Barbie é dos filmes mais aguardados de 2023. Em um ano de vários fracassos como Indiana Jones e The Flash, Barbie parece estar na contramão de tudo, com um trabalho pesado de marketing, campanha em diversos veículos de mídia e uma legião de fãs, a cor de rosa da boneca mais famosa do mundo parece dominar tudo.
O filme é dirigido, escrito, produzido por Greta Gerwig (Lady Bird e Adoráveis Mulheres) e o roteiro também foi escrito por Noah Baumbach, diretor do longa História de Um Casamento e marido da Greta na vida real.
Na trama, Margot Robbie vive uma das versões da boneca, a “Barbie Estereotipada” em sua terra chamada “Barbielândia”, local onde tudo é perfeito, colorido e as bonecas Barbie dominam tudo no lugar dos bonecos Ken. Quando ela começa a ter pensamentos ruins e problemas no corpo, descobre que o único jeito de reverter é ir para o mundo real e conhecer a garota que a conecta, mas nem tudo dá certo em nenhum dos mundos, seja no real ou no da Barbie.
Desde 2009 corria o boato em Hollywood sobre um filme da Barbie, com diversos roteiros, diversas mãos envolvidas e até estúdios diferentes como a Universal, a Sony e até rumores de que Anne Hathaway faria a famosa boneca. Quando a Warner Bros finalmente deu o sinal verde para a produção, em 2018, começaram a sair várias notícias sobre possíveis nomes de elenco e de que como seria o roteiro.
Sem contar que o último longa que era uma adaptação de uma linha de bonecas era o péssimo Bratz – O Filme, que foi um fracasso de público e crítica.
De início, Gal Gadot interpretaria a Barbie, mas quem assume o papel é a sempre ótima Margot Robbie, que também é uma das produtoras do longa. O igualmente ótimo Ryan Gosling interpreta o Ken principal. A química deles é inegável e mesmo com a diferença na abordagem da trama, ambos se encaixaram como uma luva.
Margot é o retrato de alguém “perfeito”, que idealiza um mundo sem defeitos e que vai lutar pela liderança feminina, mesmo descobrindo que sua existência pode não causar um bom efeito em todos. Ryan é o legítimo homem cis que descobre um mundo de patriarcado e privilégios apenas por ser do gênero masculino.
Mas o longa não se resume apenas ao casal principal, há um forte elenco de apoio com nomes como Emma Mackey (da série Sex Education, que muitos dizem ser a sósia da Margot), Michael Cera, Will Ferrell como o CEO da Mattel, John Cena, Simu Liu, a cantora Dua Lipa como a Barbie Sereia, Kate McKinnon, Emerald Fennell, Issa Rae, Helen Mirren como a narradora e até Ruth Handler, a criadora da Barbie em 1959, faz algumas pontas por aqui. Até Saoirse Ronan, protagonista de Lady Bird e Adoráveis Mulheres, participaria do longa, mas não pôde por conflitos de agenda.
A produção é caprichadíssima, tem alguns efeitos mais “cartunescos” propositalmente. O desenho de produção da Sarah Greenwood é muito bem-acabado, bem como o figurino de Jacqueline Durran, figurinista vencedora do Oscar por Anna Karerina, Adoráveis Mulheres e não há de duvidar de indicações ao Oscar nessas categorias, assim como sua bela cinematografia de Rodrigo Prieto, indicado ao Oscar por O Irlandês e O Segredo de Brokeback Mountain.
Outro grande charme de Barbie é a sua parte musical, tanto a trilha incidental de Mark Ronson e Andrew Wyatt (vencedores do Oscar pela música Shallow, de Nasce Uma Estrela, tanto nas músicas apresentadas como Barbie Girl, Girls Just Want To Have Fun, Spice Up Your Life, só para citar algumas.
E além de um grande elenco, boa direção e técnica competente, o que faz deste longa um produto especial e único é o seu maravilhoso roteiro. Para quem passa despercebido, pode achar que se trata de uma trama infantil e descartável, mas vai além de personagens fofos e carismáticos.
Além da excelente cena de abertura sendo uma clara referência a 2001 – Uma Odisseia no Espaço, há também momentos inspirados em Matrix, O Poderoso Chefão, entre outros.
Mas o roteiro da greta e Noah não se limita apenas às referências aos clássicos, mas também para as alegorias, metáforas e críticas sobre o mundo real. e em se tratando de um produto também voltado para o público infantil, a mensagem passada é muito positiva, importante e por ser um longa que pode ser da vida e infância de muitos, pode inspirar uma geração a pensar a vida de um outro prisma e fora da caixa.
Há críticas para as grandes corporações como as próprias Mattel e Warner, metáforas sobre a soberba humana, comportamento, lavagem cerebral e, claro, críticas ao machismo, patriarcado e de como a mulher foi tratada por séculos. E como estamos falando sobre uma adaptação de brinquedos, a ideia é ser estereotipado, exagerado e até ridículo de jogar a realidade para quem não quer ouvir.
Barbie é o filme certo, na hora certa e quase perfeito: usa de brinquedos para criticar o mundo real, o comportamento humano, tem uma parte técnica de encher os olhos e com grandes nomes em todas as áreas. Precisa de mais?
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