“Ana Sem Título” é dirigido e escrito por Lúcia Murat, tem um clima quase documental, mas estamos diante de uma história de ficção. A cineasta se inspirou em muita coisa real de sua vida e em outras obras, como a peça Há Mais Futuro Que Passado de Clarisse Zarvos, Daniele Avila Small e Mariana Barcelos.
Alguns assuntos como nazismo, segregação e ditadura constantemente voltam à pauta na mídia e por mais que tudo isso possa parecer batido (ou deveria ser), sempre acabamos descobrindo algo novo sobre esses períodos sombrios da história.
Com a volta do conservadorismo nos últimos anos (com alguns pedindo o seu retorno), trazer esses assuntos de volta acaba se tornando fundamental para que a sociedade possa aprender com o presente com os erros do passado.
Sendo assim, não é exagero dizer seja um filme que brasileiros e latinos em geral deveriam descobrir para entender o que acontece em nosso quintal.
Sobre o que fala Ana Sem Título?
“Ana Sem Título” conta a história de Stela, uma atriz brasileira, que resolve fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas entre os anos 1970 e 80. Ela viaja para o México, Cuba, Chile e Argentina para procurar seus trabalhos, depoimentos e relatos sobre o que elas passaram na ditadura desses países.
Stela acaba descobrindo a existência de Ana, uma brasileira que pertenceu a este mundo, mas que desapareceu em um Brasil tomado pela ditadura militar. Stela se torna obcecada pela personagem e tenta descobrir o que ocorreu com a Ana.
Ao contrário de alguns filmes sobre a ditadura aqui no Brasil, como O Que É Isso Companheiro ou o recente Marighella, o foco aqui não é o conflito armado. O foco est[a em mostrar o que as mulheres passaram pelas ditaduras afora. Até porque o filme nem tinha orçamento para uma luta grandiosa, mas a diretora driblou a falta de recursos com um bom roteiro, depoimentos e a história de vida de cada uma dessas mulheres.
É uma obra bibliográfica?
É importante deixar claro que essa Ana do título nunca existiu! Mas que foi a saída da diretora para representar diversas mulheres silenciadas em períodos ditatoriais.
O filme começou a ser filmado em 2018 em São Paulo, na mesma época que estava acontecendo a exposição Mulheres Radicais, na Pinacoteca. As gravações nos outros países ocorreram no ano seguinte.
Há um grande trabalho de pesquisa sobre a memória dessas mulheres que lutaram contra a repressão. Mas é injusto colocar o mérito do filme apenas na diretora. A atriz Stella Rabello faz um trabalho muito interessante, não apenas de atuação, mas entender sua personagem e o que ela representa na vida das famílias das vítimas. O resultado é um trabalho contido e que trabalha mais a razão do que a emoção.
“Ana Sem Título” é um bom filme e, embora não seja memorável, conta uma história pouco conhecida de mulheres que precisam de voz. Provavelmente deve ficar relegado ao circuito alternativo e festivais
E esse é o momento certo para fazer isso.
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