Sempre achei muito curioso o modo como certos livros vem parar em minhas mãos. O momento de vida, e como ele possibilita que eu os leia e os interprete. E, com Os 13 Porquês, mais uma vez essas coincidências aconteceram, de um modo delicioso que me conecta ainda mais com a história. E qual é a história?
A trágica história de Hannah Becker. A garota que se suicidou, deixando uma lista para trás. Uma lista de 13 motivos, uma lista de 13 “culpados”. 13 mensagens que mudarão vidas para sempre, incluindo a de Clay Jensen, nosso segundo narrador, além de Hannah. Dias depois de receber a notícia do suicídio da garota de quem gostava, ele também recebe em sua casa um pacote, uma caixa de sapatos contendo 7 fitas cassetes, com cada lado marcado por um número, do 1 ao 13. E, assim como eu não consegui parar até ler além dos 13 motivos, Clay passa a noite em claro tentando entender qual era sua parcela de culpa na terrível lista de Hannah, para descobrir como ajudou a formar a bola de neve que levou-a até a decisão final e impossível de ser desfeita.
A narrativa e certas situações do enredo são bem adolescentes, mas isso não torna a leitura fraca e desinteressante. Pelo contrário, situa você melhor no universo dos personagens, suas emoções em cada situação, muitas tão corriqueiras em filmes de comédia sobre a vida colegial que chega a ser pesado identificá-las como causadoras de um final tão triste. Não é um livro sobre bullying e suas lições de moral, mas sobre como a forma que tratamos as pessoas, mesmo sem perceber, as afetam. Ou sobre como encaramos as coisas que fazem conosco, como lidamos com nossos medos, nossos traumas, nossas dúvidas e desesperos. O fato de acontecer com uma adolescente não torna a história infantil, mas ainda mais real, porque todos nós já passamos por algo do tipo, seja qual for a perspectiva.
Sempre costumo trazer vários aspectos da minha vida quando faço a resenha de um livro, procurando sempre, inevitavelmente, me conectar com as personagens, a história. Mas me recuso a fazer isso com Os 13 Porquês. Em primeiro lugar, para respeitar a única história de Hannah. Em segundo, porque a história de Hannah é a história de 99% dos adolescentes que conheço e já conheci, inclusive a minha. E eu não vou cutucar essa onça em nossas vidas nem com uma vara de 23 metros. Eu e você, durante a leitura, podemos ler algo que nos faça lembrar de alguma outra história que aconteceu conosco ou com pessoas que conhecemos. É inevitável, curioso e amargo. Como o autor diz num “Perguntas e Respostas” nas páginas finais, uma leitora disse a ele que o livro a fez sentir vontade de ser a melhor pessoa do mundo. E, junto com esse sentimento, vem aquele de que, alguma vez em nossas vidas, já fomos a pior pessoa do mundo. Sendo emissores, receptores ou expectadores do mal causado a alguém, intencionalmente ou não. E todos esses assuntos são delicados e pessoais demais, valores intransferíveis, mas universais. Não preciso falar quais foram os sentimentos sentidos ao ler a história de Hannah, pois quem a ler, os sentirá também.
Como falei lá em cima, o modo como li a história foi crucial! Comprei o livro ontem, e vim lendo na carona até o metrô. Depois, li do metrô até o meu destino. E li até pouco antes da hora de dormir. Acordei e fui lendo no caminho para a faculdade, parando só pra comprar um café. Voltei da faculdade lendo, e terminei quando cheguei em casa. O livro servia como os fones de ouvido de Clay, me isolando do resto do mundo enquanto fazia meus trajetos, querendo resolver aquele mistério junto com ele, me emocionando com cada dor de Hannah. Adoro quando algo bate com o jeito dos personagens nas páginas. Por menos de 24h estive na pele de Clay, andando pelos ônibus, pelo metrô, pela cidade, sem conseguir abandonar o relato de Hannah, sem conseguir me desprender, sem conseguir deixar de fazer parte. Gostei muito do formado do livro, menor e ajeitadinho. A capa é linda, melhor até do que a original. A única coisa que não curti foi como colocaram o mapa no livro. Nas contra-capas (é esse mesmo o nome?!). Cortou no meio e “dificultou” uma visualização por inteiro, mais real, ainda mais por ser estilho “batalha naval”. Poderiam ter pensado em uma apresentação melhor. De resto, tudo perfeito!
Fica aí a dica de mais um livro envolvente e com uma mensagem triste, porém válida. E que pode ajudar muita gente na mesma situação. Falando nisso, como eu disse, no final do livro tem “13 Porquês (nas entrelinhas) – 13 Perguntas para Jay Asher”, onde o autor explica melhor sobre o processo de criação e execução da obra, e sobre a mensagem do livro, o que ele espera dela e a repercussão. Achei muito, muito legal isso fazer parte do livro, normalmente esses “extras” não são traduzidos para a nossa versão. Ajuda pra caramba a completar o propósito do livro! E, na última página, tem “Telefones e Endereços Úteis”, “caso você se identifique com os sintomas de Hannah Becker e precise de ajuda”. Uau, que trabalho dedicado! Cumprindo o objetivo até nos mínimos detalhes!
Procurei informações sobre algum filme inspirado no livro, mas as únicas notícias que achei datam de 2011, apontando que o filme seria feito, estrelando Selena Gomez como Hannah. ………………………………… …. ……………………. ….. Vou guardar minha opinião. E algumas suposições de que o filme seria lançado esse ano, mas não encontrei nada falando sequer sobre a produção do filme, só em um lugar falando que as filmagens começariam em outubro do ano passado, mas parece que não. A única coisa que encontrei que parece ser mais concreta é uma entrevista com a Selena Gomez, falando que o filme está sendo deixado em off, mas por uma boa razão. Que por ser um livro tão incrível e com uma mensagem tão forte, querem fazer isso de forma perfeita. Faz sentido, se você pensar em como deve trabalhar isso as forma correta, para ajudar ao invés de passar algum incentivo equivocado para adolescentes pelo mundo inteiro.
Uma experiência maravilhosa. Curta e intensa. Do jeito que alguns dos livros mais marcantes são!