Elas em jogo: as personagens da minha vida | Parte I

Garotas e videogames: nós sempre estivemos aqui. Jogando. E vamos continuar crescendo. Não para tomar espaço, mas para fazer parte.

Esses dias, enquanto assistia a um conteúdo sobre localização de videogames, me deparei com a seguinte frase: “Hoje em dia, o mundo dos jogos não é mais só para os homens”. 

E alguma vez foi?

Tive o privilégio de crescer rodeada por pessoas que não acreditavam nisso. Caçula que sou, tive meu irmão mais velho e minha irmã, além de meus primos, para me iniciarem no mundo dos videogames com os jogos de Master System II e Mega Drive. E, junto com as tias, aprender que o Windows tinha muitos joguinhos escondidos no DOS (jogos do Mickey, jogos de criar histórias, DOOM…) além daqueles na pastinha jogos (Lander, Rattle Race, Bang! Bang!, Pipe Dream, Ski Free, Campo Minado, Rodent’s Revenge, Bow and Arrow, Paciência…).

E as visitas ao escritório do meu pai, com direito a ficar assistindo as aventuras do desafortunado náufrago no screensaver Johnny Castaway e a jogar o joguinho da maçã no excel? Revistas do CD-ROM cheias de demos e versões gratuitas de jogos, as coleções da Folha com jogos como Criatura Crunch, um dos meus point & clicks favoritos até hoje, e dezenas de outros jogos para PC com os quais meu pai nos mimava.

Anos depois, ganhamos um Super Nintendo de natal do meu pai. Comprávamos fitas piratas e passamos dias com o videogame ligado para não perder o save. Então migramos para o PS1, seguindo para o PS2… até que a situação financeira apertou e eu me contentei com o PC e suas infinitas possibilidades – que permanece meu favorito até hoje. 

Cunhado. Namorados. Amigas. Faculdade. Minha vida foi cercada por pessoas que não só compartilhavam da paixão pelos jogos, mas que me incentivaram e me apresentaram jogos incríveis, como Kingdom Hearts, Ragnarok, Until Dawn… E até a novas formas de me divertir com os jogos, como assistir a gameplays e streams.

Mas a vida é level hard, e temos muitos outros desafios a serem enfrentados.

Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer e que ganhar nosso espaço não é fácil – o preconceito e sexismo existem, muito fortes, na comunidade gamer. Vemos exemplos disso diariamente, vivo situações frustrantes no meio, mas não é sobre isso que vou falar neste post, pois o assunto já foi mencionado em alguns de meus posts anteriores, e pretendo fazer mais posts dedicados sobre isso futuramente.

Apesar de minha indignação e de não aceitar diversos posicionamentos e desigualdades da comunidade e querer fazer parte da parcela que faz algo para que essa realidade mude, quero destacar aqui como, apesar de talvez outras condições impedirem, nós sempre estivemos aqui. Jogando. E vamos continuar crescendo. Não para tomar espaço, mas para fazer parte. É muito gratificante ver como crescemos na comunidade, e a preocupação de diversos estúdios em trazer cada vez mais jogos que nos representem de forma cada vez mais humana e representativa, e não para idealizar fantasias masculinas.

Com isso em mente, quero dar espaço aqui para enaltecer as personagens femininas que fizeram – e ainda fazem – parte da minha vida, que sempre me ajudaram a me sentir bem-vinda no universo dos jogos, mesmo que não da maneira ou representação ideal. Personagens que me ensinaram que garotas, mulheres, podem ser protagonistas – ou roubar a cena!

1. Mônica, em Mônica no Castelo do Dragão (Master System)

Não é só atualmente, lacrando nas redes sociais, que Mônica nos mostra sua força (he he!). Além de sua presença marcante e protagonismo nos gibis, Mônica também fez história no Master System, no jogo Mônica no Castelo do Dragão. O jogo, lançado em 91, é uma versão modificada do jogo Wonder Boy in Monster Land e foi um grande sucesso, tendo sua continuação (Turma da Mônica em O Resgate) e um remake para Mega Drive (Turma da Mônica na Terra dos Monstros). A aventura também ganhou uma versão em história em quadrinhos!

O jogo também acompanhou o lançamento do Master System Girl, a versão compacta e rosa (é, eu sei…) do console. Inicialmente, a versão rosinha vinha apenas com o jogo da Mônica, e depois começou a ser vendida também com o jogo do Sonic.

Era incrível pra mim não só ver uma garota na tela, mas A garota. Eu sempre fui fã da turminha, e poder dar coelhadas a torto e a direito vestindo botinhas rosas (foi mal, é minha cor favorita) era tudo pra mim. Sonho em ter as botas rosas da Mônica até hoje. Me julguem.


2. Dixie Kong, em Donkey Kong Country 3: Dixie Kong’s Double Trouble! (Super Nintendo)

Eu sei, eu sei, o rosa para meninas e azul para meninos novamente. Mas Dixie Kong não era só a cor de suas roupas: a macaquinha astuta tinha seu nome no próprio título do jogo!

Ela era ágil, correndo sempre em frente em para cumprir seus objetivos, encarando qualquer desafio: seja pular na cabeça de um jacaré, voar de um lugar para o outro para pegar um bônus, andar de elefante, escapar de chefões gigantes, pilotar barco…. ufa! E tudo isso enquanto protegia Kiddy Kong, seu “pequeno” priminho.

Talvez a maior ligação que eu sinta com Dixie é justamente essa: ela representar a força, agilidade e resiliência da dupla. Ela carrega até o priminho nas costas, se for necessário! Como eu jogava muito com meus irmãos, enxergava muito da minha irmã em Dixie. Por isso vê-la ali, em ação, desde cedo, foi muito importante para mim.


3. Lara Croft, em Tomb Raider (PC, PlayStation, Xbox)

Outro jogo que eu jogava muito, e com minha irmã. Descobri a franquia em uma das demos da Revista do CD-ROM e, quando tivemos nosso PS1, jogamos e zeramos todos os cinco disponíveis para o console.

Explorando florestas pixeladas, metendo bala desde tigres até dinossauros, fugindo de armadilhas em templos e dando piruetas para escapar de todo o tipo de perigo que você possa imaginar – até de seu mordomo assustador, gente, como eu morria de medo dele me seguindo pela mansão! E a culpa de prendê-lo no freezer? Não sabia o que era pior.

Lara Croft é uma grande representação quando falamos sobre a influência do feminismo nos jogos digitais. Tem um artigo muito bacana que fala mais sobre o assunto e ilustra, de forma bem didática, o papel, a trajetória e a importância de Lara Croft nessa jornada. Vou colocar um trecho a seguir e, se tiverem interesse em conferir o restante, é só acessar o artigo clicando aqui.

Nos últimos anos vem sendo possível observar certas mudanças na indústria do entretenimento relacionadas às representações de identidade feminina nos games. Historicamente relegadas a um papel secundário ou passivo nas narrativas dos games, as mulheres, quando não representadas de forma frágil, acabam sendo representadas de maneira hiperssexualizada, explorando as curvaturas e os volumes do corpo numa intensidade quase caricata.

Diante disso, parcelas do movimento feminista vêm propagando críticas a este tipo de representação, que contribui para a reprodução de preconceitos machistas sobre o lugar da mulher na sociedade. Tais críticas parecem estar surtindo efeito, dada as mudanças que vem ocorrendo na representação gráfica corporal de algumas personagens femininas nos games. Para ilustrar o sentido dessas mudanças, faremos uma breve análise gráfica da representação corporal da personagem Lara Croft, da franquia de games Tomb Raider.

Percebemos, ao longo do tempo, significativas alterações tanto nas formas do corpo quanto na indumentária da personagem em questão. Enxergamos em tais mudanças a influência de discursos feministas que propõem representações alternativas da mulher nos games.

– A INFLUÊNCIA DO FEMINISMO NOS GAMES: UM ESTUDO DE CASO COM A PERSONAGEM LARA CROFT.

4. “Regina”, em Dino Crisis – ou o Redint Evil de Dinossauros (PS1)

Lançado em 99, para mim, o jogo é um dos grandes clássicos de survival horror. Joguei muito mais Dino Crisis do que Resident Evil, e é um jogo que, até pouco tempo, eu ainda baixava em emuladores para jogar. E não perdeu a graça!

Regina, como os jogadores a conhecem, é a dona da p**** toda nesse jogo. Ela e dois companheiros de sua equipe (SORT) chegam para lidar com os dinos, mas ela é constantemente deixada sozinha para resolver tudo, e dá conta do recado, além de (quase) sempre salvar a pele dos amigos enquanto resolve diversos puzzles e mete bala em todo tipo de lagartão e lagartinhos.

Regina me ajudou a superar alguns medos, como o de jogar videogames de terror sozinha. Era muito reconfortante poder confiar nela para lidar com qualquer tipo de ameaça que aparecesse em seu caminho.

Os fãs da franquia sonham até hoje com novos lançamentos, mas por enquanto temos que nos contentar com remakes fanmade e com a promessa do “sucessor espiritual” de Dino Crisis: o jogo, chamado Instinction, será lançado no próximo ano pela Hashbane Interactive.


Essas 4 mulheronas são apenas a Parte 1 dessa lista, que só aumenta até os dias de hoje. Recentemente, por exemplo, com o recente anúncio e lançamento do trailer de Life is Strange: True Colors, novo jogo da franquia que traz uma personagem feminina, e tantos outros que ainda estão para ser lançados. Em breve, a Parte II aparecerá neste mesmo Universo. 😉

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Nerd: Evelyn Trippo

I just have a lot of feelings, e urgência em expressá-los. Tradutora (formação e profissão), aspirante a escritora e estudante de projetos em games. Pára-raio de nerds, exploradora de prateleiras em sebos e uma orgulhosa crazy pet lady.

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