Mergulho Noturno chega aos cinemas brasileiros dia 18 de janeiro, inaugurando os lançamentos de terror do ano. A nova aposta da Universal Pictures, com produção da Blumhouse e James Wan, tinha tudo pra ser um excelente filme, principalmente se analisarmos o longo histórico dos produtores. Porém, nem só de expectativa vive o homem e o mergulho acabou acontecendo no raso mesmo. É até de se questionar onde estaria a criatividade e inventividade que já nos entregou tantas obras incríveis do gênero.
Entre a Tensão e o Lugar-Comum
Mergulho Noturno conta a história de Ray, interpretado por Wyatt Russell, um ex-jogador de beisebol que se muda para uma nova casa com sua família. A presença de uma bela piscina na propriedade acaba sendo de grande ajuda em suas sessões de fisioterapia. No entanto, o que Ray e sua família nunca poderiam imaginar é que o local de lazer escondia um passado sombrio, lançando-os em um abismo de terror absoluto. Sim, até a sinopse é clichê.
O longa é baseado em um curta-metragem de 2014 que já não era tão genial assim, mas que apresentava uma mística que poderia ser explorada de formas mais inovadoras. Havia, sim, possibilidades para uma narrativa que saísse, mesmo que minimamente, do escopo da casa mal-assombrada. E, o que mais me choca é que o vislumbre de uma nova mitologia existe no filme, mas é apresentado de forma tão apressada que mais pareciam ter vergonha de estar saindo da caixinha.
Mas, apesar do lugar comum, os dois primeiros atos são muito bons em construir uma tensão. A iminência de perigo funciona e cria uma apreensão muito bem-vinda. As situações e até mesmo as decisões tomadas pelos personagens não parecem absurdas, como já vistas em tantas obras de terror e suspense. Quando paramos para pensar no que faríamos naquela determinada situação, acabamos chegando à conclusão de que, provavelmente, não faríamos diferente. Claro que ainda há os eternos questionamentos como “Por que não acender as luzes?” ou “Claramente não existe nada de onde está vindo esse barulho. Por que não correr?”.
Já o terceiro ato é um grande amontoado de clichês de filmes de possessão/assombração. Tudo o que você já viu condensado em uma narrativa até confusa, principalmente se pararmos para pensar no final. Embora eu ache que essa confusão seja proposital. Principalmente se levarmos em conta como o cinema de franquias funciona hoje. Se for meramente bom, as chances de uma sequência certamente são altíssimas.
Mergulho Noturno em Personagens Rasos
Mergulho Noturno nos apresenta uma família tradicional americana. E nada muito além disso. Não há um passado mal resolvido ou que precise ser revisitado em qualquer um dos personagens. Deixando toda falta de profundidade para ser explorada nos acontecimentos conseguintes. Sim, há um flashback, que é reprisado algumas vezes, que possui o único intuito de mostrar ao espectador que o protagonista sente falta de sua época de glória.
Kerry Condon, que interpreta a esposa de Ray, Eve, não tem muito o que fazer, sendo um suporte emocional para que Ray não desmorone. Seus filhos Elliot e Izzy, interpretados por Gavin Warren e Amélie Hoeferle, respectivamente, estão ali para serem as principais testemunhas dos acontecimentos sobrenaturais que acontecem na piscina. Em outras palavras, o filme precisa de personagens para assustar. E, já que estamos falando de sustos, devo mencionar que Mergulho Noturno tem uma quantidade até balanceada de jumpscares, que, infelizmente, não funcionam.
É muito comum se deparar com obras que dependem, incondicionalmente, do uso de jumpscares. Que, na maioria das vezes, acaba sendo uma muleta para histórias mal contadas ou desprovidas de qualidade. Enquanto um jumpscare utilizado de forma correta e eficaz pode somar para que uma obra chegue ao status máximo de aceitação, o mal uso do recurso pode não só arruinar a tensão construída no filme, como reduzi-lo a um filme bobo de sustos. Por pouco, Mergulho Noturno não está nessa última opção.
O Debut de Bryce McGuire em Mergulho Noturno
Mergulho Noturno é o longa de estreia de Bryce McGuire. E posso dizer que é um dos pontos positivos do filme. A forma como ele utiliza a movimentação de câmera como auxílio para construir tensão é ótima. A utilização da água como elemento de transição ou elo entre cenas ajuda na ideia de que existe uma mitologia em torno do elemento principal, a piscina. Mesmo que essa mitologia acabe não sendo tão explorada, o imaginário já está criado.
Mergulho no Convencional
Apesar dos méritos na direção de Bryce McGuire, que consegue criar momentos visualmente atrativos, a ausência de ousadia na construção da narrativa e a dependência excessiva de sustos fáceis comprometem a experiência do espectador. A falta de aprofundamento nos personagens também contribui para a sensação de superficialidade, com uma família tradicional americana apresentada sem nuances ou camadas.
Com isso, Mergulho Noturno é a típica obra que parte de uma ideia interessante e com potencial para trazer algo além do convencional, mas que acaba esbarrando nas barreiras invisíveis do senso comum. Perdendo, assim, a oportunidade de fugir do óbvio e oferecer algo mais substancial. No fim, o mergulho acabou sendo em uma piscina infantil.
Mergulho Noturno estreia dia 18 de janeiro, somente nos cinemas
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