Uma renomada agência de detetives; três associados; uma série de desaparecimentos; e um assassinato, são alguns dos elementos básicos que compõem o livro Guanabara real: A alcova da morte, escrito pelos autores A.Z. Cordenonsi, Enéias Tavares e Nikelen Witter, publicado pela AVEC editora.
Em um ficcional Rio de Janeiro de 1892, durante a noite de inauguração de um misterioso projeto arquitetônico do Barão do Desterro – um dos homens mais respeitados e poderosos da cidade -, e que promete revolucionar a engenharia brasileira, assim como transformar completamente a antiga estética do Corcovado, um assassinato envolvendo um aposento secreto na parede de um almoxarifado e dardos envenenados, acontece em meio a alta sociedade.
Entre os convidados, Maria Tereza Floresta – investigadora e dona da agência Guanabara Real – descobre sobre o crime e, juntamente com seus associados, Firmino Boaventura – engenheiro positivista – e Remy Rudá – um dândi místico-, vai em busca de descobrir a identidade do assassino, suas motivações e uma possível relação com o caso que a levou até o evento.
Em curtos capítulos, narrados individual e respectivamente pelos três detetives – cada um escrito por um dos autores -, o que proporciona diferentes pontos de vista, o livro conta de forma bastante descritiva, todos os passos realizados durante a investigação. Com os métodos de persuasão, perspicácia, inteligência e ousadia de Maria Tereza; o conhecimento mecanicista e numérico de Firmino e os talentos místicos e arcanos de Remy, a trama submerge o leitor em um ambiente versátil e repleto de possibilidades, onde ele percorre os mais variados caminhos e sensações.
Com palavras rebuscadas, mas de fácil leitura, os autores remetem de forma brilhante, ao período da narrativa – um Rio de Janeiro recém liberto da escravidão -. Desde as primeiras páginas é possível imaginar, com abundância de detalhes, as vestimentas, os veículos e costumes da época. Sentir a dificuldade da pessoa negra; de classe baixa e das mulheres de conseguirem seu espaço na sociedade. E como elas são questionadas e precisam conquistar seu espaço, diariamente.
A construção de cada personagem e suas características também é algo notável. Diferentemente de muitos livros policiais, eles conseguiram conquistar o leitor em proporções maiores do que a história. O que, se tratando de um suspense policial, poderia ser prejudicial, mas pareceu funcionar nesse caso, ainda mais se tratando de uma série de livros.
No entanto, apesar de todas suas qualidades e acertos, o livro tem ressalvas. Ele é previsível, e em alguns aspectos, repentino e apressado, tornando alguns pontos de conexão entre as investigações algo um tanto questionável, mas que não chega a atrapalhar o desenvolver da história. Na realidade, mesmo com toda a previsibilidade, há um plot twist interessante e que abre leques para os autores explorarem ainda mais esse universo e seus personagens, levando-os a novos patamares.
O livro é recomendável a todos que apreciam a leitura de um modo geral, assim como aqueles que gostam de um pouco de suspense e de personagens cativantes, que vão lhe proporcionar um bom momento. Ele é simples, intrigante e repleto de pequenas críticas, que apesar de frequentes nos dias de hoje, ainda se fazem necessária. A editora também fez um trabalho encantador, tanto na capa quanto na diagramação. É tudo muito bonito e demonstra o cuidado dedicado a suas obras.
GUANABARA REAL: A ALCOVA DA MORTE
AUTOR: A.Z.Cordenonsi, Enéias Tavares, Nikelen Witter;
EDITOR: Artur Vecchi;
DIAGRAMAÇÃO: Vitor Coelho;
ARTE DA CAPA: Poliace Gicele;
ANO: 2017
PREÇO: 34 reais.
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