“A Infância do Brasil”, de José Aguiar é uma história em quadrinhos que trata de um tema bastante relevante

“Vigiar ao passado pela mão das crianças e enxergá-las além dos clichês, nos dias de hoje: esse é o convite que nos faz José Aguiar em mais uma história em quadrinhos simplesmente espetacular! Um livro em que historiadores e um grande quadrinista fazem ciranda, e as imagens são, ao mesmo tempo, aliadas e uma fronteira desconhecida para as fronteiras.” A frase escrita no prefácio pela historiadora e escritora ganhadora do prêmio Jabuti, Mary del Priore, resumo bem a proposta presente no livro escrito por Aguiar.

A história com roteiro e desenho de José Aguiar e cores por Joel de Sousa, publicada pela editora AVEC, contém uma forte crítica social em relação a como tem sido a vida das crianças na sociedade brasileira. Criada através de uma recuperação da história do Brasil – mas especificamente da infância do Brasil -, o autor destaca que há mais de seis longos séculos as crianças brasileiras, sofrem com os mesmos problemas.

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Dividido em seis partes – séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI – que retratam aspectos específicos de cada século abordado, José Aguiar utiliza de características que faziam parte do período e de como as coisas eram, cultural e socialmente – como a colonização e exploração do Brasil -, para elucidar a reflexão sobre grandes problemas como a violência, pobreza, desigualdade na saúde, educação e na cidadania, fome, abandono, desafeto e desamor, assim como o abuso e o machismo, que são alguns dos mais destacados nos dias atuais. Problemas que têm afetado essas crianças e lhes roubado a preciosidade da infância, de brincar sem a consciência de que não é o mundo constituído apenas por alegrias.

Problemas que já foram há alguns séculos, amplamente comuns, e que aparentemente agora deixaram de o ser, mas que o autor usou em abundância para caracterizar esses períodos. Com inteligência, Aguiar reconstruiu cada período a partir de um problema amplamente enfrentado pelas crianças naquela época. Inicialmente, retratando a infância como ela era no século do “capítulo”, ele contextualiza-o, expõe o problema, e por fim, trás uma versão contemporânea do mesmo, uma versão mais escondida e mascarada pelas outras preocupações presentes nessa sociedade de coisas ínfimas e pessoas que preferem escolher o que querem enxergar.

 

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Com lindas ilustrações de cores suaves, mas ao mesmo tempo quentes para transmitir emoções e textos de contexto histórico – presentes no início dos capítulos -, escrito por grandes figuras do período do qual ele se tratam, José Aguiar criou uma história constituída por toda a história brasileira. Por séculos que marcaram a nossa existência, mas acima de tudo de nossas crianças. Uma narrativa que chama as pessoas para reflexão e a abrirem os olhos para aquilo que acontece ao seu redor, no ambiente em que vive diariamente, mesmo que nem tudo esteja na superfície.

Uma narrativa que procura conscientizar e, talvez, dar os primeiros passos para mudar o que tem se repetido durante mais de seis séculos – 600 anos de problemas que atingem os brasileiro desde a sua infância e que podem nunca mudar. É uma crítica para realçar a visão, imaginação e audição que tem a lê. Uma história simples e que pode não atingir ao agradar a todos, afinal, as pessoas são feitas de escolhas e gostos, mas que toca os que se deixam abrir para sentir o que ela diz.

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A arte da hq tem um traço mais anguloso e decidiram deixá-la com um pouco das características de um rabisco, quando o artista começa a fazer os primeiros esboços daquilo que tem em mente. Não deixando o desenho nem muito detalhado ao limpo, mas algo que combinasse mais com o roteiro da obra. Para a produção da história, Aguiar, fez muitas pesquisas e contou com a ajuda de alguns historiadores.

A INFÂNCIA DO BRASIL;

AUTOR JOSÉ AGUIAR;

CORES JOEL DE SOUSA;

ANO 2017;

PREÇO 40 reais.

 

Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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