Aquaman 2 chega aos cinemas tão perdido quanto o Reino de seu subtítulo. Um filme que vem de um universo cinematográfico que já não existe mais, e que não o leva a lugar algum. Mas é preciso parabenizar os esforços de manter esse filme o mais afastado possível do malfadado DCEU. Não que isso tenha melhorado o seu desempenho, mas pelo menos não nos deparamos com alguma menção embaraçosa ao, agora extinto, Snyderverse.
Na trama, que se passa após os eventos do primeiro filme e é novamente dirigida por James Wan, Arthur Curry (Jason Momoa), agora pai, é forçado a proteger Atlântida da devastação depois que uma antiga força é libertada. O Arraia Negra volta como principal antagonista, desta vez em posse do Tridente Negro, uma arma ancestral que lhe confere um poder que pode destruir tanto o mundo submerso, quanto a superfície. Dessa forma, Aquaman precisa fazer uma aliança improvável com seu meio-irmão Orm, para proteger Atlântida e o mundo de uma devastação irreversível.
Aquaman 2: O Reino Perdido Ignora o Legado do DCEU
Sim, com o lançamento de Aquaman 2: O Reino Perdido, podemos oficializar o fim do DCEU. E sendo o último a apagar a luz, a trama de Arthur vêm à “superfície” como um brinquedo caro, mas sem pouca utilidade. Um elefante no meio da sala. Daqueles que você não vê a hora de remover. As polêmicas também não foram um bom aditivo para a produção, que sofreu com seu desenvolvimento por conta da pandemia, com o escandaloso julgamento Amder Heard x Johnny Depp e, ainda, com o anúncio prematuro do encerramento do DCEU. Para além disso, os infindáveis cortes já indicavam que alguma coisa já estava errada.
Diante de tanto, é de se esperar que as expectativas para o filme estivessem bem baixas. As minhas, pelo menos, estavam. E digo que a maior probabilidade, nesses casos, é de uma experiência positiva. Afinal, quando não se espera muito, qualquer recompensa acaba sendo válida. Em casos recentes, posso citar como exemplo o Besouro Azul. Que entrei na sessão esperando algo bem ruim e acabei me surpreendendo. Infelizmente, não foi o caso de Aquaman 2: O Reino Perdido.
Entre Risos e Constrangimentos
No primeiro longa, de 2018, um dos acertos foi deixar a trama mais leve e abraçar o colorido, assumindo uma composição brega, mas legal. À época, Aquaman parecia um filho rebelde diante de um mar de tons frios. Hoje, o “brega legal” deu lugar à vergonha alheia em muitos momentos. Desde piadas escatológicas, que, a menos que você seja fã dos filmes do Adam Sandler, arrancarão, no máximo, uma cara de nojo, a diálogos sofríveis. Tirando alguns momentos inspirados, parece tudo uma grande dívida de jogo.
Uma das minhas surpresas foi diante do nível de participação de Mera na trama. Muito se especulou sobre uma possível redução de tempo de tela, devido às polêmicas envolvendo Amber Heard. E é inegável que houveram cortes de cenas, mas menos do que imaginava e, certamente, muito menos do que alguns gostariam. Mas, apesar de estar casada com Arthur, a química, já mínima no primeiro filme, passa a ser inexistente nesse segundo. Com isso, muito pouco é mostrado do romance do casal.
Arthur e Orm como Versões DC de Thor e Loki
A presença de Mera foi substituída por um enredo que já se provou promissor em outro estúdio. Eu gostaria de evitar comparações, mas como o próprio filme não demonstra interesse em ser sutil, Arthur e Orm é, definitivamente, as versões da DC de Thor e Loki. Incluindo todo plot desenvolvido em O Mundo Sombrio. Irmão engraçado precisa se aliar ao irmão não confiável para uma missão: check. E isso acaba sendo umas das coisas mais positivas em Aquaman 2. Apesar de batido, a evolução da relação dos dois é bem cativante e te prende a atenção.
O antagonismo, dessa vez, é dividido entre o Arraia Negra e um outro vilão operando nas sombras. E, ainda que o roteiro ainda siga com os desejos de vingança do Arraia, a abordagem climática é inserida como um alerta, nada sutil, à necessidade de diminuir o uso de combustíveis fósseis, antes que seja tarde demais. Uma metáfora tão didática, que poderia ser apresentada em sala de aula.
Quanto à atuação, parece que não houve esforço algum por parte de todos os interessados. Tanto diretor, quanto elenco, parecem estar cumprindo tabela. Jason Momoa interpreta ele mesmo, enquanto Amber talvez apresente a pior atuação de sua carreira. Talvez, o mais dedicado seja o Patrick Wilson, que não se leva a sério e aceita a cafonice de bom grado.
Aquaman 2: O Reino Perdido coleciona referências à cultura pop. Desde horror cósmico, passando por King Kong e Star Wars, até a concorrente Marvel. Desde cenas à menções verbalizadas. Mas sabe o que não tem? Referências ao próprio universo em que esteve inserido desde 2018. E é compreensível o distanciamento de um universo tão conturbado, e que acarretou danos irreversíveis à todas as franquias pertencentes a ele. Mas não deixa de ser cômico a completa indiferença ao DCEU.
Estonteante, mas Menos Inventivo
A sequência mantém um visual estonteante, porém, menos inventivo. Enquanto o primeiro colecionava momentos visualmente esplêndidos, o segundo se conforma em apenas manter o deslumbre. Mas nem sempre o deslumbre é o suficiente para camuflar um CGI ruim. E nesse aspecto, o filme transita entre um CGI incrível e outro tenebroso. Mas o saldo acaba sendo positivo.
É perceptível que existe uma fadiga crescente do gênero de super-heróis. A falta de originalidade e a saturação de produções gera um desinteresse do público, que já não aceita qualquer coisa. A ascensão do gênero se deu pela escassez, pela carência de filmes desse tipo na indústria. Agora, só esse ano já tivemos cerca de 8 lançamentos dentro da temática. Das quais apenas algumas se salvam. Aquaman 2: O Reino Perdido não é uma delas.
Sendo assim, mesmo com seus momentos cativantes, especialmente na evolução da relação entre Arthur e Orm, Aquaman 2: O Reino Perdido não consegue superar o cansaço crescente do gênero de super-heróis. A saturação do mercado e a demanda por narrativas mais envolventes deixam evidente que, neste caso, o deslumbre visual não é suficiente para mascarar as deficiências do enredo.
P.S: o filme conta com uma cena pós-créditos bem indigesta.
Aquaman 2: O Reino Perdido está disponível apenas nos cinemas
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