Um Reino em paz…
A sociedade é governada por um conselho igualitário…
As guerras há muito tempo terminaram…
Mas quando a cobiça pelo poder fala mais alto… Eclode uma batalha sangrenta, como nenhuma outra antes.
Uma guerra que durara vinte anos fora vencida por um feitiço arcano, libertando um mal hediondo na terra. Milhares de vidas foram sacrificadas para que a ânsia de poder de alguns fosse saciada. Uma cidadela fora erigida para treinar novos guerreiros e fazer frente à ameaça.
Após anos de batalha um guardião veterano acredita que poderá enfim deixar a frente de batalha, mas um acordo doentio destrói suas esperanças.
Conseguirá este guardião se reerguer, combater o poder instituído e ainda ajudar seu povo a erradicar os exércitos infernais?
Bem vindo ao Reino de Kor, encantador mundo criado pelo autor João Paulo Silveira para contar a história de Galaniel, o guardião. Já começo avisando que essa não vai ser mais uma daquelas histórias à lá Hércules… Não iremos acompanhar a trajetória de Gala rumo ao status de herói; pelo contrário, ele já o é, e buscava sua aposentadoria quando as coisas começam a dar errado, exigindo dele ainda mais força, coragem e determinação para enfrentar os demônios que moram dentro de sua mente e os da vida real.
Primeiro, somos apresentados ao Galaniel decadente: bêbado, infeliz, amargurado e assombrado. Porém, mesmo quando ele está no fundo do poço o guardião nos mostra seu bom coração e sua habilidade natural para ajudar aqueles que precisam de um defensor, o que o leva ao que parece ser sua segunda habilidade natural, se meter em confusões e arranjar inimigos! Ao ajudar um jovem a escapar de alguns ladrões, Galaniel acaba gravemente ferido à porta de uma família que o resgata e o ajudam não só a melhorar fisicamente, mas devolvem a ele, aos poucos, a sensação de pertencer a um lar.
O livro divide-se em capítulos que alternam entre o passado e o presente de Galaniel, nos contando um pouco sobre seus pais, sua infância e adolescência, como cresceu sendo treinado em sua casta para defender seu povo e sobre o terrível acontecimento em seu passado que o fez se afastar de seus deveres e de todos que conhecia. Mas, para entender o que aconteceu, primeiro temos que entender um pouca da história de Kor, reino dividido em castas segundo a habilidade de cada um, separadas por ataque, magia, cura e defesa (Avantes, Mentales, Biontes e Guardiões, respectivamente). Além de as castas determinarem a vida que a pessoa irá levar, também influenciam na política do mundo – que teve sua paz ameaçada pela sede de poder dos Avantes e Mentales, que entraram em guerra com a casta dos Guardiões com duras batalhas que duraram 20 anos.
Cegos pelo desejo de vencer de uma vez por todas a batalha contra os Guardiões, Avantes e Mentales concordam com um preço caro demais para pagar pelo fim da glória de seus inimigos. Eles finalmente conseguem o que querem, mas deixam o reino a mercê das garras de Balkatar e suas hordas infernais. Décadas e mais décadas se passaram sem que a guerra contra os infernais fosse vencida, até que um dia, quando o Sol nasce vermelho, Balkatar propõe um acordo: cinco pessoas de cada uma das cinco cidades deveriam ser entregues aos espectros, como um sacrifício para que os ataques acabem.
E claro, quem acaba sendo uma das pessoas escolhidas no primeiro sorteio? A esposa de Galaniel. Ele suspeita que foi tudo uma armação, uma represália por ele não ter concordado com a decisão do Alto Conselho. O Guardião tenta fazer tudo o que pode para mudar o destino de sua mulher, em vão. Frustrado e destruído, Galaniel se deixa afundar de taberna em taberna, de trabalho em trabalho, sem ter coragem de voltar para a vida antiga agora que Nirmiriel não estará mais ao seu lado.
Galaniel vê a história se repetir quando anos depois, no segundo sorteio, a filha do casal que o acolheu quando gravemente ferido, Melina, é sorteada. Lembram que eu falei que o cara tinha o dom de fazer inimigos? Pois é. Mais uma vez se vingam de Galaniel onde doeria mais, na criança inocente que tinha lhe dado alegria nos últimos tempos. Inconformado quando suas súplicas para que soltem a garota são negadas, Galaniel decide que é hora de voltar a ser o Guardião que um dia fora. Seu reino precisava dele, e ele precisava de seu “batalhão particular” para ajuda-lo. Não apenas com a intenção de resgatar Melina, mas também de por um fim de uma vez por todas neste acordo injusto, Galaniel reúne mais uma vez Os Oito, um grupo de velhos amigos guerreiros que estão prontos para defender seu povo com as próprias vidas, decididos a acabam com o terror e sofrimento causado pelo demônio-chefe Balkatar – ou morrer tentando. Galaniel parte para mais esta empreitada sem se esquecer da promessa que fez, de que encontraria a esposa e faria os malditos que a levaram pagarem por isso.
“Todas as castas e cargos são importantes, cada um com seu dom, não existe nem melhor, nem pior, apenas uma corrente forte para suprir as necessidades da sociedade, onde cada elo deve cumprir o seu papel”.
O único ponto negativo que encontrei foi a diagramação do livro, que possui falhas e atrapalham um pouco a leitura, como a estrutura dos diálogos, e também alguns errinhos na pontuação, como vírgulas. Mas são coisas fáceis de serem corrigidas numa próxima revisão, e por isso estou ansiosa para ver como será quando o livro for lançado pelo selo Novos Talentos da Literatura Brasileira, da editora Novo Século.
Sei que existe muito preconceito com a literatura nacional – principalmente a de fantasia -, mas Galaniel está aí para nos provar que nossos autores têm muitas histórias excelentes para nos contar, não perdendo para nenhum livro gringo! Que tal dar uma chance para O Último Guardião? Tenho certeza que ganhará um lugarzinho especial na sua estante e o deixará ansioso pelo resto da trilogia, assim como estou agora!
Galaniel e suas motivações me cativaram. O autor não somente criou um mundo, mas o recheou com personagens com traços marcantes, diálogos emocionantes e engraçados e cenas detalhadas com um vocabulário amplo que enriqueceu ainda mais a história e permitiram que eu imaginasse tudo com muita precisão, o que me fez cair de cabeça na história, como se também fizesse parte desse mundo, torcendo por Galaniel e sendo tomada por sua determinação. Também levanto minha caneca e brindo com “Os Oito”. Nos encontraremos novamente nas Terras Esquecidas. Coragem e Honra!