Alien: Romulus chega aos cinemas nesta quinta-feira, 15 de agosto, sob a direção de Fede Alvarez. E, assim como muitos, meu primeiro pensamento foi “eles ainda não cansaram?”. Afinal, Prometheus e Alien: Covenant, ambos dirigidos por Ridley Scott, deixaram a desejar em vários aspectos da franquia. Mas a ideia de situar essa sequência entre Alien, o Oitavo Passageiro e Aliens, O Resgate, além da mudança na direção, despertou meu interesse.
História
Alien: Romulus nos leva direto a uma colônia humana em um planeta terraformado que se assemelha mais a uma prisão. Lá, os habitantes são forçados a trabalhar para acumular horas suficientes para conseguir uma passagem só de ida para “um lugar melhor”. Convenhamos, essa é a forma mais didática de se explicar lutas de classes que já vi.
Nesse contexto, Rain, uma jovem órfã, e seu irmão androide Andy, na esperança de sair desse lugar, acaba aceitando a oportunidade oferecida por um amigo. Junto a um grupo de jovens exploradores, eles se arriscam nas profundezas de uma estação espacial abandonada. Mas, ao procurarem a tecnologia necessária para que eles pudessem seguir para esse lugar paradisíaco, acabam se deparando com um outro tipo de colônia, o que os força a uma luta desesperada por sobrevivência.
Alien: Romulus retorna às origens sem se apoiar na nostalgia
Uma das maiores críticas à franquia Alien, era a de como os filmes subsequentes foram se tornando mais produções com foco em ação e ficção científica do que terror. Sim, havia elementos, mas nem de longe chegavam à atmosfera criada no longa original. Então, foi com certa desconfiança que fui assistir Alien: Romulus. Mas, para minha surpresa, a sequência consegue exatamente o que se propôs: um retorno às origens.
Alien: Romulus retoma os ares de terror, criando um ambiente claustrofóbico e a sensação constante de que ninguém está seguro. Porém, apesar de ser anunciado como uma sequência direta do primeiro filme, ele se parece mais com um soft reboot. Refazendo passos do clássico, enquanto se aproveita de referências de toda a franquia. Resgatando elementos até mesmo do quarto longa, considerado, por muitos fãs, o pior. Apesar disso, Alien: Romulus não se apoia na nostalgia para acontecer. As referências estão lá para acrescentar e não para pesar na história.
Alien: Romulus encontra seu ponto fraco no desenvolvimento de personagens
Essa construção atmosférica é eficaz, mas sua força poderia ser amplificada com um desenvolvimento mais robusto dos personagens. Infelizmente, Alien: Romulus peca nesse aspecto. E mesmo com os anseios válidos da protagonista, falta profundidade. Apesar de possuírem motivações válidas, elas são básicas. Outro fator é que sabemos pouco, ou quase nada, de nenhum deles. E isso atuou diretamente com o quanto eu me preocupava com todos em cena. E, apesar do filme se esforçar para criar um ambiente de incerteza sobre a segurança dos personagens, é bastante nítido quem não vai morrer. Chegando, inclusive, a criar situações que desafiam a lógica quando o assunto é a sobrevivência de personagem x.
O longa conta com um elenco majoritariamente em ascensão. Os destaques aqui ficam a cargo de Cailee Spaeny (Guerra Civil) e sua Rain, com uma interpretação incrível ainda que contida, e Isabela Merced (Madame Teia), que interpreta Kay de maneira visceral. David Jonsson (Rye Lane – Um Amor Inesperado), como o sintético Andy também está ótimo, ainda que não tenha funcionado como alívio cômico. O restante do elenco é operante e faz o melhor com o que tem em mãos.
Direção, simbolismo e metáforas
Alien: Romulus tem Ridley Scott na produção e a direção de Fede Alvarez, que ficou conhecido por dirigir a nova versão de A Morte do Demônio e O Homem nas Trevas. E a decisão de entregar o projeto a alguém que já se provou bastante competente quando o assunto é terror, foi uma das mais acertadas. Fede explorou de forma eficaz os vários simbolismos da franquia, sem sobrepô-las à proposta central. Mas tampouco relegou-as às sombras da subjetividade.
A crítica ao capitalismo e à exploração de trabalho, onde a corporação coloca o lucro acima das vidas humanas, está lá mais uma vez. Assim como as metáforas sexuais, tão exploradas em todos os filmes da franquia. O desconforto causado pela ideia de violação e invasão corporal são um reforço à construção de um ambiente de medo e paranoia. Assim como um lembrete de um medo muito real enfrentado por tantas mulheres.
Alien: Romulus tem destaque técnico
Alien: Romulus também tem destaque em sua trilha sonora, que, juntamente a uma ótima edição de som, consegue transmitir urgência, temor e perigo. E sabemos o quanto uma trilha pode ajudar na imersão, ou te tirar completamente dela. O espectador dificilmente ficará relaxado enquanto assiste ao filme.
Mais por uma restrição tecnológica e de orçamento que por escolha criativa, o primeiro filme se limitava à sugestão, com direito a poucos vislumbres da criatura. Já a produção de Alien: Romulus optou por uma abordagem mais “exibicionista”, ainda que relativamente equilibrada. Embora os aliens possam ser vistos mais vezes, o diretor tomou o cuidado de não saturar sua presença.
Outro fato favorável é que a produção não se restringiu ao uso de cgi. Muitos efeitos práticos também foram utilizados para algumas cenas. Além de cenários inteiramente construídos. O resultado é um ambiente crível e uma maior imersão nesse universo. A tecnologia de AI também foi utilizada, mas dessa vez para trazer de volta um certo personagem.
Alien: Romulus faz jus ao legado
Alien: Romulus consegue resgatar a essência que consolidou Alien como um ícone da cultura pop e uma referência quando o assunto é terror sci-fi. Com uma ambientação claustrofóbica e tensa, Romulus acerta na escolha criativa. Ainda que peque no desenvolvimento narrativo dos personagens, é uma grata adição a uma franquia que há muito estava respirando por aparelhos.
Posts Relacionados:
Meu Filho, Nosso Mundo: Uma Jornada Emocionante de Amor e Autismo
É Assim que Acaba é Sensível e Necessário
Borderlands: A Adaptação Cinematográfica que Falha em Cativar
Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais: