Anatomia de uma Queda, filme francês, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e no Globo de Ouro nas categorias “Melhor filme em língua estrangeira” e “melhor roteiro”. O longa, dirigido por Justine Triet, é uma história policial com muitas camadas.
Numa casa isolada, cercada por neve, um casal vive com seu filho e um cachorro. Até que certo dia, enquanto o filho saía pra levar o cão pra passear, uma tragédia ocorre. Ao voltar, encontra o pai morto em frente à casa.
Dessa forma, desencadeia-se uma série de investigações sobre o caso a fim de descobrir a verdade. Teria ele se suicidado? Foi assassinado pela esposa? Ou foi simplesmente um acidente?
A maior parte de Anatomia de Uma Queda se passa no tribunal, onde Sandra (Sandra Huller), a esposa do falecido, é julgada pela morte do marido. Diante disso, verdades sobre o casamento deles vão sendo reveladas aos poucos.
O filho deles têm deficiência visual devido a um acidente que ocorreu no passado, no qual o pai se sente culpado. Juntando o peso da culpa com a frustração por não conseguir terminar seu livro e a quantidade de responsabilidade com a casa e com o filho, ele estava cada vez mais exausto da própria vida.
A esposa, ao contrário, lançou vários livros, fez sucesso como escritora e estava mais realizada com sua vida. O que gerava raiva e competição do marido em relação a ela. Outro motivo que gerava revolta é que ela pegou uma ideia dele e usou para escrever o livro dela.
Por isso, pra ele, ela fez sucesso às custas da ideia dele. Só que, por outro lado, ela pediu permissão pra fazer isso e ele topou e, além disso, ela só pegou a ideia dele de inspiração e criou algo novo a partir disso. Ele só tinha um projeto e ela desenvolveu esse projeto em mais de 300 páginas, como ela mesmo diz.
Claro que ela também cometeu erros na relação, mas não existe mocinho e vilão nessa história. Ambos estavam lidando com seus problemas da maneira que conseguiam.
A trama começa de forma um pouco lenta, mas depois vai pegando ritmo. Quem não tem paciência com excesso de diálogos não vai gostar muito do filme. É muito mais diálogo do que ação. Só que, ao mesmo tempo, os diálogos são acelerados. É um bate e volta constante, um fala atrás do outro sem quase interrupção.
Quem não gosta de filmes de tribunal também não vai curtir a experiência. A maioria das cenas se passa no tribunal. O foco do filme é a investigação criminal. O público é instigado o tempo todo a desvendar o mistério. A cada nova informação que surge a opinião sobre o caso muda. A dúvida sobre Sandra ser culpada ou não perdura quase até o final do filme.
Um fato curioso é a forma que o tribunal é conduzido. Ao invés de seguirem as regras que estamos acostumados a ver em outros filmes do gênero, como tanto o advogado quanto o promotor serem obrigados a pedir permissão para interferir na fala um do outro, em Anatomia de uma Queda o julgamento parece mais uma reunião de condomínio do que um julgamento de fato.
Isso ocorre porque um fala em cima do outro, todos cortam a fala de quem quiser sem pedir ao juiz. Até mesmo a réu fala o que quer e quando quer sem ser penalizada por isso. É uma verdadeira bagunça.
Embora isto não atrapalhe em nada no desenvolvimento da trama, não deixa de ser algo que chama a atenção ao assistir. Talvez isso seja comum na França.
É um filme interessante para refletir sobre como os sonhos e estilo de vida podem interferir num casamento e afetar os filhos. Cada um com suas verdades e motivações. A verdade nem sempre é uma só. Por isso não dá pra julgar nenhum dos dois lados.
Em resumo, esse premiado longa francês é uma história de investigação criminal que vai muito além disso. É um filme pra quem gosta de histórias reais, com pessoas reais, sem maniqueísmos. Se você procura algo preto no branco, não vai encontrar aqui.
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