo do autor Jo Nesbø, que conta a caça do detetive Harry Hole ao cruel assassino em série que ataca mulheres ao cair da primeira neve.
Há tempos eu esperava esse filme – e a expectativa de todos que conheciam o livro era grande. Boneco de Neve é um grande sucesso, e não é difícil perceber o porquê. A escrita de Jo Nesbø é detalhada, como um roteiro, te pega pela mão e te coloca dentro da história, lado a lado com os personagens, vivendo o mistério com eles. Seus personagens são profundos, cativantes, humanos – e monstros. O filme, se seguisse o livro, tinha tudo para dar certo… Mas não deu.
Li metade do livro antes de ir assistir ao filme (o que não estragou muita coisa, já que, até onde pausei minha leitura, já dava para sacar a identidade do assassino) e, logo no começo, já somos surpreendidos por uma escolha curiosa para a cena que abre o filme – o que já entrega metade do jogo para espectadores mais atentos.
E por aí foi uma série de decepções: a descaracterização de personagens principais, mudanças e simplificações extremas na história que custaram sua profundidade, escolhas dúbias de atores, furos no roteiro, piadas óbvias que fazem você sentir pena da cena… Nem mesmo a parte que eu não tinha lido ainda me agradou por eu não ter com o que comparar – se possível, achei ainda pior.
A atrocidade que fizeram com Eragon ecoava em minha cabeça durante a sessão. Quem leu o livro ainda tinha algum chão no qual se manter, mas acredito que, a maneira como escolheram contar a história confunda muito quem não leu. Há muitas pontas soltas e a linha do tempo é falha e mal representada – lembram quando falei que o livro te pega pela mão e te leva pra história? Pois o filme vem de fininho pelas suas costas e te empurra com um pontapé do alto de uma paisagem cheia de neve, você sai rolando sem ter onde se agarrar para parar e entender o que está acontecendo, até chegar atordoado lá em baixo.
O livro foi um sucesso por um motivo: era bom. O filme não precisava sair tanto da zona de conforto para tentar fazer algo para os cinemas – acabou sendo um grande tiro no pé e se tornando uma farofa de neve. Fiquei tão chocada com o que assisti que depois fui procurar algumas informações sobre o filme, e li que o diretor, Tomas Alfredson (de Deixe Ela Entrar – o original – e O Espião que Sabia Demais), disse que não tiveram tempo de gravar todo o filme. Oi? Isso, infelizmente, explica muita coisa.
Primeiro, a surpresa em saber quem é o diretor. Não acredito que alguém vá de Deixe Ela Entrar para Boneco de Neve. É como se ele tivesse tido um problema de última hora e deixou a direção nas mãos do estagiário.
Talvez valha a pena para quem quer conhecer a história, ter uma ilustração superficial dos personagens e algumas mortes, mas… Aconselho fortemente a ler o livro depois. Por incrível que pareça, não desanimei de minha leitura, por saber que o filme distorceu e descomplexificou muitas coisas. Fiquei até curiosa para ler o resto e saber se as coisas que me deixaram decepcionadas, de fato, acontecem no livro da mesma forma…
Espero que não.