Bisbilhotando pela livraria, uma capa que eu nunca tinha visto antes. Peguei o livro na mão, e sem nem ao menos virá-lo à procura de alguma sinopse ou dica do que aquela mulher com uma mochila gigante no meio do nada se tratava, meus olhos encheram de lágrimas. Deixei o livro onde ele estava e fui procurar meu noivo pra falar o quanto isso tinha sido estranho. Alguns dias depois descobri que tinha o filme do livro, e corri pra assistir, pensando que ali tinha coisa boa. E não me decepcionei.
A história é real – Cheryl Strayed existe e compartilha conosco suas memórias. Livre – A Jornada de Uma Mulher Em Busca do Recomeço é o segundo livro dela e virou um grande sucesso. E não é para menos, a jornada de Cheryl – física e mental – rende reflexões pesadas e boas lágrimas (e paisagens incríveis). Como o próprio título já entrega, Cheryl tomou algumas decisões na vida – não cabe a mim ou a você julgá-las certas ou erradas – e sente a necessidade de algo que lhe permita um recomeço. E ela vê na Pacif Crest Trail (a trilha de 4.264km entre o México e o Canadá que nossa protagonista leva cerca de três meses para percorrer) essa oportunidade, uma rendição para os últimos anos de autodestruição.
(A verdadeira Cheryl)
Mais um daqueles filmes que me deixaram de boca aberta, com os olhos vidrados na tela o tempo inteiro de tanta curiosidade e empatia. É daqueles que vão nos contando a história, motivações e dramas dos personagens ao longo do filme, deixando toda a compreensão pro último minuto. Senti como se realmente estivesse ali, trilhando o caminho junto a Cheryl, relembrando com ela de cada detalhe e escolhas que a fizeram estar onde está, e pude sentir as transformações pelas quais ela passa ao longo do caminho (caminho cheio de perrengues esse!). Não é à toa que o filme rendeu indicações de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante para Reese Wetherspoon e Laura Dern (que interpretou Bobbi, mãe de Cheryl) no Oscar.
O filme é um divisor de águas. É uma daquelas coisas na vida – como uma frase, uma música, um poema, uma imagem, um sentimento, um momento – que te atingem em cheio, como um ônibus. É uma daquelas chances de você parar, tremendo e impressionada, e pensar na merda que você está fazendo com sua vida. É um daqueles sinais, um impulso para mudar. É um soco na cara, no estômago, no saco. Um poder transformador que cabe a você aceitar ou não.
Livre é tortuoso, é intenso, é real e é lindo. Todos somos Cheryls, todos temos nossos “pecados” e nossos caminhos a percorrer para a própria redenção, particular de cada um. E você, está trilhando pelo caminho certo? Se está, vai ter forças de fazer o que for necessário para chegar até o final e aceitar quem é e construir o melhor que puder em cima disso ou vai desistir no meio do caminho e procurar um jeito mais fácil de chegar a qualquer lugar que seja mais cômodo?
Queria muito brisar aqui e refletir sobre todos os pontos que o filme propõe, mas falar mais do que isso seria um spoiler atrás do outro, e não quero estragar a experiência de ninguém. É daquelas pra se jogar de olhos fechados e coração aberto.