Brilho é uma distopia que se passa no espaço, onde os tripulantes de duas naves, Empyrean e New Horizon possuem uma missão: sobreviver e povoar o novo mundo após deixarem o decadente planeta Terra para trás.
Embora as naves gêmeas possuam um único objetivo, suas tripulações são bem diferentes. Para começar é importante citar que uma é muito religiosa, e a outra não. Enquanto uma dessas naves já possui uma nova geração de adolescentes e crianças, a outra possui apenas adultos doentes e frustrados com sua infertilidade, encontrando na fé uma motivação (e uma desculpa) para seguir em frente e fazer o que for necessário para levarem sua missão adiante.
E é assim que os tripulantes da Empyrean ficam inquietos quando percebem que a New Horizon desacelerou para alcançá-los, e o capitão parece esconder quaisquer informações sobre o assunto, deixando todos ainda mais receosos. E com motivo. Ao se aproximarem, os habitantes da New Horizon atacam toda a tripulação da sua nave gêmea e sequestram todas as garotas para levá-las para sua nave, deixando para trás um rastro de destruição, morte, desespero e apenas garotos despreparados para tomarem conta da Empyrean enquanto tentam entender o que aconteceu com as garotas, com seus pais e descobrirem um jeito de resgatá-las e salvarem os adultos de um destino cruel, enquanto lidam com suas próprias desavenças e medos.
A história é contada pela perspectiva alternada de Kieran e Waverly, ambos da segunda geração de tripulantes da Empyrean. Kieran é o preferido dentre os garotos e o namorado de Waverly, coisas que trazem sentimentos de inveja para alguns outros garotos na nave. Waverly é uma garota forte, que enquanto tenta lidar com os sentimentos confusos e sem saber no que e em quem acreditar em uma nave estranha, sem saber o que acontecerá com elas ou onde estão seus amigos e famíliares, ainda tenta manter todas as garotas em segurança.
Comprei o livro há muito tempo, demorei para começar a lê-lo e mais ainda para continuar. Comecei a ler lá pelo dia dos namorados, e só fui terminar na semana passada. Passei meses empacada na parte do livro que deveria ser a mais crítica, o ataque da New Horizon a Empyrean. Pois é. Demorei demais para passar dessa parte, mas quanto tomei coragem para ver se o livro ficava bom… Ficou! E então percebi que o que me segurava eram as narrativas de Kieran. O-DI- EI esse menino chorão, não criei nenhuma compaixão por ele e URGH, dei aleluia quando Waverly passou a contar sua história. A partir daí, a história fluiu muito bem, e só empaquei de novo quando Kieran reaparece. Aí foram mais dias pra conseguir terminar, por que pra mim ele ficava cada vez mais odioso.
Quanto a um cara tão infantil quanto Kieran ser o par romântico de Waverly… Não se preocupem, nem tudo está perdido! Como uma boa distopia young-adult, temos um triângulo amoroso que nos dá alguma esperança de que Waverly não vai acabar com um babaca… Pode ser com outro babaca, Seth, o bad-boy incompreendido (e mil vezes melhor que o zé mané lá).
Mas acho que demorei tanto para ler o livro por um bom motivo. Esse ano comecei a ter aulas de cultura e civilização anglo-saxônica na faculdade, e quando estava chegando ao final do livro, estava tendo aulas sobre a colonização da “Nova Inglaterra”, ou seja, a América do Norte, pelos puritanos, um grupo com ideais muito religiosos e, diga-se de passagem, estúpidos. Eles acreditavam que eram os escolhidos por Deus para essa missão, e usavam isso como argumento para agirem com superioridade sobre todos aqueles que fossem contrários as suas crenças.
Os ideais puritanos empregados no dia a dia, costumes e crenças de uma sociedade ainda em formação demonstra a necessidade de se apoiarem em uma religião para encontrarem na fé uma motivação para seguir no “propósito” de criar um novo mundo.
A prepotência de alguns em liderar dizendo saber a vontade e o julgamento de Deus limita o avanço intelectual e social as comunidade, mantendo o povo na ignorância e a vida repleta de intolerâncias que geravam inúmeras injustiças.
Em Brilho, a situação não é diferente. E pior que mesmo estudando sobre isso e lendo o livro ao mesmo tempo, só fui fazer a inevitável ligação quando nos agradecimentos a autora cita algo sobre puritanos para agradecer as referências do processo de criação do livro. E aí, tarde demais, a lâmpada acendeu na minha cabeça!
Várias vezes durante o livro pensei em abandoná-lo para sempre. Kieran quase assassinou minha vontade de dar continuidade à leitura, e principalmente à série. Somente quando fui à bienal e vi Centelha, a continuação, e li a sinopse foi que tive vontade de finalmente terminar as pouquíssimas páginas que faltavam e dar continuidade a série. E não me arrependo! Adorei o final. De uma nota 3.0, foi para 4.0 no meu conceito. O plot twist foi perfeito e estou extremamente curiosa para saber o resto da história de Waverly e de alguns outros personagens.
(Centelha, o 2º livro da triologia)
Insisti, e não me arrependi. Engoli toda a falta de simpatia de Kieran (juro que até tentei imaginar o Star-Lord no lugar desse menino pra ver se a coisa melhorava… Mas não! Não tem como! Chatooo!). Adoraria falar mais sobre os motivos que me levaram a mudar de opinião sobre o livro, mas chega de spoilers. Se quiserem saber, acompanhem a história dessas naves que percorrem a galáxia em busca de um destino desconhecido e cheio de perigos como a mente doente de seres humanos agindo contra o desespero, encurralados em algo tão infinito quanto o espaço!