Batman – Silêncio (2003), por Jeph Loeb, Jim Lee, Scott Williams e Alex Sinclair.
Quem é Jeph Loeb: premiado novelista norte americano, produtor de séries como Smallville, Lost, Teen Wolf e Jessica Jones, e quadrinhos como O Longo Dia das Bruxas, o próprio Silêncio, Demolidor: Amarelo, entre outros.
Quem é Jim Lee: ilustrador de quadrinhos talentoso que já trabalhou para Marvel, Image e DC em diversos títulos, como Wildcats, X-Men volume 2, Gen¹³, Os Novos 52.
Enquanto escrevo estou processando o que terminei de ler.
Já li várias estórias em quadrinhos (não sou especialista, antes que me julguem), mas não me lembro de ter me envolvido tanto com um enredo como o de “Silêncio”. Primeiro que para alguém se envolver assim com uma narrativa é preciso acreditar naquele universo, se desprender de preconceitos, caso tenha, e se comprometer a mergulhar na estória, se entregar emocionalmente.
Foi o que fiz. É claro que fica muito mais fácil embarcar em uma estória com uma narrativa de qualidade, e Jeph Loeb entrega exatamente isto. A trama toda possui diversos spin offs, carregada de vilões que vão surgindo aos poucos, e que complementam o mistério, fazendo você se perguntar o tempo todo quem é que está, de fato, por trás de todas as situações estranhas e violentas que acontecem na trama.
Alguém pode pensar que existem vilões demais, heróis demais, apresentados na estória, e que acabam ficando superficiais. Bem, eu discordo. Esta narrativa não está recriando o Batman, não está construindo o universo de Gotham City, mas sim um capítulo na estória consolidada de um morcego já maduro e calejado pelos inúmeros embates enfrentados.
O volume de personagens serve mais como artifício de linguagem narrativa, com o propósito de desviar a atenção do leitor dos reais motivos o grande vilão e de sua identidade.
Jeph Loeb escolhe bem quem precisa ser aprofundado e, neste caso, é, além do próprio Batman, a Mulher Gato. Selina.
Bruce Wayne está sofrendo, sem saber quem dos seus aliados será atacado, quem é seu inimigo, pela falta de controle da situação, pela ausência de um plano. Quando ele está se recuperando de uma quase morte, é Selina quem aparece como um possível porto seguro para o Batman. Mais uma vez, Jeph não precisa explicar quem é a Mulher Gato ou sua estória com o Batman. O que importa ali é que Bruce está fragilizado, com medo, inseguro, e pronto pra se entregar pra alguém que em algum momento balançou seu mundo, seus dogmas.
Mas uma estória em quadrinhos não existe sem um ilustrador, é óbvio. Então quem nos presenteia com traços e detalhes lindos é Jim Lee. Sim, seus personagens são bonitos, musculosos, as mulheres usam colan (pelo menos não estão seminuas), mas você entende que é assim que deve funcionar. Ninguém consegue ser ágil e se esgueirar com roupa folgada ou armadura, e isso serve para o Batman e para os Robins.
Jim Lee, acompanhado por seu colorista Alex Sinclair, deu vida ao universo de Batman de uma forma difícil de explicar. Eu senti falta de respiros, como cenas da cidade, aéreas, sem personagens, pra você descansar os músculos de toda tensão que a narrativa trazia. Mas isso não me cansou, não atrapalhou meu mergulho. De certa forma, essa falta de descanso fez com que eu sentisse um pouco do que o personagem estava sentindo. Ele não parava pra abstrair, pra fugir dos seus medos. Ele não podia. Nem eu.
O final do quinto volume é impressionante. Não é um vilão indestrutível, não é uma ameaça grande demais para o próprio morcego. Mas não precisa… a genialidade do antagonista e a forma que isso é contado durante a estória por Loeb é perfeita. O desenvolvimento da trama faz com que a resposta, ainda que na sua cara, fique nebulosa. Você não tem certeza. Será que esse vilão seria tão cruel? Será que ele mudaria seus métodos somente para enganar o Batman? Eu nunca vi um vilão que sobrepujasse todos os outros, principalmente o Coringa (já contei que não é o Coringa, mas tem muitos pra você se preocupar se ler a HQ), fazendo que ele sentisse medo, e isso me deixou confuso. Mais uma vez, palmas para Jeff Loeb.
É, com certeza, uma das melhores estórias em quadrinhos de herói que já li.