Hell Breaks Loose

Fala galerê, Nerd! Aqui estou eu novamente com mais uma crônica para vocês. Escrevi isso há uns dois anos e nunca tive coragem de postar. De novo, a história é baseada nos meus personagens criados para o ~vício~  Tormenta RPG. Espero que gostem!

P.s.: Escrevi ouvindo a música To Glory do Two Steps From Hell (<3).  Aconselho ouvirem enquanto leem, pra entrar na ~vibe~.

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Escondido atrás das árvores, lá estava ele espiando os soldados andarem de um lado para o outro na frente dos portões.

Seu cavalo relinchou atrás dele, estava começando a ficar impaciente, afinal, já estava parado fazia meia hora. Aquele cavalo era mais hiperativo do que o próprio dono. Como ele o achara, o garoto não tinha a menor idéia e ficara surpreso quando deu de cara com seu cavalo perdido há muito tempo.

– Quer parar de reclamar? – sussurrou o garoto, lançando um olhar de advertência ao cavalo preto – Sua hora vai chegar.

O cavalo se empinou um pouco nas patas traseiras, relinchando mais uma vez. Aquilo poderia ter sido uma risada.

O garoto analisava cada passo dos guardas. Já estava ali há três dias somente observando, embora isso fosse um pouco difícil para ele. Para uma pessoa agitada, esperar, ficar parado e observar podia ser um pesadelo, mas ele tinha que continuar assim se quisesse resgatar Annabelle.

Ela tinha um ego enorme, e precisava provar que era capaz de fazer tudo, e quando duvidavam dela…bem, esse tipo de coisa acontecia…isso de ela ficar presa na torre mais alta em uma cela, esperando pela forca. Provavelmente seu ego ferido a matava mais do que o medo de morrer agora. Ele podia até imaginá-la de braços cruzados, bufando enquanto batia o pé.

Casmurro resmungou atrás dele novamente. O garoto estalou a língua, irritado com a inquietação do cavalo que, às vezes agia como a pior das crianças birrentas.

Durante os três dias Ethan observou a movimentação no vilarejo, a entrada e saída de pessoas. Pelo que podia conjecturar, os guardas não podiam ter mais de vinte anos, só um pouco mais velhos do que ele e, ao julgar pelo andar desajeitado, eles não tinham muita experiência com armas, estavam ali só para fazer pose. De qualquer forma, ele não planejava um confronto direto, Ethan nunca gostara disso. Era mais divertido atacar pelas costas ou simplesmente passar sem ser visto, mas aquela era uma operação de resgate, e ele precisava de mais alguma coisa, além de sua furtividade.

O plano era entrar e sair sem ser visto, seria melhor assim, mas, depois que recebeu a informação de que sua amiga turrona estava na torre mais alta, teve que mudar a estratégia. Casmurro seria seu salva vidas, ao mesmo tempo em que seria uma distração.

– Quando anoitecer – disse o garoto, conversando consigo mesmo, embora o cavalo estivesse prestando bastante atenção também.

O anoitecer era o maior amigo dos ladrões e, além disso, quando o sol se punha, os guardas trocavam de turno.

Casmurro correria na direção dos portões, imitando um cavalo apavorado e perdido, um animal assustado que buscava um refúgio apenas. Se os guardas tentassem detê-lo, a distração funcionaria, se não… Bem, Ethan era ótimo em improvisação.

Quando o  céu estava escurecendo e o sol sumindo no horizonte, o plano começou.

Ethan soltou as rédeas do cavalo agitado e o deixou correr na direção do vilarejo, relinchando como um louco, parecendo bem assustado mesmo. Às vezes Ethan achava que o cavalo era melhor ator do que ele mesmo.

Casmurro chamou a atenção dos guardas como era previsto. Passou pelos portões bem capengas de madeira, arrastando um dos guardas de armadura preta que tentou pegá-lo pelas rédeas.

Seguiu furtivo pelo mesmo caminho que o cavalo seguira, misturando-se com as sombras da noite até que estivesse perto dos portões. Cobriu-se com o manto e passou pelos portões. Sentiu-se quase insultado quando viu como as defesas do vilarejo eram capengas, pois ele passou com tranqüilidade. Andou até metade do caminho para as torres quando finalmente teve de se enfiar em uma fresta pequena demais para ele, para que não fosse visto.

O vilarejo era muito pequeno e por isso não tinha lugar para becos, mas tinha sim lugar para um pequeno palácio – pequeno comparado com outros que ele já tinha visto – onde Annabelle estava presa.

Era contraditório um lugar tão pequeno ter um palacete como aquele, enquanto as casas eram malfeitas e defeituosas – embora parecessem ser aconchegantes. Ele quase cedeu a vontade de entrar em uma estalagem qualquer para descansar e beber um pouco, mas conteve-se. A vontade de fazer Annabelle perceber a burrice que tinha feito era muito grande a ponto de ele querer fazê-la esperar até o último momento, quando a corda estivesse em seu pescoço, mas ele também sabia que se fosse ele no lugar dela, Annabelle faria de tudo para conseguir resgatá-lo o quanto antes.

Observou de longe o palacete. Os portões estavam escancarados, como se ninguém tivesse medo de ladrão algum.

– Só pode estar brincando – murmurou para si mesmo, aborrecido. As coisas estavam muito fáceis até agora.

Correu para os portões sem fazer nenhum barulho e então descobriu porque a entrada do vilarejo tinha tão poucos guardas. Todos eles estavam dentro do palacete. O pátio estava desocupado, mas a maioria dele estava andando de um lado para os outros, como sentinelas no modo automático.

Ethan estava abrigado nas sombras e coberto por seu manto escuro, mas mesmo assim ele não se sentia muito seguro. Respirou fundo e espiou para dentro do pátio. À sua direita e esquerda encontravam-se escadas que levavam até os muros. Ouviu passos rítmicos logo acima dele. Apurou os ouvidos.

Dois à esquerda e um à direita. Ele escolheu a esquerda.

Esperou que os guardas ao norte tivessem todos virados para a direita e subiu as escadas correndo, mas sem fazer o menor barulho. Entrou na torre de vigia e esperou encostado na parede até que algum guarda aparecesse.

Eles estavam mesmo no modo automático, porque somente quando o homem estava para retomar seus passos, viu que tinha alguma coisa estranha. Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Ethan o agarrou pelo pescoço, tampando-lhe o nariz enquanto apertava seu pescoço em uma chave de braço.

Ele podia usar sua espada curta, mas faria muita sujeira e o guarda provavelmente não se deixaria cair sem lutar.

Em cada torre de vigia havia duas entradas, permitindo que os guardas circulassem por todo o perímetro, mas eles não pareciam preocupados com isso, porque não apareceu ninguém na entrada a sua esquerda, mas eles talvez não demorassem a perceber que seus companheiros estavam sumindo aos poucos.

Ethan ficou nessa por dez minutos. Depois disso, ele estava na torre de vigia com três guardas desmaiados aos seus pés.

Tirou o manto e pegou a corda com o gancho na ponta. Espetou a cabeça para fora, olhando para os lados. Guardas ao norte totalmente distraídos, confere.

Saiu rapidamente, abaixando-se, escondendo-se atrás da parte mais alta do muro. Aquilo era usado para fazer o palacete parecer mais bonito, mas para ele, era mais como um esconderijo.

Aquele vilarejo parecia ter sido construído às presas, porque era burrice prender alguém em uma das torres mais altas que, por coincidência, era acima de uma das torres de vigia. Talvez eles achassem que prisioneiros não eram dignos de ficar mais perto da área real. Para ele estava bom.

Lançou o gancho que pousou com um leve clic no telhado. Ethan puxou a corda duas vezes, certificando-se de que era seguro.

Subiu pela corda sem o menor problema, contornando a torre até estar na parte da frente, para que nenhum guarda o visse escalar… Pelo menos nenhum dentro do palacete.

Quando chegou a janela encontrou Annabelle com sua espada, terminando o serviço nas grades.

Em um momento de déficit de atenção, ele pensou em como eles a tinham colocado lá em cima e como pretendiam tirá-la de lá para levá-la até a forca sendo que no lugar não havia portas e a única janela tinha grades (agora umas poucas graças à Annabelle).

– Achei que você não vinha – cuspiu, os olhos estreitos. Ela tentou forçar as barras de ferro para conseguir mais espaço para passar, mas aquilo era o suficiente. Seu tom deixava claro que ela não acreditava no que tinha acabado de dizer.

O lugar em que ela fora aprisionada não tinha nada, exceto um pouco de palha espalhado pelo chão sujo de detritos.

– Da próxima vez faça o favor de me escutar – disse o garoto, descendo um pouco na corda para que ela pudesse descer também.

– E por que eu escutaria? – perguntou, petulante, enquanto se espremia para fora da cela.

– Porque eu sou mais velho do que você.

– E mais chato também – retrucou, mas havia um vestígio de riso em sua voz.

Os dois eram bastante jovens, mas ela era mais imprudente do que ele. Ethan tinha quinze anos quando começava a carreira e agora tinha 19 anos, agora Annabelle tinha 17 e não tinha muita experiência em ladinagem, por isso tinha sido pega.

– Como eles não desarmaram você? – perguntou o garoto, olhando para baixo.

– Eles não viram a arma.

Ethan parou.

– Está brincando? – a inflexão em sua voz fez com que aquilo virasse uma pergunta.

– Não sou tão idiota assim. Aprendi algumas coisas com você – disse.

Ele não podia deixar de sentir orgulho dela.

– Como você fez?

– O que?

– Como eles não viram a arma? – repetiu. Viu, mesmo daquele ângulo, que ela tinha corado.

– Eu tenho meus artifícios – disse, aborrecida. Ele pensou no que ela teria feito. Ela era uma garota muito bonita e esperta, só era bem imprudente às vezes.

Quando encheu os pulmões para fazer mais uma pergunta uma flecha passou raspando por sua orelha. Ethan olhou para baixo e viu os guardas saindo de dentro do palacete.

– Acho que fomos vistos – ele disse, sorrindo. Finalmente um pouco de ação.

– Você acha? – perguntou, sarcástica.

Escorregaram pela corda, queimando as mãos. O problema: a corda não chegava até o chão. Restava pelo menos cinco metros ainda.

– Pule! – gritou, certo, e soltou a corda.

Seus pés latejaram quando ele encontrou o chão, mas pelo menos ele caiu de pé, já Annabelle caiu de costas e perdeu o ar. Ethan a ajudou a levantar, mas ela mal conseguia ficar de pé.

Guardas corriam para fora do palacete e eles começaram a ficar cercados. Já era essa coisa de entrar e sair sem ser visto.

Os de armadura preta desembainhavam as espadas e apontavam suas pontas finas para os dois. Ethan já começava a puxar sua própria espada, começando a se conformar com um confronto direto quando ouviu um estrondo.

X

Seus pulmões ainda formigavam pela caída de mau jeito, mas pelo menos ela conseguiu sacar sua espada.

Um som estranho veio de algum lugar, parecia um trovão, mas era mais abafado e então veio outro som; o som inconfundível de cascos castigando o chão. Da rua principal sugiram os cavalos.

Um garanhão preto estava na liderança.

– Casmurro! – gritou, surpresa, pois aquele cavalo Ethan e ela tinham perdido em uma de suas jornadas, mas ele, aparentemente os seguira.

Ethan riu escancarado. Ele a assustava quando fazia isso, às vezes pensava se ele não tinha algumas conversas íntimas com Nimb.

A cavalaria veio e não parou. Alguns guardas pularam para sair da frente dos animais desgovernados. Casmurro relinchou e seus amigos pisotearam alguns guardas, os outros que se salvaram dos animais, não conseguiam acertá-los.

Ethan subiu e a ajudou a montar no cavalo.

Antes que pudesse sair cavalgando ela disse:

– Espere! – esticou o braço e agarrou a corda. Com um movimento bem estudado, soltou o gancho do telhado e ele caiu ao lado do cavalo que quase os derrubou com o susto.

O alarme soou dentro do palacete e logo eles teriam mais companhia.

Annabelle enrolou a corda apressada.

– Vai! – berrou, segurando a cintura de Ethan com uma mão.

Atrás deles, alguns guardas saíram montados em seus garanhões também, com lanças e espadas nas mãos.

Casmurro pareceu relutar quando Ethan ajeitou as rédeas para direcioná-lo para o portão antes que o fechassem.

– O que foi? – perguntou o garoto, irritado, metendo os calcanhares no lombo do animal.

– Ele não quer deixá-los – Annabelle disse olhando para os cavalos coiceando alguns homens.

– Eles vão ficar bem – Ethan gritou, começando a ficar desesperado.

Finalmente Casmurro partiu, galopando na direção dos portões, mais rápido do que nunca. Seu pelo preto brilhava de suor.

– Vai, vai, vai! – gritavam os dois, pressionando o animal a ir mais rápido.

Casmurro era veloz, mas os cavalos dos guardas também eram.

– Temos que atrasá-los! – Ethan falou por cima do ombro.

– Deixe comigo – ela respondeu, apertando a corda com firmeza. – Só mais um pouco – meditou, mantendo os olhos no portão.

Cinco metros antes de conseguirem sair, ela começou a girar o gancho, rezando para todos os deuses do panteão, para que ela conseguisse acertar o alvo.

Quando saíram do vilarejo, ela lançou o gancho de quatro pontas e esperou para ver aonde cairia. A corda não devia ter mais de quinze metros, mas seria o suficiente…talvez.

O gancho descreveu um arco e se enroscou na parte de cima do portão. Ela segurou mais firme na cintura de Ethan e sentiu seu braço ser puxado para trás, enquanto arrastava o portão com a velocidade do cavalo. Com um estrondo, o portão se fechou, bloqueando a passagem dos guardas e de seus cavalos.

Ethan gargalhava na frente dela.

– Do que você está rindo? – perguntou, irritada. Olhando uma última vez por cima do ombro, viu que estavam salvos por enquanto.

– Casmurro nos salvou – ele riu novamente – O cavalo nos salvou.

Casmurro relinchou, rindo com o dono.

Annabelle se apertou mais forte contra Ethan, suspirando aliviada por estar segura e ao mesmo tempo feliz por ter feito alguma coisa certa, digna de uma ladina de verdade.

Entraram no bosque galopando. Só era possível ver os cabelos negros de Ethan, açoitados pelo vento e o caminho à frente, mas ela preferia ficar com a primeira opção.

Não precisava olhar para frente, não importava para onde iriam a seguir. Até porque, o destino não é tão importante quando a jornada, dizem.

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That’s all folks! Espero que tenham gostado e até a próxima o/

Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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