O longa “Back to Black“, que conta a história de vida da cantora Amy Winehouse, é dirigido pela inglesa Sam Taylor-Johnson, e tem Marisa Abela interpretando Amy. O enredo se concentra entre os anos da vida adulta da artista, o lançamento de seus dois discos, sua vida familiar e seu relacionamento com Blake Fielder-Civil, com quem foi casada.
Amy Winehouse foi uma pessoa muito complexa. Uma artista brilhante, genial, de fama radiante, com uma vida pessoal cheia de vícios e controvérsias. Todos os ângulos de sua biografia são visões intensas, cheias de tramas a serem contadas. E o que se vê em tela não consegue aprofundar nenhum aspecto.
É compreensível que cinebiografias tenham esse desafio: qual caminho tomar para relatar a vida de alguém? Privilegiar o lado artístico ou o pessoal? Abordar um episódio específico, ou tentar cobrir tudo que puder ser de interesse do público? Como dosar tudo isso? Cada caso é um caso, mas aqui, nesse específico, qualquer escolha dessas permitiria a realização de um filme mais interessante.
“Back to Black” tenta falar de quase tudo, mas acaba sempre sendo superficial. A atuação de Marisa Abela é esforçada e tem alguns bons momentos, mas falta malícia, falta aquele ar sagaz que Amy exalava. O alcoolismo, a bulimia, o vício em drogas pesadas, o conflito com a fama, tudo é citado de forma leve, sem o peso e as consequências extremas que causaram.
A carreira musical parece mero pano de fundo, com prêmios sendo mais importantes do que os discos em si. A influência do hip-hop em sua obra é completamente ignorada. Mark Ronson, produtor fundamental e amigo da cantora, nem aparece. Certa liberdade artística quanto a precisão de fatos e cronologias históricas pode ser tolerada. Mas há limites que precisavam ter sido mais respeitados.
O que leva a mais um grande problema da película, que é a forma como o pai e o ex-marido são retratados. Mitch Winehouse é, no mínimo, uma figura polêmica. Se mantinha uma relação próxima e carinhosa com a filha, também foi acusado muitas vezes de se aproveitar e faturar em cima de sua fama. O filme só mostra o lado bom, apenas do pai presente. Blake, que entre idas e vindas de um relacionamento extremamente tóxico com a cantora, a introduziu às drogas pesadas, e aqui também é retratado de forma amena, como alguém muito mais inocente do que foi.
É impossível não comparar “Back to Black” com “Amy”, documentário de 2015 vencedor do Oscar. Mesmo sabendo da diferença de linguagens, onde este novo lançamento é raso, o anterior investiga profundamente a vida da artista em todos seus aspectos. Sua música, sua fama, suas relações abusivas, seus últimos anos sofridos. É um registro triste, mas verdadeiro.
A divulgação de “Back to Black” traz a ideia de celebrar a obra e a pessoa que foi Amy Winehouse. Não há essa grande celebração musical, nem reflexão sobre as agruras da fama, nem sofrimento com vícios. “Back to Black” tenta pintar uma fotografia domesticada, de uma pessoa que foi selvagem e incontrolável. E mesmo essa fotografia domesticada é decepcionante.
Posts Relacionados:
A Hora da Estrela é restaurado digitalmente
Planeta dos Macacos: O Reinado e os ecos do passado
O Dublê é sessão da tarde sem medo de ser feliz
Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais: