Beekeeper – Rede de Vingança, novo filme de David Ayer (Esquadrão Suicida), chega aos cinemas próxima quinta-feira com a tarefa de trazer um pouco de escapismo adulto em meio a tantas ofertas infanto-juvenis de Janeiro. Desde já, confesso que tinha total descrença para com a qualidade dessa obra. E posso dizer que o histórico dos principais envolvidos foi a maior razão para que estivesse tão desconfiada. Afinal, David Ayer não tem lá grandes obras no currículo e Jason Statham já coleciona alguns filmes de ação duvidosos. Ainda que a presença de Jeremy Irons e Josh Hutcherson representassem um feixe de luz numa sala escura, minhas expectativas estavam abaixo do nível do mar.
Mas, para a minha incrível e grata surpresa, Beekeeper está longe de ser a bomba que pintei em meus pensamentos. Pelo contrário. Diverte, apresenta uma ação coesa, empolga e ainda nos dá um vilão assustadoramente real. Para além disso, tenta, de forma tímida, abordar assuntos relevantes. E eu, que já estava pronta para soltar um “deve ser dívida de jogo”, acabei bastante satisfeita. Mas claro, em toda obra existem problemas e falarei deles mais à frente.
Um Enredo Clássico com Toques Atuais e Relevantes
No longa de ação, com uma pitada de mistério, um ex-agente de uma organização secreta chamada “Beekeeper” busca vingança contra uma empresa de phishing, após uma amiga querida perder a vida ao cair em um golpe cibernético. Sim, um enredo clássico de vingança. Mas o tempero a mais aqui é a presença de um fator bastante atual e relevante. A ignorância tecnológica e como a educação digital para idosos é negligenciada.
Não, o filme não faz uma crítica profunda à segurança cibernética. A narrativa serve apenas como força motriz para as motivações do protagonista. Mas, tendo em mente a quantidade de golpes aplicados diariamente, é um assunto tão passível de acontecer que vale dar um crédito maior aqui. Se isolarmos o plot e olharmos com atenção, é possível extrair sim alguma reflexão. Mesmo que o filme, em si, não passe das 2 linhas de texto.
Beekeeper – Rede de Vingança tem como agente motivador a senhora aposentada Eloise Parker (Phylicia Rashad), que, após receber um alerta de vírus na tela do seu computador, resolve ligar para o número do “suporte”, sem saber que na verdade estava caindo em um golpe que iria zerar todas as suas contas. Com isso, o filme evidencia a vulnerabilidade que idosos possuem em ambientes virtuais. Afinal, se para nós, que lidamos com e-mails, sites e arquivos suspeitos todos os dias já é difícil, para pessoas de maior idade é como estar em um bote inflável no meio de um lago cheio de crocodilos.
Já entrando no campo da teoria conspiratória, de onde tiraram a ideia de mistério do filme, uma rede de fraudes e golpes, que vai muito além de se aproveitar de pessoas vulneráveis, é descoberta. E é aqui que o argumento força na boa vontade do espectador. Já que o conceito dos Beekeepers é um tanto confuso. Não o que eles são ou fazem, mas a nomenclatura em si. Tendo isso em mente, o roteiro faz verdadeiros malabarismos para que essa narrativa se encaixe com todo o resto.
Personagens, Mistérios e Potencial de Continuação
Assim como a grande maioria das personagens de Jason Statham, Adam Clay possui a profundidade de uma folha de papel ofício. Além de ser um ex-agente de uma organização secreta, nada mais se sabe sobre seu passado. Na verdade, pouco se sabe de qualquer coisa nesse filme. No entanto, o não saber, aqui, não tornou o filme sem substância. Pelo contrário. O não saber gerou curiosidade. Não apenas pelo passado de Adam Clay, como também pela organização a qual ele fez parte. Dando margem para uma continuação e, quem sabe, uma possível franquia.
E é preciso destacar aqui que, apesar de não ser um bom ator, Statham já se consolidou como um dos principais nomes quando falamos de filmes de ação, já sendo uma referência moderna do gênero. E o fato do ator ser versado em karatê, kung fu e kickboxing, deixa suas coreografias de luta com muito mais peso. Por isso, Adam Clay parece ter sido criado sob medida para ele.
A agente Verona de Emmy Raver-Lampman é uma mulher de mãos atadas, em uma corporação que não consegue ir muito além das barreiras da hierarquia de poder. E, por mais que pareça apenas mais uma personagem, que não cansa de estar sempre apontando uma arma em qualquer cena em que apareça, ela mantém suas motivações bem claras e justificadas.
Já Josh Hutcherson está ótimo como Derek Danforth. Um vilão crível, tão alto em nível de poder que enxerga as pessoas meramente como números. Também no time dos vilões, o ex-agente da CIA Wallace Westwyld, interpretado pelo excelente Jeremy Irons, que nos brinda com ótimos, e cômicos, momentos de desespero.
Beekeeper – Rede de Vingança não inova, mas proporciona entretenimento
Beekeeper tem uma direção pouco inventiva e recicla muito do que já foi visto em tantos outros filmes de ação que funcionaram. Sendo assim, o público certamente se sentirá familiarizado com várias cenas e estruturas narrativas. É fácil se lembrar de John Wick, Identidade Bourne e tantos outros de sucesso. E, apesar de ser um fator limitante de potencial e originalidade, ele cumpre perfeitamente ao que se propõe: um filme de ação escapista.
Beekeeper – Rede de Vingança acerta ao oferecer um refúgio em meio às opções cinematográficas de janeiro. Proporcionando uma experiência empolgante e surpreendendo ao superar as expectativas um tanto céticas quanto à qualidade da obra. Tanto Ayer quanto Statham conseguem entregar um filme que, embora não reinvente a roda, consegue cativar o público.
Por fim, a abordagem do filme sobre a vulnerabilidade digital de idosos, embora não aprofundada, foi uma excelente camada extra. O longa revigora o gênero e proporciona um escape envolvente para o público ávido por adrenalina nas telonas. Definitivamente, um ótimo filme.
Beekeeper – Rede de Vingança estreia dia 11 de Janeiro, somente nos cinemas
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