Finalmente chega hoje aos cinemas o mais novo longa da franquia Planeta dos Macacos. O Reinado marca o início de uma nova trilogia, diretamente ligada a saga reboot, iniciada em 2011. Eu adoraria fazer um suspense, demorar um pouco mais para revelar o que achei do filme, mostrar as nuances e descrever com detalhes os motivos para tal. Haverá um dia em que farei isso, mas esse dia não será hoje. Dito isso, acho que nenhuma outra palavra pode descrever melhor Planeta dos Macacos: O Reinado que não seja “irretocável”. Até mesmo em suas imperfeições.
Com uma trilogia anterior impecável, é certo dizer que a régua para o novo longa era bem alta. Além de que, o pensamento de “pra quê?” pairava a cada nova notícia sobre a produção. Primeiro por achar que a história se encerrara de maneira perfeita, segundo por receio de que o novo filme fosse de qualidade inferior e acabasse por manchar a franquia. Ora, duas sequências excelentes era o máximo que poderíamos ter almejado, mas três é completamente fora da curva. Principalmente quando levamos em conta que a maioria das franquias não contam sequer com uma que chegue, ao menos, próxima à qualidade original.
Ecos do Passado: Uma Nova Era na Franquia
Planeta dos Macacos: O Reinado é ambientado várias gerações após os eventos de Planeta dos Macacos: A Guerra. Diversas comunidades de macacos surgiram desde que César liderou seu povo até um refúgio, enquanto os humanos foram forçados a uma existência furtiva nas sombras. E, embora César tenha garantido a segurança da nova geração de macacos evoluídos, sua história acaba se perdendo e se tornando completamente desconhecida para muitos.
Neste novo contexto, um novo líder macaco insurge. Proximus César se autoproclama Rei e inicia uma campanha para escravizar outros grupos. Seu objetivo é obter tecnologia humana, com a qual pretende “burlar” a evolução. Em uma de suas expansões, acaba encontrando o Clã das Águias, onde vive Noa, que testemunha o aprisionamento de seu clã. Ele parte, então, em uma jornada em busca da liberdade de seu povo ao lado de Raka, um orangotango que conhece a história de César, e uma jovem humana, que é mais do que aparenta ser.
Planeta dos Macacos: O Reinado traz um subtexto muito claro sobre os ecos do passado. Sobre o ressoar de eventos e ideias que ocorreram há muito. Em como isso pode chegar de forma dissonante para alguns. Como uma ideia, ou ato, pode ser mal interpretado ou propositalmente distorcido por um receptor, apenas para atender aos seus interesses. Ou ainda, como esses “ecos” se perdem em certo momento e se unem ao som ambiente, se tornando impossível de distingui-los.
Planeta dos Macacos: O Reinado e as Reflexões sobre o Passado
Os ecos são sons que se repetem em determinado intervalo de tempo, sendo uma metáfora perfeita para eventos históricos que se reprisam. E é por isso que é tão simbólico quando Noa e seu clã se referem aos humanos remanescentes como “ecos”. Eles são uma lembrança de um passado distante que teima em não ser esquecido. Um passado em que a raça humana era soberana e significavam problema para os macacos. Por isso que avistar um eco é sempre um sinal de perigo.
Os humanos, por sua vez, nunca perdem a oportunidade de arruinar a paz de quem quer que seja. Mesmo que não intencionalmente. Aqui, só pelo ínfimo contato de Noa com um humano, o caos é levado a ele. Entenda-se por caos toda trajetória de destruição e reconstrução de sua existência. Com suas companhias de jornada, Noa aprende tanto sobre o passado humano, quanto sobre César, o líder do qual não fazia ideia da história.
Planeta dos Macacos: O Reinado ainda expõe a importância de propagar a história, para que ela não seja perdida, desviada e, acima de tudo, para que os erros não se repitam. Além disso, o quanto é importante encontrar uma linguagem para tal. Em vários momentos o filme enfatiza o poder da escrita e alfabetização, ressaltando que os traços desenhados possuem significado.
Personagens e Paralelos: Construção o Mundo de Planeta dos Macacos: O Reinado
Talvez você possa dizer que Owen Teague (À Espreita do Mal) e seu Noa estão distantes do carisma e força emblemáticos do César de Andy Serkis, mas é possível sim ver muito potencial no personagem. Noa é pacífico e prefere o diálogo sempre que possível, mas possui cautela e um senso de sobrevivência alto o suficiente para não ser reduzido a um perfil que apenas reage aos acontecimentos. Ele segue sua intuição, sem medo de enfrentar os desafios, independente de quão arriscado seja. Diretamente atrelada a sua narrativa está Raka, interpretado por Peter Macon (Dexter). É ele o responsável por transmitir o conhecimento que tinha sobre César, explicando como as leis originais foram deturpadas.
O antagonismo de Planeta dos Macacos: O Reinado fica a cargo de Proximus César, vivido por Kevin Durand (Abigail). Ambicioso, anseia pela evolução alcançada pelos humanos, sem ter que passar por todas as etapas dela. E é aqui que o roteiro brilha em traçar paralelos e apresentar suas metáforas. O primeiro é bem claro e até autoexplicativo. Proximus aprende sobre o Império Romano com um humano, que mantém em seus domínios como uma espécie de oráculo/bobo da corte, e simula sua própria versão dele. Ao tempo em que distorce as leis de César para proveito próprio. “Macacos juntos fortes” vira um lema fascista, e a que se refere a “macaco não mata macaco” é valida apenas para os que demonstram subserviência ao Reino.
Vale ressaltar que, mais uma vez, o texto deixa claro a participação efetiva de humanos como agentes causadores de infortúnios. Seja em ações do passado ou atitudes do presente. Travathan (William H. Macy, de Shameless), o humano responsável por ajudar Proximus, o ensina sobre as conquistas do Imperador César e sua expansão de território. O rei acaba associando o fato ao primeiro líder símio, e pilar da evolução, César. Em razão a isso, se nomeia de Proximus César, se referindo diretamente à sua intenção de ser o próximo marco da evolução. Mas, se não fosse o humano, ele teria feito isso?
Personagens Cativantes e Misteriosos
Preciso externalizar aqui o quanto gostei de todos os membros apresentados do Clã das Águias. Em especial os amigos de Noa, mais ativos na narrativa, que cativaram minha atenção ainda na primeira cena em que aparecem. Soona (Lydia Peckham, de Mr. Corman), é destemida e tem uma admiração genuína por Noa. Já Anaya (Travis Jeffery, de Inferno Sangrento) é medroso, mas muito inteligente e leal aos seus. Ambos são imprescindíveis para nos motivar a querer acompanhar a jornada de nosso protagonista.
Planeta dos Macacos: O Reinado também apresenta Nova/Mae, vivida por Freya Allan (The Witcher). Uma mulher misteriosa, que receio não confiar nem na própria sombra, que dirá em um macaco. Ela carrega consigo uma missão e não medirá esforços para concretizá-la. Mas, se tem algo que posso dizer sobre ela, sem revelar grandes spoilers, é que ela tem um motivo para suas ações. Se são nobres, vai depender do seu ponto de vista.
Planeta dos Macacos: O Reinado se Encarrega de Revitalizar a Franquia
A direção fica a cargo de Wes Ball, que dirigiu a saga Maze Runner e comandará a adaptação para as telas de The Legend of Zelda. E olha, fazer jus à Matt Reeves é um fardo pesado. A qualidade impressa em Planeta dos Macacos: O Confronto e A Guerra é de primeira e irrefutável. Não atoa, se tornou queridinho em Hollywood, sinônimo de qualidade. Seria fácil cair na tentação de imitar seu trabalho, resultando em um simulacro mal-acabado, como foi quando Noam Murro tentou mimetizar Zack Snyder em 300 – A Ascensão Do Império. Felizmente, não foi o caso aqui. Wes Ball não só mantém a essência da nova saga, como a revitaliza.
Se forçar muito, muito mesmo, é possível sim encontrar inconsistências narrativas em Planeta dos Macacos: O Reinado. Desde facilitações a perguntas que jamais serão respondidas. Porém, expô-las aqui, além de ser spoiler, fariam você observar a trama por esse prisma. Minha ideia é a de que, se não atrapalhou a imersão, não importa. E se você não percebeu, melhor ainda, não eram tão importantes para valer a sua atenção.
Um Novo Começo Impecável
Em definitivo, Planeta dos Macacos: O Reinado é mais um acerto na franquia e um excelente começo para a nova trilogia. Mantém o alto padrão estabelecido pelos filmes anteriores, com uma narrativa que atende às expectativas, ao tempo que promove a reflexão de seu subtexto. Com uma trama envolvente e personagens carismáticos, o filme busca no passado os ecos que moldam o presente e traçam os caminhos para o futuro. Como disse, irretocável.
Planeta dos Macacos: O Reinado está em cartaz somente nos cinemas.
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