Um dos elementos essenciais para nossa sobrevivência (como espécie) é a capacidade de planejamento e visão de futuro. É provável que um macaco não pense como conquistar a banana do dia seguinte. Sabe quando você não pára de sonhar com o próximo feriado e se prepara para ele? É por aí. É uma habilidade tão importante individualmente quanto coletivamente, talvez mais importante até pela última.
Mas existe o imediatismo – o sorvete na geladeira que não pode esperar ou o primeiro dia de salário. Enquanto comportamento cultural sua ascensão está nas bases da pós-modernidade e tem muita gente discutindo qual o principal componente que o amplifica, de consumismo á teoria da relatividade e, claro, a internet, que nunca escapa de um bom julgamento moral. Mas é uma força devastadora face a necessidade de pensamento futuro coletivo que não anda muito forte ultimamente. Você pensa muito além do próximo feriado? Pra quê né?
Mas é tão importante assim? Bom, reparem como a maior parte do sistema político mundial só consegue funcionar e iniciar projetos até a próxima reeleição. Mudanças estruturais e necessárias para melhorar a nossa vida nas próximas décadas exigem planejamento que pode durar o mesmo tempo mas diferentes ideologias políticas e a permanência no poder forçam o imediatismo porque sua recompensa é instantânea.
Como um corpo na falta de um nutriente específico pede por ele, se expressando por aquele estranho brócolis ou sorvete no inverno, a ficção científica tem crescido muito como ingrediente cultural consumido pelas sociedades. Tivemos uma época de ouro dos anos 60 e 70 e que pareceu renascer nos anos noventa e tem como paciente zero a trilogia Matrix (com o caminho plantado por Exterminador do Futuro, Alien e outros).
Se ela é melhor ou pior do que a última onda, eu ainda não sei. Mas a forma como expressa anseios e visões da sociedade para o futuro continua em sua essência. Interstellar, embora muito abaixo das expectativas criadas se tornou um excelente espelho para a realidade sombria do nosso futuro cuja salvação está na saída do planeta – mas amor como quinta dimensão tá difícil viu. Impossível saber se ela é realmente viável ou até a melhor opção, mas coloca em pauta ao menos a ideia que muitos tem sentido de alguma forma. Stephen Hawking recentemente tornou público seu medo de que uma inteligência artificial possa destruir a humanidade; só chegou muito atrasado, bem depois da Sarah Connors.
Isso não elimina o puro prazer que o gênero proporciona ao desbravar territórios imaginários que exploram o potencial e alcance humanos enquanto esmiúça o papel da ciência e tecnologia em nossa essência e sobrevivência. Porém mais que uma realização literária ou estético-visual, o gênero semeia o presente com as possibilidades, perigos e virtudes do futuro. E não é só uma questão de previsão, mas de criação do dele. Júlio Verne diretamente inspirou a criação dos foguetes espaciais que levaram o homem à lua ao inspirar jovens cientistas.
Mal sabemos ainda o quanto Douglas Adams vai influenciar o futuro, então preparem-se 🙂
PS: E finalizando o post, fico sabendo da morte do ator Leonard Nimoy que tanto ajudou (e continua ajudando) a construir nosso futuro. Muito obrigado por tudo Sr. Spock.