O mundo mudou muito em 9 anos. Em 2016, a Nintendo amargava péssimas vendas de seu console principal, o Wii U, e seu console portátil, o Nintendo 3DS, era visto como uma fraca sucessão ao estrondoso Nintendo DS. Seguindo o sonho de Satoru Iwata, de um console que unisse os mundos de portátil e de mesa, a Nintendo anunciaria o Nintendo Switch em outubro e, apesar da proposta revolucionária, o console estaria sucedendo o que era o menos vendido console da empresa. E então, em 2017, a revolução começou.
Desdenhar desse movimento da Nintendo demonstra pouca visão do mercado de jogos como um todo. É verdade que computadores de placas únicas, portáteis, até existiam naquele cenário, como eram os equipamentos da GPD (antes do chat, sim). Porém, tal qual a Apple revolucionou o mercado de smartphones no meio dos anos 2000, a Nintendo definiu o que o mercado de videogames híbridos seguiria dali em diante.
Muito se pode discutir sobre o impacto da Nintendo eShop para os indies, no período de 2017 a 2023. Inicialmente, a loja representava uma oportunidade valiosa para desenvolvedores independentes, antes de ser gradualmente entupida por clones sem alma de match-three ou puzzles com meninas sem roupa e, mais recentemente, com shovelwares repletos de arte feita por IA (este perfil, aliás, abomina isso – mas essa é uma discussão para outro momento). Por ora, vamos nos ater ao impacto no mercado como um todo, especialmente considerando que a família Nintendo Switch 1 (Switch, Switch Lite e Switch OLED) vendeu mais de 150 milhões de unidades em todo o mundo – um feito impressionante.
A sua primeira versão estabeleceu paradigmas. Os controles destacáveis que faziam a troca (Switch) rapidamente do modo portátil para o modo de mesa, o console que vem naturalmente com dois controles, pronto para você compartilhar o jogo com alguém. O Nintendo Wii popularizou as ideias de movimento, e agora os simpáticos Joy-Con conseguiam repetir essas ideias em alguns jogos específicos. Com um hardware singelo, a Nintendo ocupou o lugar certo para conquistar um mercado inteiro.
Pensamento Lateral com Tecnologia Madura
A Nintendo lançou o Switch em 2017, mas não incluiu hardware “moderno” no console. Nada ali representava o topo de linha: a tela usava tecnologia de touchscreen capacitiva, exibia imagens em LCD com resolução 720p, e os controles funcionavam sem fio e com sensor infravermelho. O que destacou o Nintendo Switch foi a aplicação da filosofia da Nintendo de Pensamento Lateral com Tecnologia Madura – aplicar uma forma de pensar diferente do padrão, usando tecnologias conhecidas e confiáveis para obter um resultado melhor. Gunpei Yokoi revolucionou o mercado nos anos 90 com essa filosofia ao criar o Game Boy.
Mas o Nintendo Switch foi mais do que apenas a soma de suas partes. Como videogame, ele chegou acompanhado de um line-up de jogos que merece destaque. E é fato: a Nintendo lançou dois dos melhores jogos da história no primeiro ano do console. Mario Odyssey e Zelda: Breath of the Wild deixaram o mundo de joelhos. Sendo jogos tecnicamente perfeitos e belíssimos, mesmo com o hardware do console sendo humilde.
Animal Crossing: New Horizons foi um dos maiores sucessos de venda do console. Em parte por um motivo negativo, com o impacto do isolamento social, que impactou severamente os números de venda do Nintendo Switch para cima. Naquele momento incerto, o console chegou a ser comercializado por mais de R$ 4.000,00 no Brasil.
2025 não é 2016
O Nintendo Switch 2 chega a um cenário muito diferente. A Nintendo não está saindo de um fracasso. Está vindo do sucesso estrondoso de um console que pode se tornar o mais vendido de todos os tempos. A nova geração não tenta reinventar, e isso é uma virtude. O foco está em refinar o que já funcionava: hardware mais robusto, melhorias visíveis, mas sem abandonar a essência.
Agora é possível jogar em 4K a 60 quadros por segundo, ou em 1080p a mais de 100 quadros, dependendo do jogo. O formato de cartuchos foi mantido, garantindo retrocompatibilidade. Os Joy-Cons antigos continuam funcionando. O visual do console está mais encorpado, menos com cara de brinquedo, mais próximo de um dispositivo de tecnologia de ponta.
E funcionou. O Nintendo Switch 2 já ostenta o título de lançamento de videogame mais bem-sucedido da história. Foram mais de 3,5 milhões de unidades vendidas no lançamento. No mercado cinza, o console já é encontrado entre R$ 6.000,00 e R$ 7.000,00. Qualquer tentativa de relativizar esse sucesso parece descolada da realidade.
Mas será suficiente para repetir o impacto?
Pretendo escrever mais sobre o console depois de um mês de uso, com calma e sem a pressa de caçar engajamento como tantos vídeos que surgiram no YouTube. Mas uma coisa é certa: o mundo de hoje não é mais o de 2016. As condições que impulsionaram o primeiro Switch dificilmente se repetirão.

A menos que o mundo enfrente uma nova pandemia, é difícil imaginar o mesmo fenômeno se repetindo com a mesma força. Mas talvez não precise. O Nintendo Switch 2 parece já ter encontrado o próprio caminho. Não precisa começar do zero. Não precisa provar mais nada.
Só precisa continuar fazendo o que a Nintendo faz melhor: criar experiências que não dependem só de potência, mas de propósito.
Posts Relacionados:
PlayStation The Concert chega à BGS 2025 com trilhas inesquecíveis
Elden Ring terá filme em parceria de A24 com George Martin
Spiderman 2 e a Analogia do Cachecol
Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais: