Ambiente familiar é um longa-metragem realizado na Paraíba, idealizado por Torquato Joel. A narrativa apresenta três amigos, por diferentes ângulos, situações de vida, que passaram a se considerar família devido as semelhanças de suas histórias. A costura da obra é realizada exatamente através da lembrança de infância dos personagens, que, muitas vezes, parece dissolvida e não interligada entre si, o que gera estranheza.
A história apresenta Alex (Alex Oliveira), Fagner (Fagner Costa) e Diógenes (Diogenes Duque), com idas ao passado de cada um, mostrando os problemas familiares que enfrentaram. O nome dos personagens e dos atores é o mesmo por se tratar de um roteiro verossímil baseado em conversas que estes tiveram com o autor.
O roteiro do longa caminha como a mente de um adulto sobre suas memórias de infância, de maneira turva, atemporal, descontínua, e como há uma costura entre as três histórias das crianças que na infância não se conheciam, fica bastante confuso acompanhar a trama. Isso se intensifica em determinado momento, quando o autor mistura um outro tipo de linguagem criativa para contar uma passagem em formato de desenho, uma espécie de stop motion, o que cria uma desconexão com tudo o que havia sido construído até então.
Alex, Fagner e Diógenes, agora adultos, moram juntos, mas a relação entre eles é de pura amizade e empatia pelas descobertas e vivências que tiveram para além da divisão de despesas da casa. Os três jovens amigos caminham para forjar essa ressignificação do que é família, tendo em vista o que passaram quando ainda crianças. É notório o esforço do autor para retratar as dificuldades, afetivas e sociais, da infância destes personagens, e a necessidade de tentar retratar com o exemplo destes o que muita gente passa em sua caminhada para a vida adulta, o que gera empatia e desconforto ao mesmo tempo.
A partir dos flashbacks, a tentativa de Torquato Joel é claramente de representar uma parte da população brasileira que enfrenta diariamente os traumas do passado para conseguir seguir no presente, pois é exatamente esta a trajetórias dos três personagens. Em pleno mês de setembro, onde falamos sobre “Setembro Amarelo”, é importante frisar o quanto é interessante a proposta da trama no sentido de que estes três personagens, buscam dentro de si e em sua amizade e relação, a solução destes traumas. Porém, uma coisa é intenção, outra execução, que neste caso não foi muito eficiente, a narrativa fica um pouco solta e muitas vezes se perde.
As gravações aconteceram em João Pessoa, cidade natal do diretor e dos protagonistas, que se conheceram quando o autor veio à alugar seu apartamento para eles, e esta passou a ser mais que uma república jovem. O restante das gravações, com belas paisagens, ocorreram em Tambaba, Cabedelo, Guarabira e no Brejo Paraibano.
Saliento que o filme é para um público bem seleto, que gosta de cinema alternativo, sensorial e de arte, pois a visão cinematográfica que a trama passa não é de um longa bem amarrado, com a estrutura narrativa que se está acostumado, e pela maneira como foi construído, o filme caminha como a nossa mente, de forma abstrata e obscura, não é algo cronológico ou dinâmico, pode se demorar para que consiga enxergar cada um de seus personagens.
Torquato Joel tem filmes premiados e indicados à festivais, dentre eles: festivais nacionais: Passadouro (19 prêmios, incluindo melhor filme, fotografia e direção, no Festival de Gramado), Transubstancial (15 prêmios, incluindo o de crítica, no Festival de Brasília) e À Margem da Luz (14 prêmios), entre outros. Alguns de seus filmes foram selecionados para festivais internacionais, como Roterdã (Holanda) e Huesca (Espanha).
O filme estreia em 26 de setembro pelo Projeta às 7, iniciativa da distribuidora Elo Company em parceria com a rede Cinemark, que dá chance para cineastas e documentaristas exporem seu trabalho em um horário nobre e com boa distribuição. A exibição ocorre em 20 salas, de 19 cidades do país.