Resenha do Livro | Para Onde Ela Foi

** ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS DO LIVRO SE EU FICAR, DE GAYLE FORMAN **

Mia sobreviveu. E foi embora.

Continuação de Se Eu Ficar, Para Onde Ela Foi, de Gayle Forman, nos conta uma história simples – e bela, sem grandes reviravoltas ou clichês dramáticos. É a história de um amor adolescente que se transforma não somente com o passar do tempo, mas de vários eventos drásticos que transformam a vida dos protagonistas da água para o vinho. Um amor puro, intenso e corrompido.

Após perder os pais e o irmãozinho em um acidente de carro e viver uma experiência “sobrenatural” enquanto estava em coma – tendo que decidir entre continuar lutando para viver ou desistir e passar dessa vida junto com sua família -, Mia Hall é aceita na Julliard e se despede de seus avós e de Adam, com quem mantinha um relacionamento há dois anos. Adam é deixado para trás de uma forma que ele descreve várias vezes no livro como cruel – e é essa crueldade que o leva ao fundo do poço só para se erguer novamente até a borda e além, levando junto sua banda Shooting Star, com letras e melodias tão tocantes que fazem com que a banda seja considerada o novo Nirvana. Que responsa, hein?!

Diferente do primeiro livro, em “Para Onde” é Adam que nos conta a história por sua perspectiva. Faz três anos desde que Mia se foi, desde que não se falam e não se vêem. Ele fez uma promessa – que se ela sobrevivesse, que se ela ficasse, ele a deixaria em paz. E foi o que ele fez, mesmo contra sua vontade, mesmo sem saber se ela sabia de tal promessa. Mia se tornou um assunto proibido entre a banda, e até mesmo entre a mídia. A dor da perda de Adam e o sucesso repentino o tornam um verdadeiro Astro do Rock: excêntrico, ansioso, dependente de vícios como remédios e cigarros, namorado de uma atriz incrivelmente linda e famosa, cheio de manias e rituais supersticiosos e inalcançável – ele se afasta de quase todos ao seu redor, o que só piora seu temperamento “famoso” na mídia, se transformando no “Wilde Man”, o que antes era somente uma brincadeira com seu sobrenome, acaba se tornando algo como sua marca registrada após destruir quartos de hotéis e ter ataques de fúria com jornalistas.

Tudo isso parece bem clichê e chato, não é verdade? Mas olha que surpresa boa: não é! Confesso que a personalidade de Mia me entediou um pouco no primeiro livro, apesar de ter adorado a história (principalmente ao complementá-la assistindo ao filme, as duas experiências se completam, aperfeiçoando uma a outra) achei-a bem sem sal. Mas Adam é o oposto. Ele é confuso, sedutor, com uma personalidade muito bem construída e trabalhada. Tudo foi elaborado para que realmente acreditássemos que ele existe, que ele vive nesse mundo onde um rapaz de vinte e poucos anos tem que andar disfarçado nas ruas para não ser sufocado por fãs. E, sobre as manias dele, até eu agora coço a cabeça toda vez que ouço uma sirene (segundo ele e uma crendice antiga, isso “evita” que a próxima sirene seja para você). A perspectiva de Adam é interessante e consegue nos passar com sucesso toda sua dor, frustração, isolamento e experiências.

No começo, ficamos sabendo que ele tem problemas com a banda, que foi deixado por Mia e que passou por um período conhecido por todos como o “buraco-negro da Shooting Star”, que foi o período de um ano em que a banda ficou sumida para depois aparecer com “Collateral Damage”, disco que garantiu a volta da banda já nas paradas de sucesso. Mas não temos quase nenhuma ideia de por que essas coisas aconteceram, como aconteceram e quando aconteceram. E é usando o recurso de passado-presente-passado-presente do livro anterior que tudo vai sendo explicado aos poucos: temos flashes explicativos do passado mesclados entre as cenas que acontecem no futuro. Conforme a história vai se desenrolando, podemos entender tudo o que aconteceu durante os três anos, e os efeitos que isso deixou em Adam e nas pessoas ao seu redor. Uma coisa que adorei: os trechos das músicas no início de alguns capítulos também são fundamentais para que possamos entender o que se passou na mente de Adam durante o “buraco-negro”. A trilha sonora do primeiro filme foi incrível, superou todas as minhas expectativas! Estou muito ansiosa para ver como vai ficar o segundo!

Tudo começa a ficar claro para nós – e para Adam – quando um dia, andando pelas ruas de Nova Iorque, ele acaba descobrindo por acaso que Mia está na cidade para um concerto. Ele segue o destino e resolve assisti-la tocar, oculto nas sombras do teatro. Mas os boatos de que o grande astro do rock da Shooting Star está na plateia chegam aos ouvidos de Mia durante o intervalo, e ela o chama para uma conversa, que logo vira um passeio pela cidade durante a noite – e a madrugada. Adam tem um avião para pegar no dia seguinte, irá começar sua turnê em Londres, e Mia irá começar a sua carreira profissional, que começa no Japão. Os dois tem apenas aquela noite antes de seguirem seus caminhos separadamente mais uma vez. Quem aí se lembrar do filme “Antes que Termine o Dia” com isso, ganha um doce!

Será que apenas uma longa caminhada pela cidade de Nova Iorque será o suficiente para apagar as cicatrizes de um amor tão magoado e confuso? Será que os três anos e as carreiras musicais de cada um soterraram o sentimento ao ponto de que esse não pode mais ser resgatado em sua plenitude? Será que um amor que já se mostrou “fraco” uma vez pode ser motivo suficiente para arriscar a carreira e a vida que conquistaram durante o tempo separados? Ufa, são tantas perguntas… E a principal, a que o próprio Adam deseja saber mais do que tudo: O que ele fez de errado para que Mia cortasse todos os laços entre eles?

Adam deixa bem claro para si mesmo – ou melhor, para os leitores – que ainda sente um turbilhão de fortes sentimentos por Mia, mas o vemos agir ao contrário por causa de seu orgulho e coração feridos. “Para Onde Ela Foi” é uma bela reflexão sobre o maior obstáculo na trajetória de um casal: a vida, que segue causando situações, vontades e aflições em nossa vida que podem passar por cima do que estiver pela frente, ou melhor, de quem estiver ao nosso lado.


(pois é, eu tentei tirar foto do bônus do livro!)

No final do livro podemos conferir um trecho do novo livro de Gayle Forman que será lançado no Brasil: Apenas Um Dia. Pelo que pude perceber, segue o mesmo estilo de Se Eu Ficar. Garota “reclusa e sem sal” se apaixona por garoto “talentoso e misterioso”. E, como aconteceu nos outros livros, a garota parece não ter a personalidade forte do garoto, que já me cativou logo de cara. Esquece essas tontinhas e escreva mais na perspectiva dos bad boys que assim você arrasa, Gayle! Hahahah! Mas fiquei muito curiosa com a história e já adicionei na minha lista de desejados! 🙂

Nerd: Evelyn Trippo

I just have a lot of feelings, e urgência em expressá-los. Tradutora (formação e profissão), aspirante a escritora e estudante de projetos em games. Pára-raio de nerds, exploradora de prateleiras em sebos e uma orgulhosa crazy pet lady.

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