Longlegs – Vínculo Mortal chega, finalmente, aos cinemas brasileiros na próxima quarta-feira, dia 28 de agosto. O longa, dirigido e roteirizado por Oz Perkins (Maria e João: O Conto das Bruxas), vem colecionando elogios desde sua estreia internacional, em julho desse ano. E sou sincera, um roteiro que apresenta Nicolas Cage como um serial killer satanista é mais do que suficiente para despertar meu interesse. Mas esse não é o único motivo pelo qual o filme se destaca. A começar pela premissa.
Terror psicológico em trama de investigação e ocultismo
Longlegs – Vínculo Mortal narra a história da agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe), que é designada para investigar um caso de um serial killer cujo a única evidência de sua presença nas cenas dos crimes é uma carta codificada. Longlegs (Nicolas Cage), que é como ele assina essas cartas, tem um padrão e um modus operandi excêntrico. Ele não deixa marcas ou sinais de arrombamento. E o crime é sempre cometido por um integrante da família.
Com o avanço das investigações, Harker se depara com evidências perturbadoras, que revelam práticas ocultas ligadas ao crime, além de fazer descobertas assustadoras sobre seu passado. Ela se lança, então, em uma corrida desesperada para impedir novos homicídios, enquanto lida com uma ameaça à sua própria vida.
Em uma primeira vista, sendo bem superficial, é provável reduzir Longlegs – Vínculo Mortal a uma mistura bem-sucedida entre Zodíaco, Horror em Amityville e Annabelle. Mas a verdade é que ele consegue ir além do terror enlatado, conduzindo, brilhantemente, uma trama de investigação que se depara com algo além do natural. Administrando muito bem as intersecções entre a realidade e o sobrenatural. Resultando em uma trama crível e, consequentemente, uma total imersão.
Longlegs – Vínculo Mortal não se apoia em jumpscares, então se procura o típico terror proporcionado pelos grandes estúdios, com excesso de cgi e sustos telegrafados, irá se decepcionar. Não, o longa toma o tempo necessário para construir tensão através da estranheza. Desde o primeiro momento, você sente que existe algo à espreita e que algo ruim pode acontecer a qualquer instante. Seja pela figura do vilão, pelos planos de câmera, trilha sonora ou da atuação dos protagonistas.
Nicolas Cage traz sua assinatura de excêntrica ao vilão Longlegs
Além de todos esses elementos, essa atmosfera é consequência de um desenvolvimento de personagem sutil, mas eficiente. Maika Monroe (Corrente do Mal) e Blair Underwood (Cara Gente Branca) cativam o suficiente para inspirar o temor do expectador em relação a suas vidas. Mas quem rouba a cena, definitivamente, é Nicolas Cage (A Lenda do Tesouro Perdido).
O ator, que foi de ganhador do Oscar a meme, certamente tem pérolas absurdas no currículo, assim como atuações geniais. Mas seus últimos trabalhos têm ajudado a resgatar o prestígio de outrora. Principalmente em papéis que permitem uma atuação mais excêntrica, já que Cage é famoso pela habilidade e alcançar performances com alto nível de bizarrice. Então, Longlegs foi a oportunidade perfeita para deixar fluir toda esquisitice que o ator é capaz de fornecer.
Maika Monroe, como a agente Lee Harker, também está excelente, apesar de alguns maneirismos que acabavam me tirando um pouco do filme (algo envolvendo respiração alta e furtividade). Uma das decisões mais acertadas do roteiro, foi a de escrever Lee apenas como uma “meio-vidente”. Isso evitou que alguns eventos fossem tratados como incoerências. Vale ainda o destaque a ótima performance de Alicia Witt (Eu Me Importo), como Ruth Harker, mãe de Lee. Witt consegue transmitir ao público o desespero de uma mãe e como seus atos a levam em uma espiral destinada à insanidade.
Blair Underwood entregou um ótimo agente Carter. Um homem que tenta manter a mente aberta. Pessoalmente, não há nada mais irritante em filmes de terror que aquele personagem cético. Que, mesmo diante das evidências, permanece firme em sua descrença. E, quando não justificado, é apenas uma perda de tempo. Em Longlegs temos esse momento de ceticismo, mas não como um artifício de conflito gratuito.
Longlegs – Vínculo Mortal acerta na tensão, mas peca em ousadia e ritmo
Longlegs – Vínculo Mortal tem uma direção interessante, mas não inventiva. Seu maior trunfo está na tensão crescente. A escolha de não se render a efeitos especiais é excelente. Porém, senti falta de uma maior ousadia na hora de finalmente mostrar a brutalidade daqueles casos. Quando se constrói um clima de angústia durante todo o filme, se espera que haja, ao menos, um momento catártico. E há, mas talvez, no lugar errado.
O ritmo também não é dos melhores. E o uso de câmeras paradas também não ajudou. Principalmente no segundo ato, onde o roteiro toma mais tempo desenvolvendo a investigação. Me chamou atenção a ausência de alguns elementos investigativos. Assim como algumas facilitações e coincidências que não são discutidas apropriadamente.
Mas, a meu ver, o grande trunfo de Longlegs – Vínculo Mortal está no uso de diversos simbolismos e metáforas. Como a imagem de cobras como uma alusão ao pecado original, ou os vários simbolismos da boneca. No entanto, a alegoria mais evidente é a perda da inocência e os dilemas da maternidade. O sobrenatural aqui, a meu ver, serve mais como um caminho para dar voz a essas alegorias e menos como uma discussão sobre dogmas religiosos, ainda que ela exista.
Longlegs – Vínculo Mortal é uma adição memorável ao terror psicológico
Longlegs – Vínculo Mortal oferece uma experiência que vai além dos sustos fáceis e das fórmulas repetitivas, sendo uma ótima adição ao gênero. A direção de Oz Perkins, aliada à excelentes performances do elenco, constrói um filme tenso, ao tempo que explora simbolismos e metáforas que acrescentam camadas de significado à narrativa. Apesar de algumas escolhas de direção e ritmo que poderiam ser mais ousadas, o longa se sobressai ao não se limitar ao terror convencional. De fato, uma excelente pedida para os amantes de um terror mais psicológico e sofisticado.
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