Imagine um livro que acontece inteiro em um ambiente só e que a personagem fica com a família presa em uma casa esperando o perigo passar lá fora. O diário de Anne Frank foi escrito entre 12 de junho de 1942 e 1 de agosto de 1944, mas foi só nessa quarentena que a angústia de ficar em casa me trouxe uma pequena amostra dos sentimentos tão profundos dessa personagem.
Pandemia não é guerra
Não estou comparando o Coronavírus com a Segunda Guerra Mundial. Podemos sair em janelas, quintais e varandas. Podemos tomar sol, podemos ligar para as pessoas que amamos, podemos caminhar ao ar livre sem aglomerações, temos comida adequada e disponível em abundância. Temos até internet! Não, não é tão ruim quanto uma guerra.
Mas também temos muitos pontos em comum com a situação vivida por Anne no livro; estamos esperando dentro de casa que a coisa melhore lá fora e a ameaça vá embora. Temos esperança que um dia finalmente poderemos sair e tudo será como era antes. Exatamente como queria a Anne e a sua família.
No caso dos judeus, muitos nunca voltaram à vida normal, porque foram pegos antes da guerra acabar. No nosso caso não existe um grupo a ser morto. É a loteria da imunidade. Os médicos dizem na TV que é perigoso para os mais velhos, mas vemos jovens morrerem pelo novo vírus todos os dias. Porém, de novo, nós não estamos na segunda guerra. Nós aqui somos livres para abrir as portas e sair de casa a qualquer momento. Mas ao mesmo tempo sabemos que vamos perder muitas vidas se sairmos. De um jeito ou de outro, seguimos presos.
Um livro sobre a esperança de dias melhores
Voltando ao livro, quem já leu esse diário sabe que ele tem muito a oferecer. Não só pela temática da Segunda Guerra, mas também pelo relato impressionante das atrocidades cometidas contra os judeus e por ser a triste saga de uma menina que acaba morta pelos nazistas. Isso todos sabem antes mesmo de começar a ler o livro, afinal é um fato histórico e eu não estou estragando uma surpresa. Para mim, este diário antes de tudo é um livro sobre a esperança, a rotina, os valores humanos e a claustrofobia.
A obra toda é um longo depoimento de Anne Frank.
Anne foi morar clandestinamente no sótão da antiga fábrica de seu pai, Otto Frank, com a família e outras quatro pessoas. Alguns funcionários os ajudaram a permanecer escondidos. Os únicos momentos em que ela pode sair do sótão onde está escondida em Amsterdã é quando ela se transporta em memória e pensamento para sua antiga vida e lembra como eram as coisas. Nesse diário ela conta como são os dias, a pequena rotina, narra os sentimentos dela e as pequenas alegrias que a menina judia consegue ter no confinamento. Anne e a família tentam sobreviver ao Holocausto mas são pegos quase no final da guerra.
Uma leitura boa ajuda a ocupar o tempo
Mesmo que você comece a ler esse livro já sabendo do final, ele vale – e muito – seu tempo. É um dos livros mais lidos do mundo e uma importante obra documental do século XX. É um livro para ajudar a repensar a vida! Uma boa sugestão para você que, como eu, está de quarentena.
Fica em casa e boa leitura!