Sayonara Naruto, Datte Bayo!

Há uns treze anos, no fim do meu colegial, a internet foi um portal de entrada encantado para o bizarro e incrível mundo japonês da animação, cuja fresta tinha sido aberta pela Rede Manchete no Brasil. Uma cultura que era marginal mas ganhava muitos adeptos dos clássicos Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z, Sailor Moon e Yuyu Hakusho, e assim a onda não parou.

Foi então que a nossa geração viu surgir blockbusters legítimos dos anos 00 comparáveis aos clássicos. Um era One Piece, que continua em forma. O outro deles acabou de forma inesperada e alongada, que foi Naruto.

Apesar de se encaixar na fórmula mais clássica do Shonen (estilo de ação para garotos) e perpetuar estereótipos femininos idiotas (Sakura tinha tanto potencial), a identidade do mangá era clara e sedutora: um mundo de ninjas multi-coloridos com arte distinta, um sistema de magia empolgante e eficiente (o “jutsu”), personagens suficientemente carismáticos e uma trilha sonora cativante.

Os primeiros arcos foram um sucesso, logo depois veio o anime e a popularização estava pronta. Naruto acompanhou minha entrada na faculdade e foi uma dos poucas histórias japonesas que continuei acompanhando após os 25 anos. Havia algo da minha essência adolescente que se agarrava desesperadamente àqueles personagens.  Até hoje não sei o que é.

E assim como a fase adolescente de qualquer um, o mangá teve altos e baixos difíceis de serem esquecidos. A fase Shippuuden que acontece depois de um pulo temporal de alguns anos e mostra os personagens crescidos foi gradativamente perdendo parte da identidade que o fez um sucesso autêntico: seja lá qual foi o motivo, a série pareceu tentar emular aquela que é o Kami-Sama do gênero shonen: Dragon Ball Z, além do excesso de reviravoltas injustificáveis por parte de alguns personagens, em especial o anti-herói Sasuke (levanta a mão aí quem não ficou em certo momento com muita preguiça dele).

Com a história se arrastando e ficando completamente sem nexo, com mais ex-machinas do que novelas mexicanas, a série perdeu o timing e o navio quase afundou. Um final apressado e que não consegue mostrar uma conclusão satisfatória para todos.

E veja bem, eu adoro Naruto e fiquei feliz com o final, um pouco pelo “complexo de Lost”. Depois de acompanhar qualquer história por mais de dez anos você se importa tanto com os personagens que qualquer final trará satisfação em algum nível. O problema, como tudo na experiência humana, é a maldita expectativa, que mesmo rebaixada, ficou longe de ser atingida.

O manga também reflete problemas intrínsecos à produção no Japão. O ritmo insano de trabalho (capítulos novos de vinte páginas toda semana) e a frequência forçada podem fazer descarrilar qualquer bom autor. É visível como em certos momentos Masashi Kishimoto teria se beneficiado de uma bela pausa ou ócio criativo para pensar melhor nos rumos da história e decisões de seus personagens. Há mesmo assim aqueles que conseguem sobreviver e alcançar as estrelas sob essa tortuosa rotina.

Convenhamos que é difícil sustentar qualquer história boa por tanto tempo. E mesmo assim, ainda acho Naruto um personagem incrível. Sim, ele é chato, cabeça oca e em várias situações, irritante. Mas ainda é um alguém tão fácil de se relacionar porquê sua história representa a de qualquer nerd/outlier ou jovem solitário com formação familiar disfuncional. E mesmo contra todas as adversidades que surgem como shurikens, ele é burro suficiente para continuar de pé e lutar pelo que acredita, gosta e pelo que ele é. Com a ajuda de um demônio poderosíssimo dentro de sua barriga, claro, mas quem ia reclamar?

A Kyuubi talvez represente o talento ou característica que nos torna especiais mas que tem como efeito colateral o isolamento ou desentendimento por parte de outros grupos sociais. Nesse quesito, é um trunfo de Naruto mostrar que em vez de lutar, fazer as pazes com esse lado nos torna indivíduos mais interessantes. Uma pena que na vida real esse contato não crie, do nada, uma nova roupagem brilhante e descolada para frequentar eventos sociais. 

O anime ainda tem muitas telas pela frente, mas espiritualmente a série já acabou no mangá, pelo menos pra mim. Naruto,sua história foi difícil de acompanhar em alguns momentos, mas não me arrependo e obrigado por tudo.

Foi prometida uma nova mini-série que mostrará a nova geração de ninjas para o ano que vem. Sinceramente, é uma última chance de tentar amarrar melhor o final da história. Nos resta gerenciar nossa própria expectativa.

Nerd: Universo 42

O projeto e a paixão de uma equipe de Nerds que gosta tanto de suas esquisitices que não consegue se conter. Afie sua espada, prepare seu golpe poderoso, pegue seus power converters e embarque nesta estrada, porque, meus amigos, “it´s gonna be Legen… wait for it… DARY! LEGENDARY!” - SO SAY WE ALL.

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