A Filha do Palhaço é um filme brasileiro, dirigido, escrito por Pedro Diógenes e o roteiro também foi feito por Michelline Helena e Amanda Pontes (esta última também trabalha como produtora), já foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo, está recebendo elogios da crítica e está estreando nas telonas.
Na trama, passada na cidade de Fortaleza, capital do Ceará, Renato (Demick Lopes, ótimo no papel) ganha a vida como um humorista que apresenta seus shows em churrascarias, bares e casas noturnas. Ele se fantasia de mulher e sua personagem é a Silvanelly.
Sua vida vira do avesso quando sua filha Joana (Lis Sutter, igualmente ótima no papel), uma adolescente de 14 anos, chega de viagem para viver com ele por uma semana e o que de início foi uma relação estranha e conturbada, acabou sendo uma experiência que mudaria suas vidas para sempre.
A Filha do Palhaço não está ganhando a divulgação que deveria e o marketing está tímido, mas não é exagero nenhum dizer que é dos filmes mais bacanas do ano. Não apenas entre os filmes brasileiros, mas do cinema ponto.
É um retrato humano, sensível e verdadeiro de uma relação de pai, filha e de um conflito de gerações. Um grande acerto do roteiro está em não apontar o dedo e mostrar todos os pontos de vista.
Renato é o pai que, no passado, se apaixonou por um homem, abandonou esposa com a filha pequena e seguiu o seu caminho, mas não é apresentado como um pai ausente ou o clichê do cafajeste, mas como uma pessoa na luta diária para conseguir o pão de cada dia, mas que evolui como pessoa ao rever sua filha.
Ao passo que Joana também não é o clichê da adolescente mimada e ingrata, muito pelo contrário. Existe o estranhamento inicial e o trauma de não ter sido criada pelo pai, mas não demora muito para que ela compreenda sua luta e que comece um sentimento de admiração.
E se Joana é uma adolescente, fruto da sua época, com todos os dilemas, pressões da idade, além de estar sempre no celular, seu pai é avesso às tecnologias, se diverte com uma TV de tubo e seus DVDs.
Há dois momentos emblemáticos do longa, quando Renato faz críticas ao uso excessivo do celular em uma de suas apresentações e quando ele coloca o CD da cantora Joana em seu aparelho e toca a música Tô Fazendo Falta, que foi um hit em 1999 e combinou muito bem com o clima do longa – além de o nome da cantora e da protagonista serem os mesmos, também há um clima de saudade e nostalgia no roteiro.
Existe um plot twist no terceiro ato e a chagada de uma determinada personagem vai também abalar a vida dos dois. Também pode causar estranhamento de início, mas o roteiro foi igualmente cuidadoso com a abordagem e fazer com que o público tenha empatia com o que se vê em tela.
A Filha do Palhaço é um longa simples, direto, é cinema de guerrilha, feito na raça, que não ganhou a repercussão que merecia, mas quem sabe seja reconhecido com o tempo e se torne cultuado?
O Brasil precisa conhecer o Brasil.
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