O novo filme de Shyamalan, Tempo, chega aos cinemas com muito alarde e expectativa, sobretudo pela premissa muito interessante e trailer arrebatador. Não se trata de uma história original do diretor, mas de uma adaptação da HQ francesa Castelo de Areia, de Frederik Peeters e do documentarista Oscar Lévy.
Não é preciso muitas tomadas de um filme ou série para descobrir que estamos diante de uma obra do M. Night Shyamalan. O diretor e roteirista, se tornou conhecido mundialmente no final dos anos 90 com o sucesso de O Sexto Sentido, ganhou um estilo próprio que ganhou fãs no mundo inteiro. Mas também não é difícil encontrar quem não goste dele. Esse comportamento, digamos, polêmico de Shyamalan gerou grandes obras positivas como Corpo Fechado ou Fragmentado. Mas também algumas pérolas como Fim dos Tempos e A Dama na Água.
Shyamalan comprou os direitos da HQ e logo se mexeu para adaptá-la às telonas, que estava previsto para estrear em fevereiro de 2021.
O Enredo de Tempo de Shyamalan
A história, que poderia ser um episódio de Além da Imaginação ou até de Black Mirror, fala sobre de uma família que vai passar as férias em um resort e passar um tempo em uma ilha aparentemente deserta. Eles dividem o espaço da ilha com outra família, mas o que eles não sabiam é que é impossível sair dessa ilha. E mais que isso, quem fica lá acaba envelhecendo 1 ano de vida a cada meia hora.
Conforme o filme passa, o terror aumenta nos personagens e no público. É uma situação desesperadora onde a única saída parece ser o envelhecimento e a morte.
Eles tentam de tudo: nadar, escalar e até ligar para algum parente. Nada funciona. O tempo passa e até o comportamento de pessoas supostamente civilizadas começa a mudar. Sobretudo os patriarcas das duas famílias, Guy (Gael Garcia Bernal), Charles (Rufus Sewell) e este último começa a apresentar um comportamento mais violento.
O filme trabalha muito bem a tensão proposta, leva o público a torcer pelos personagens, principalmente quando a obra explora o psicológico, existencialismo e motivações de todos em tela.
Como estamos falando de obra com o foco no envelhecimento, o filme também trabalha no sentimento das crianças em crescerem sem terem passado o que uma pessoa “normal” passaria e as metáforas do crescimento precoce. E quem acompanha o trabalho de Shyamalan, sabe que seus filmes e séries têm o foco forte nas crianças.
O velho Shyamalan
Há muito das manias do diretor em Tempo e isso é um lado positivo e negativo, pois além dos fatores citados acima, também há o fato do exagero na câmera, nos closes do rosto e por mais que o elenco se esforce, fica a impressão de que o diretor queira aparecer mais do que os atores, sobretudo nas tomadas maiores da ilha.
Sem contar que ele se sai muito melhor em filmes de baixo orçamento e se perde em filmes de alto orçamento. OK, Tempo não é nenhum blockbuster, mas as cenas em que o CGI é evidente, principalmente nas mais violentas, o resultado é vergonhoso e o risco de ficar datado logo é alto.
E como um legítimo filme de Shyamalan, este aqui tem um plot twist gigante em seu desfecho, aquele momento em que o espectador jamais esperava, mas que discutirá por semanas. O desfecho é bastante surpreendente, positivo e sim, vai surpreender quem assiste ao filme.
Tempo não está entre os grandes filmes de M. Night Shyamalan, mas está longe das bombas que o diretor já fez. Tem uma ideia inacreditável, o primeiro e o terceiro ato são muito bem realizados, mas com problemas evidentes em seu desenvolvimento. Fãs do diretor não vão se decepcionar e para quem não conhece seu estilo, tudo o que pode ser dito aqui é boa sorte.
E reparem na ponta do diretor, logo no início, como o motorista da van.
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