Antes que eu fale sobre a Análise do Cinema Sato e do filme O Menino e a Garça, preciso dar um pequeno contexto.
A primeira vez que assisti a filme de Hayao Miyazaki eu devia ter uns 12 anos.
Não vi o lançamento de A Viagem de Chihiro no lançamento, mas quando consegui assistir foi uma experiência sui-generis, ao mesmo tempo que eu estava me deliciando com uma animação estonteante e uma música icônica, a história não falou comigo em um nível pessoal. Foram anos até que eu entendesse e rompesse a superfície do que estava sendo contado.
Então, quase 20 anos se passaram e eu fui convidado a visitar o Sato Cinema para assistir a mais um filme de Hayao Miyazaki.
O convite da Sato veio em ótima hora, eu ainda não tinha tido a oportunidade de visitar o cinema que abriu no espaço da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social no bairro da Liberdade, em São Paulo. Já havia visitado o espaço anteriormente para uma vernissage em que um artista muito querido iria estar apresentando alguns trabalhos. Mas desde a pandemia eu não havia visitado o espaço.
Acompanhei o ‘hype’ da abertura do espaço e fiquei extremamente feliz de ver que um ambiente voltado à cultura japonesa estaria abrigando um cinema que traria filmes que, de outra forma, ficariam esquecidos pelas grandes salas.
Sobre o Sato Cinema
É claro que, como um espaço adaptado, existem alguns problemas, e vou endereçá-los, pois seria intelectualmente desonesto de minha parte, não fazê-lo.
Como estamos falando de uma première do maior diretor de animação japonesa da atualidade, é lógico que todos os fãs querem assistir, eu não fui o único convidado da Sato. O ambiente é grande, mas a antessala não estava preparada para receber a enxurrada de fãs que aceitaram o convite, e, em questão de minutos, eu estava misturado a uma turba, em um ambiente cacofônico com o ar condicionado desligado.
Minha acompanhante começou a passar mal por conta do calor e precisou sentar em um canto, então eu não consigo falar que essa foi uma experiência ‘legal’.
Quando abriram as portas, com meia hora de atraso, entramos no que é um teatro adaptado, dezenas de fileiras com dúzias de cadeiras cada, o cinema estava lotado, é claro. Lá dentro, já com ar condicionado e todos acomodados, a experiência foi muito agradável.
Como falei, o cinema é uma adaptação de um auditório ou teatro, logo, não há uma grande inclinação das cadeiras do fundo para as cadeiras da frente, e a tela prateada fica relativamente pequena no meio do palco.
Mas quando as luzes se apagaram e o filme de fato começou, a experiência foi outra.
O Menino e a Garça
Sem spoilers aqui, ok? Não vou dar detalhes da trama, e vou falar mais em caráter emocional da experiência.
Vamos começar falando o óbvio, Hayao Miyazaki ainda sabe fazer filmes.
Eu não consigo citar outro diretor vivo que poderia fazer o que Miyazaki fez, mostrar um pôster e falar “Pessoal, filme novo mês que vem no cinema”, e não parecer única e exclusivamente prepotência.
Se você conhece Miyazaki, você olha isso e pensa “Bem, faz todo o sentido…”
Fiquei extasiado ao saber do lançamento no Brasil. Assim, eu posso assistir ao filme após o Globo de Ouro e antes do Oscar, premiações que o filme, respectivamente, ganhou e está concorrendo.
Mas sendo curto, para não estragar a sua experiência, é que estamos diante de mais um impecável filme de Hayao Miyazaki
Joe Hisaishi brilha novamente e entrega uma trilha emocionante que compõe a jornada de amadurecimento de Mahito. Novamente, em O Menino e a Garça, Miyazaki entrega uma história que está relacionada à Segunda Guerra Mundial, diferente de Vidas ao Vento, não fala dos combatentes ou das armas, mas você fala da necessidade de amadurecer, também fala das perdas, do impacto pessoal que viver nesse Japão gera.
Quando assisti A Viagem de Chihiro, há 20 anos, eu não entendi o filme de primeira. Precisei amadurecer e ler, aprender, para entender e gostar do filme.
Sinto que o mesmo vá acontecer agora.
Saí do Sato Cinema com um sabor agridoce, eu gostei de O Menino e a Garça, mas claramente não tanto…
E eu percebi que eu não peguei todas as nuances. Miyazaki pode ser chamado de gênio, mas ele não é literal ou simples. Absorver seus filmes demanda um pouco de bagagem, do contrário seria apenas uma animação bonita. Mas que animação belíssima.
Antes do Oscar eu vou assistir novamente, buscando outras sensações, e é ótimo que eu posso ver esse filme nos cinemas brasileiros. Mas não vou esquecer de quem trouxe o filme antes e me permitiu ter a experiência de ver a Première no Brasil.
Posts Relacionados:
A Cor Púrpura traz jornada de resiliência em versão ousada
Argylle – O Superespião: Ação irreverente surpreende.
Pobres Criaturas é cinema em sua melhor forma
Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais: