O Conforto no Lugar Comum: A Jornada do Herói Latina
É incrível como Besouro Azul faz do lugar comum, um ambiente confortável e convidativo. Sim, no lugar comum não há reinvenção, ou quebras de paradigmas, mas pode ser tão aconchegante que se basta. E é exatamente nesse lugar comum, já visto tantas vezes, que Besouro Azul se acomoda. E isso, não necessariamente, é algo ruim.
O longa, baseado nos quadrinhos da DC, conta a história de Jaime Reyes, mexicano, recém-formado, que ganha superpoderes quando um misterioso escaravelho se prende ao seu corpo. Dirigido por Angel Manuel Soto, o filme conta com Xolo Maridueña e Bruna Marquezine nos papéis principais.
Eu confesso que cheguei no cinema sem expectativas e, para a minha surpresa, recebi um filme cheio de carisma, divertido e com um acento cômico bem carregado. E bom, esse pode ser um ponto discordante entre os que preferem algo mais sério, mas, muito por conta do excelente elenco, o timing cômico funcionou quase todas as vezes comigo. Também é preciso alertar os desavisados que as piadas recorrentes, que alguns amam e outros odeiam, estão presentes aqui. E apesar de passarem do ponto, em alguns momentos, funcionou perfeitamente comigo, ao ponto de me tirarem sonoras gargalhadas.
Ausência do Estilo Snyder é ponto alto
Aqui não vemos, nem por um breve momento, resquícios da era Snyder. Sem abuso de slow-mo aqui senhoras e senhores. O recurso que ficou marcado no DCEU deu espaço para mais desenvolvimento do núcleo de Jaime Reyes, nosso protagonista. E esse definitivamente foi um acerto. A direção de Angel Manuel Soto não é inventiva e também não se arrisca, mas traz consigo a bagagem cultural necessária para que a representatividade fizesse sentido.
A família Reyes é um poço de carisma, o que garante a conexão do espectador com as personagens. Com destaque para o Rudy (George Lopez), Milagro (Belissa Escobedo) e a Vovó (Adriana Barraza), que realmente são maravilhosos. Acredito que muito desse mojo se dá à forte representatividade latina, que faz com que nos identifiquemos com diversas coisas inseridas no filme, algumas de forma sutil, outras bem escancaradas.
Todas essas interações fazem com que você se importe com cada um deles. Mas não se iluda, não teremos um desenvolvimento muito além do superficial com nenhum deles. Mas é possível sim extrair mais do que a mera horizontalidade de um pires de casa um.
Quanto aos costumes do povo latino, infelizmente é inevitável dizer que muitos não perceberão essas nuances, que chamo carinhosamente de “carta de amor à Latino-América”. A união, a “bença”, a alegria, sempre ter lugar pra mais um, a TV aberta e suas novelas são coisas que dificilmente os norte-americanos se identificarão.
Besouro Azul tem Xolo Maridueña e Bruna Marquezine com Carisma e Química Inegáveis
Outra coisa que, definitivamente, não esperava, era me emocionar no filme do Besouro Azul. Mas por alguns acontecimentos e por questões como as que mencionei logo acima, o longa me deixou com o nó na garganta por mais vezes que achei ser possível. E muito disso porque o filme fez com que eu me sentisse em casa em vários momentos. Para além de emoção, ainda podemos pescar críticas ao capitalismo e a forma como os Estados Unidos enxergam imigrantes (ou não enxergam).
O que falar de Xolo Maridueña e Bruna Marquezine, senão que exalam carisma e química? É tão evidente quando os atores estão se divertindo e entregando tudo num papel, que fica difícil não se contagiar. Bruna está excelente, muitas vezes roubando a cena, no quesito atuação, mesmo diante de veteranos, como Susan Sarandon, que, estranhamente, está bem aquém do brilhantismo que sabemos que ela tem. E Xolo não fica nem um pouco atrás, com uma interpretação à altura do que se espera de um protagonista.
Diante dessa leva de filmes de heróis onde todos os trajes são feitos em computação gráfica, é realmente um refresco para os olhos se deparar com um traje prático. E isso deu uma fisicalidade palpável muito bem-vinda. Já que estamos falando em CGI, ele pouco me incomodou aqui. Exceto pela interface do traje, que continua tão ruim quanto nos trailers.
Pontos Fracos da Narrativa
Mas nem tudo são flores. Besouro Azul também tem pontos negativos, alguns muito evidentes. A história, todos já vimos. O roteiro segue a já tão explorada jornada do herói, quase que passo a passo. Você viu em O Homem Aranha, em Star Wars, em Matrix, em todos os filmes da Marvel e mais outras centenas que seguem a mesma fórmula. Sim, eu não estava mentindo a respeito do lugar comum.
Devo dizer que o roteiro é mesmo um dos pontos fracos de Besouro Azul. Entenda, estar em um lugar comum e repetir a jornada do herói não é um demérito, como já disse. Mas quando a conveniência se dá a todo momento, a suspensão da descrença tende a ser abalada e pode tirar totalmente da imersão o espectador menos engajado. É quase como quando planejamos uma viagem e, na hora de escolher a estadia, procuramos um local com supermercados, restaurantes e farmácias por perto, só para não ter tanto trabalho. Um verdadeiro roteiro preguiçoso.
Aparentemente, a era dos vilões genéricos e com o carisma de uma abobrinha se recusa a abandonar a DC. Tirando o Conrad Carapax, que, apesar de passar dois terços do filme sendo uma personagem bidirecional, tem um desenvolvimento nos quarenta e cinco do segundo tempo que até convence, a Victoria Kord é completamente caricata.
Besouro Azul traz excesso de conveniências e Problemas no Terceiro Ato
Outro ponto negativo está no fato da DC continuar tendo problemas com seus terceiros atos. E aqui não é diferente. Depois de um primeiro e segundo ato equilibrados, a despeito das conveniências, o roteiro entra em modo turbo e, além de acelerar, traz tantas facilitações, que o espectador mais desatento começará a questionar os acontecimentos. Como, por exemplo, por que um personagem saber usar algo que nunca havia visto antes? Ou ainda guardas que desaparecerem e reaparecerem de forma conveniente.
Besouro Azul se destaca como um filme que traz alma, carisma e diversão em uma história de origem honesta. A força da família Reyes e a representatividade latina criam conexões emocionais, enquanto a química entre Xolo Maridueña e Bruna Marquezine adiciona vida aos protagonistas. Apesar dos pontos negativos, o longa consegue emocionar e transmitir críticas sociais de forma tímida, mas cativante. Besouro Azul se torna um exemplo de como a familiaridade pode ser bem explorada, resultando em uma experiência cinematográfica agradável e envolvente.
Besouro Azul estreia dia 17 de Agosto somente nos cinemas
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