Susanna Lira é cineasta e pós-graduada em Direito Internacional e Direitos Humanos. Você deve estar se perguntando porque essa informação é relevante, certo? Porque a cineasta tem em seu portfólio maior parte de seus filmes com cunho social, político e sobre diretos humanos. Em 2018, por exemplo, fez a direção e criação da série “Rotas do ódio” para a Universal/ NBC. Entre seus filmes de maior destaque estão: Clara Estrela (2017); Intolerância.doc (2016); Mataram Nossos Filhos (2016); Levante! (2015); Damas do Samba (2015); Porque Temos Esperança (2014); Uma Visita Para Elizabeth Teixeira (2011); Positivas (2010); Contracena (2009); Câmera, close! (2005).
Pois bem, hoje estreia o filme Torre das Donzelas que funciona como um documentário misturando cenas de reconstituição fictícia (como estamos acostumados a ver as dramatizações policiais em noticiários da televisão), onde suas silhuetas, sons, corpos, sombras, formam imagens e nuances que recriam sensações mas que, também reúne as mulheres que realmente foram presas na década de 70, durante a ditadura militar, detidas no Presídio Tiradentes, em São Paulo, e que conversam entre si e dão seus depoimentos para a câmera revivendo essa realidade.
Suzanna Lira conseguiu ir a fundo ao sentimento e nas sensações destas mulheres, alcançando um nível de realidade absurdo para quem assiste ao documentário. A “maquete gigante” se assim posso chamar a instalação construída em tamanho real para representar e resgatar o que elas viveram no presídio, conta minuciosamente os detalhes da história, onde os objetos de cena também se tornam protagonistas junto a cada palavra que elas contam.
Conhecido popularmente como Torre das Donzelas, o cárcere, é reconstituído em estúdio através das memórias compartilhadas pelas guerrilheiras e através deste desenho de suas memórias a produção do longa-metragem se empenha em criar uma instalação física que imita o presídio em que viveram onde o espectador é remetido à luta e resistência por liberdade e justiça exprimida por elas.
Torre das Donzelas reconstitui a prisão de mulheres durante a ditadura militar, uma delas, a ex-presidente Dilma Rousseff, que dá depoimentos, porém não se reúne com suas ex-companheiras de presídio, mas que as cenas unidas demonstram que esse filme vai além da narrativa histórica de censura e repressão desse período nacional dando uma perspectiva quase que real, onde muitas vezes pode-se sentir que se está lá.
Com relatos inéditos sobre a rotina de tortura, dúvidas sobre o amanhã, movimentos políticos e estudantis dos quais faziam parte e do dia a dia no local, estas mulheres choram, riem, demonstram que passaram por tudo aquilo, mas transcenderam a tudo isso. Ao final, saímos com um misto de sensações que vão de determinação à uma grande frustração por não se poder fazer nada a respeito a não ser lutar para que nada disso volte a ocorrer.
Vencedor dos prêmios de Melhor Direção de Documentário e Melhor Documentário pelos júris oficial e popular no Festival do Rio, de Melhor Filme pelo júri popular na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília,Torre das Donzelas também venceu diversos prêmios internacionais em 2018, entre eles: Menção Honrosa no Santiago Del Estero Film Fest e Melhor Documentário no Atlantidoc.
O filme faz parte do Selo ELAS, iniciativa da Elo Company que oferece mentoria com reconhecidas profissionais do mercado para projetos dirigidos por mulheres, como forma de ajudar a equilibrar a participação feminina no mercado audiovisual.
Torre das Donzelas se aventura entre gêneros: documentário experimental, psicodrama, reconstrução cênica (que lembra realmente um teatro, criando um ambiente quase como Dogville do cineasta Lars Von Trier que se usa do apoio de uma instalação de arte que se assemelha ao ambiente da prisão). Ao fim, o filme tem mensagem sobre não perder as estribeiras, encontrar um caminho quando se há motivações para seguir adiante e manter foco e determinação diante das adversidades, é uma grande antologia sobre a resistência e a força da mulher como se estivessem em um campo de batalha. De que adianta ser inocente, se a justiça da época lhe condena só por você se opor ao atual regime? De certa forma nos ensina o que não queremos que ocorra novamente com nosso país e retoma a reflexão ainda aos dias de hoje.
FICHA TÉCNICA Direção e roteiro: Susanna Lira Produção Executiva: Nuno Godolphim e Susanna Lira Equipe de Roteiro: Rodrigo Hinrichsen, Muriel Alves e Michel Carvalho Direção de Fotografia: Tiago Tambelli e Jorge Bernardo Direção de Arte: Glauce Queiroz Montagem: Célia Freitas e Paulo Mainhard Trilha Original: Flavia Tygel Som direto: George Saldanha e Tito Gomes Edição de Som e Mixagem: Bernardo Uzeda Colorização: Fernando Sequeira Coordenação de Pós: Tito Gomes Produção: Modo Operante Produções Co-produção: GNT e Canal Brasil Distribuição: ELO Company